31 de dezembro de 2005
E...
Mesa posta, falta chegar o povo.
O forninho aceso aquece a casa.
Estou contente:)
Feliz felizzzzzzzzzzzzzzzzzzzz Felizzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz 2006.
Feliz ano novo e assim
A única coisa verdadeiramente relevante na passagem do ano: atrasar os relógios um segundo.
O resto é simples: viver a vida às mãos cheias!
Prodígios e vertigens da analogia
Um pássaro voa sobre as montanhas. O seu piar solitário ecoa nos vales. Algures esse pio é escutado e respondido.
Os dois pássaros não se conhecem. Ignoram as cores da plumagem um do outro, desconhecem texturas, ultrapassam pormenores. Têm em comum o piar que faz a diferença. No mergulho vertiginoso abrem portas a si e aos outros. Não precisam de reconhecimento.
Mesmo assim, Zumbido: obrigado.
Feliz 2006
Um grande beijo para as moças, e um valente abraço aos rapazes.
30 de dezembro de 2005
A menstruação quando na cidade passava o ar
o ar. As raparigas respirando,
comendo figos - e a menstruação quando na cidade
corria o tempo pelo ar.
Eram cravos na neve. As raparigas
riam, gritavam - e as figueiras soprando de dentro
os figos, com seus pulmões de esponja
branca. E as raparigas
comiam cravos pelo ar.
E elas riam na neve e gritavam: era
o tempo da menstruação.
As maçãs resvalavam na casa.
Alguém falava: neve. A noite vinha
partir a cabeça das estátuas, e as maçãs
resvalavam no telhado - alguém
falava: sangue.
Na casa, elas riam - e a menstruação
corria pelas cavernas brancas das esponjas,
e partiam-se as cabeças das estátuas.
Cravos - era alguém que falava assim.
E as raparigas respirando, comendo
figos na neve.
Alguém falava: maçãs. E era o tempo.
O sangue escorria nos pescoços de granito,
a criança abatia a boca negra
sobre a neve nos figos - e elas gritavam
na sombra da casa.
Alguém falava: sangue, tempo.
As figueiras sopravam no ar que
corria, as máquinas amavam. E um peixe
percorrendo, como uma antiga palavra
sensível, a página desse amor.
E alguém falava: é a neve.
As raparigas riam dentro da menstruação,
comendo neve. As cabeças das
estátuas estavam cheias de cravos,
e as crianças abatiam a boca negra sobre
os gritos. A noite vinha pelo ar,
na sombra resvalavam as maçãs.
E era o tempo.
E elas riam no ar, comendo
a noite,
alimentando-se de figos e de neve.
E alguém falava: crianças.
E a menstruação escorria em silêncio -
na noite, na neve -
espremida das esponjas brancas, lá na noite
das raparigas
que riam na sombra da casa, resvalando,
comendo cravos. E alguém falava:
é um peixe percorrendo a página de um amor
antigo. E as raparigas
gritavam.
As vacas estão espreitando,
e nos focinhos consumia-se o lume em silêncio.
Pelas janelas os violinos
passavam pelo ar. E a menstruação nas raparigas
escorria pela sombra, e elas
gritavam e comiam areia. Alguém falava:
fogo. E as vacas passavam pelos violinos.
E as janelas em silêncio escorriam
o seu fogo. E as admiráveis
raparigas cantavam a sua canção, como
uma palavra antiga escorrendo
numa página pela neve,
coroada de figos. E no fogo as crianças
eram tocadas pelo tempo da menstruação.
Alimentavam-se apenas de figos e de areia.
E pelo tempo fora,
riam - e a neve cobria a sua página de tempo,
e as vacas resvalavam na sombra.
Em seu silêncio o seu lume escorria das esponjas.
Partiam-se as cabeças dos violinos.
As raparigas, cantando as suas crianças,
comiam figos.
A noite comia areia.
E eram cravos nas cavernas brancas.
Menstruação - falava alguém. O ar passava -
e pela noite, em silêncio,
a menstruação escorria pela neve.
Herberto Helder, A máquina lírica (1963)
A favor do galheteiro, saleiro e pimenteiro!
uma questão de falta de testículos
entra finalmente em vigor a portaria 24/05 que estabele que 'o azeite posto à disposição do consumidor final como tempero de prato, nos estabelecimentos de hotelaria, restauração e de restauração e bebidas, deve ser acondicionado em embalagens munidas de um sistema de abertura que perca a sua integridade após a primeira utilização e que não sejam passíveis de reutilização, ou que disponham de um sistema de protecção que não permita a sua reutilização após esgotamento do conteúdo original referenciado no rótulo'.
de acordo com as sábias cabeças pensantes de bruxelas e dos seus mimetizadores portugueses, o azeite servido em galheteiros não informa o consumidor sobre a real origem do produto nele contido, problema que se eliminará com as embalagens invioláveis.
retirando aquele pequeno pormenor de termos embalagens de azeite individuais ao estilo das existentes para a mostarda, maionese e ketchup (com um acréscimo monumental de desperdícios de material de embalagem, com o natural acréscimo de pagamentos para a sociedade do ponto verde, o acréscimo de resíduos no ambiente.... e acréscimos sucessivos por aí adiante), que fará com que comer um bacalhau cozido passará a ter quase garantidamente o búnus de um esguicho de azeite para a roupa do pobre do comensal, importa fazer uns pequenos considerandos sobre a razoabilidade desta nóvel portaria:
1. terá vantagens a utilização de embalagens não reutilizaveis e invioláveis?
não terá nenhuma vantagem prática e muitas desvantagens, a saber:
a) a muito maior quantidade de material de embalagem utilizado e o consequente aumento de lixo ambiental.
b) a dificuldade de utilização de uma embalagem individual com imensa gordura (e conquente menor atrito nos dedos) por parte dos utilizadores.
c) a óbvia falta de garantia de inviolabilidade das embalagens em garrafa de vidro com as denomidadas 'rolhas invioláveis' que toda a gente sabe que podem ser novamente utilizadas.
2. terá vantagens para o consumir saber a origem do produto utilizado?
teria. se soubesse. no entanto,
a) as embalagens de azeite são completamente omissas quanto à origem do azeite (a isso não são obrigadas), não imaginando o consumidor se aquele azeite vem de portugal, espanha, grécia ou tunísia... por muito que o rótulo seja de mais portuguesa das marcas.
b) mesmo o azeite de quinta que 'garante', por livre iniciativa do produtor (com exepção dos originários das poucas regiões protegidas mas auto-controladas), a origem da produção, é omisso quanto à qualidade (ou qualidades) da azeitona utilizada.
3. qual a vantagem desta nova lei?
nenhuma. absolutamente nenhuma.
o preço por litro do líquido contido dentro de cada embalagem, e por força desta, para a ser absolutamente exorbitante.
e nem a questão da higiene serve de desculpa:
se o problema é a higiene, fiscalizem os estabelecimentos que a legislação é farta e suficiente.
4. que razão levam os legisladores a legislar sobre esta matérias, nestas condições?
a falta de testículos !!!!
só produz leis destas quem não tem tomates para se coçar....
Ano Novo, recheado com todos os anos passados já.
Estamos e cada vez mais pesados, como diria o Herberto Hélder. As memórias cada vez mais estão presentes, os pedacinhos de tudo aquilo que vivemos, as vozes e afectos de pessoas que amámos e já não estão connosco. Esse sentir tão plenamente que todas essas histórias e gentes vivem unicamente através de nós, faz-nos um pouco frágeis, por vezes uma lágrima furtiva, um nó na garganta. A falta do abraço, do beijo e do sorriso da nossa mãe, do nosso pai ou de outros amados nossos. Toda a celebração implica a descoberta de uma sensibilidade muito particular. A nossa. Os nossos sentires.
Temos a magnífica responsabilidade de sermos felizes, por todas estas memórias únicas e nossas.
Este ano para mim foi de uma série de aprendizagens: o conseguir contornar "coisas más" , nomeadamente no ponto de vista profissional, e ter começado a conhecer a minha pequenina e enérgica Mariazinha Tubaroa. E 2005 foi um ano muito amável e carinhoso comigo. Fez-me descobrir excelentes amigos.Fez-me sentir feliz.
O que desejo em termos de 2006, continua a ser alegria e saúde para todos nós. (além das santas quecas,pois claro).
Que continuemos a construir este nosso imaginário repartido, a gostar-nos, a celebrar-nos.
Aos desaparecidos Gasel e Cereja, um especial abraço. Ai os algarvios!
E agora, foi o que me apeteceu escrever.
364 Dias Voaram
Ontem debatia com um amigo: Que se comemora afinal?
O fim de um ano ou o principio de outro? Ou o estarmos vivos? Aposto nesta última.
E intenções tipo, “este ano é que vou fazer isto ou mudar aquilo; deixar de fumar ou emagrecer”. Bullshit!
Mas todos o fazemos. Talvez precisemos.
E quanto à sensação do ano ter voado. Significa que foi bom, segundo a noção de que quando estamos a passar um bom tempo ele parece passar mais rápido; que aconteceu muita coisa (boa ou má) ou que estamos mesmo mais velhos?...
O facto é que durante 365 dias vivemos, rimos, aprendemos, amamos, sofremos.
O facto é que todos temos expectativas para os próximos 365.
'este disco tem a tua cara', disse ela
-tem a tua cara!!, disse ela
não sei se tem.
mas é um disco excelente.
um som 'à cowboy junkies'...
um disco para finais de tarde...
uma homenagem ao roger miller, que eu conhecia de passagem e sem grande vontade de conhecer melhor...
é muito bom quando os filhos nos conhecem...
(voltarei a falar deste disco lá mais para a frente... acho eu)
Doris Lessing, O Magazine, October 2003
Dizia-se numa entrevista qualquer, que a Doris Lessing não tinha apenas leitores, mas seguidores. Com efeito, esta mulher escreve tendo em conta valores e defesa de causas. Muitos acusam-na de dura feminista.
Os seus romances sobre a àfrica do Sul, desfizeram para sempre o mito dourado da supremacia branca. No entanto o que ela escreve envolve-nos. É impossível não sentir e amar as personagens que ela cria, sofrer por elas. Ficar sempre com vontade ler mais. Que melhor elogio se pode fazer?
Recomendo, a quem nunca a leu, que inclua nas suas resoluções para 2006 , a de ler pelo menos o The Golden Book, traduzido por O Caderno Dourado. Ou o espectacular " A boa Terrorista" . Ou qualquer dos violentos romances sobre a África do sul.do Sul. Qualquer coisinha, por favor. Pode ser até a sua excelente ficção científica.
Eu decidi que vou encomendar a biografia dela. Na Amazon, pois claro. Where else?
googling
que tipo de informações procuramos?
a net, para mim, é como um imenso entroncamento de linhas de caminho de ferro com agulhas multiplas e caminhos que nos levam onde não imaginavamos quando começamos a procurar.
por razões várias, muitas vezes me perguntam o que ando a vasculhar.
por isso aqui vai o meu googling do momento e o que o originou:
esta semana assisti a um documentário no canal história sobre as zona mineira de butte, montana.
o que foi chamada 'a colina mais rica do mundo', ou ' a segunda irlanda da terra'.
era um documentário excelente sobre as lutas dos mineiros no começo do século até ao massacre, em 1917, de 168 mineiros por um fogo provocado numa galeria pelos homens da pinkerton, contratados pela anaconda copper co. para desmobilizar a greve (e que está na base do clássico de dashiel hammett, red harvest),
o documentário tinha igualmente uma banda sonora fantástica, onde aparecia muita da musica da tradição mineira (da qual apenas conhecia como 'cantora bandeira' a hazel dickens) e influenciada pela musica popular da irlanda e da finlândia (os paises com mais imigrantes na zona)
este amontoado de curiosidades por muitas das coisas do documentário ( dashiel, musica, lutas operárias, utilização de agências de detectives para controlar greves, imigração, a guerra) levaram-me a começar a procurar saber mais sobre o assunto
daí o googling
29 de dezembro de 2005
A bicicleta pela Lua
- Mãe, Mãe -
A bicicleta pela lua dentro - mãe, mãe -
Ouvi dizer toda a neve.
As árvores crescem nos satélites russos.
Que hei-de fazer senão sonhar
Ao contrário, quando novembro empunha -
Mãe, mãe - as telhas dos seus frutos?
As nuvens, aviões, mercúrio.
Novembro - minha mãe – com as suas praças
Descascadas.
A neve sobre os frutos - filho, filho -
Janeiro com outono sonha então.
Canta nesse espanto - meu filho – os satélites
Sonham pela lua dentro, na sua bicicleta.
Ouvi dizer novembro.
As praças estão resplandecentes.
As grandes letras descascadas:é novo o alfabeto.
Aviões passam no teu nome –
Minha mãe, minha máquina -
Mercúrio (ouvi dizer) está cheio de neve.
Avança, memória, com a tua bicicleta.
Sonhando, as árvores crescem ao contrário.
Apresento-te novembro: avião
Limpo como um alfabeto. E as praças
Dão a sua neve descascada.
Mãe, mãe – como janeiro resplende
Nos satélites russos. Filho – é a tua memória.
E as letras estão em ti, abertas
Pela neve dentro. Como árvores, aviões
Sonham ao contrário.
As estátuas com polvos na cabeça,
Florescem com mercúrio.
Mãe – é o teu enxofre do mês de novembro,
É a neve avançando na sua bicicleta.
O alfabeto, a lua.
Começo a lembrar-me: eu peguei na paisagem.
Era pesada, ao colo, cheia de neve.
Ia dizendo o teu nome de janeiro.
Enxofre – mãe – era o teu nome
As letras cresciam em torno da terra,
As telhas vergavam ao peso
Do que me lembro. Começo a lembrar-me:
Era o atum negro do teu nome,
Nos meus braços como neve de janeiro.
Novembro – meu filho – quando se atira a flecha,
E as praças se descascam,
E os satélites tão russos avançam,
E na lus floresce o enxofre. Pegaste na paisagem
(eu vi): era pesada.
O meu nome, o alfabeto, enchia-a de laranjas.
Laranjas de pedra – mãe . Replendentes,
As estátuas negras no teu nome,
No meu colo.
Era a neve que nunca mais acabava.
Começo a lembrar-me: a bicicleta
Vergava ao peso desse grande atum negro.
A praça descascava-se.
E eis o teu nome resplendente com as letras
Ao contrário, sonhando
Dentro de mim sem nunca mais acabar.
Eu vi. Os aviões abriam-se, quando a lua
Batia pelo ar fora.
Falávamos baixo. Os teus braços estavam cheios
Do meu nome negro, e nunca mais
Acabava de nevar.
Era novembro.
Janeiro, começo a lembrar-me. O mercúrio
Crescendo com toda a força em volta
Da terra. Mãe – se morreste, porque fazes
Tanta força com os pés contra o teu nome,
No meu colo?
Eu ia lembrar-me: os satélites todos
Resplendentes na praça. Era a neve.
Era o tempo descascado
Sonhando com tanto peso no meu colo.
Ò mãe, atum negro –
Ao contrário, ao contrário, com tanta força.
Era tudo uma máquina com as letras
Lá dentro. E eu vinha cantando
Com a minha paisagem negra pela neve.
E isso não acabava mais pelo tempo
fora. Começo a lembrar-me.
Esqueci-te as barbatanas, teus olhos
De peixe, tua coluna
vertebral de peixe, tuas escamas. E vinha
cantando na neve que nunca mais
acabava.
O teu nome negro com tanta força –
Minha mãe.
Os satélites e as praças. E novembro
Avançando em janeiro com seus frutos
destelhados ao colo. As
estátuas, e eu sonhando, sonhando.
Ao contrário tão morta – minha mãe –
Com tanta força. e nunca
- mãe - nunca mais acabava pelo tempo fora.
Herberto Hélder, 1971
(eu sei é um poema avassalador e gigante.
Mas faz bem lê-lo)
E adivinhem lá o autor deste...
ornipuri palente condurita
parladina sulnata infiliana
citronala contuta calacita
oropeta maluna dastriana
tofural solipendo ordinfesto
apertindo vizantes plurinates
trefibiclo clinate biliestro
capileta sedulor fadiates
carmetamo melane sinditoro
mendunfila cecultro anoritana
rozorates tremenfus copetoro
perunital compluto lartendur
filofedito dondoro comburnates
arnipluro sulim infiriadur
P.S.:Este foi o modelo que serviu de base ao Sones detergeticum do Ary (vide post da T mais abaixo...); confesso que adoro o original, apesar de perceber totalmente o porquê da crítica: consta que o dito poeta era mesmo pedante e se achava o supra-sumo da barbatana...
Dois tremores de terra...
É indecente.
E quem é o autor? palpite sem google.
Aristóteles, visita
da casa da minha avó,
não acharia esquisita
esta forma de estar só
esta maneira de ser
contra a maneira do tempo
esta maneira de ver
o que o tempo tem por dentro
Aristóteles diria
entre dois golos de chá
que o melhor ainda seria
deixar o tempo onde está
pô-lo de parte no tema
e de parte na poesia
para manter o poema
dentro da ordem do dia.
Aristóteles, visita
da casa da minha avó,
não acharia esquisita
esta forma de estar só.
Ele sabia que o poema
depois de ser inventado
depois de tudo previsto
de tudo vistoriado
teria de fazer isto
para não continuar
o que já estava acabado
teria de ser presente
não futuro antecipado
não profeta não vidente
mas aço bem temperado
cachorro ferrando o dente
na canela do passado
adaga cravando a ponta
no coração do sentido
palavra osso furando
pele de cão perseguido.
Aristóteles, visita
da casa da minha avó,
não acharia esquisita
esta forma de estar só
esta maneira de riso
que é a mais original
forma de se ter juizo
e ser poeta actual.
Aristóteles, visita
da casa da minha avó,
também diria antes só
do que mal acompanhado
antes morto emparedado
em muro de pedra e cal
aonde não entre bicho
que não seja essencial
à evasão da palavra
deste silêncio mortal"
Adivinhem o autor sem googlices faz favor:)
Palpites?
É de 1965
E o outro maravilhoso, do mesmo autor.
"Sones Detergeticum
Exmo. Sr E. M De Melo e Castro, Covilhã
Poligónica forma pró dislate
ornitùrricaturra pró-falsete
sulfactídica amostra disparate
encefálicoestèticoretrete
protossónico vate calafate
tripanado linfátoco filete
xadrezista charada chequemate
torniquete cacete cacetete
tartufácil engodo redundante
taralhoco barroco bipedante
apócrifo proscénio pró-toleima
leucocito bacilo obliterante
lexicólogo rícino purgante
pirotàcnicotècnica almorreina."
(pronto, já adivinharam Poemas do Ary dos Santos.)
28 de dezembro de 2005
Foz Côa
Este ano munida de maquina tirei fotos para vos mostrar bocadinhos da minha infância .
As escadas de onde caí com 2 anos
a minha escola primária
O “tablado” (praça) onde eu brincava com as minhas amigas
as quelhas onde jogava ao esconde
a catedral de burgos
RE (LI) GATA
o calor interior das coxas habitadas
Quando a língua é um barco avançando no escuro
de um canal de Corinto entre pardas escarpas
Quando o cheiro do mar se desdobra em veludo
Quando rompe na boca o mistério das algas
Quando em baixo o teu pé a triturar-me o surdo
perímetro do sexo encontra a madrugada
Quando mais se aproxima a naútica do culto.
Quando mais o altar se mostra navegável
Quando mais eu descubro e restauro e misturo
na crista litoral de súbito ampliada
o ritual do grito o ritual doo cuspo
e vês que ninguém mais merece esta homenagem
é que enfim te possuo é enfim que te reduzo
a uma luva uma esponja uma deusa uma nave
David Mourão-Ferreira
1966
27 de dezembro de 2005
É mesmo este livro, do Wilkie Collins. Um dos primeiros policiais, segundo diziam os entendidos. Mas é muito mais do que isso. É o adivinhar e o imprevisivel. A falibilidade humana. O Dr Fosco sempre foi um dos meus heróis malignos favoritos. Li este livro muito miúda, oferecido pela minha avó. Talvez seja literatura feminina. Who cares?
O livro que comprei hoje sobreviveu ao tempo de uma maneira notável. Adapta-se perfeitamente à dimensão da minha mão. (não é como a biografia do Mao, que quase que preciso dum tabuleiro para melhor o segurar ).
Era para ser lido alto sem dúvida. Com elegância. Letras douradas em fundo bordeaux. Que sorte que tive em o encontrar hoje:)
Sem querer ,acaricio a encadernação. Já vos disse que era um livro lindo?
Waterman´s
No tempo em que a legibilidade e a beleza da caligrafia importavam.
Duravam uma vida inteira. Até mais:)
Ainda a Quadra Festiva
450 gr de farinha com fermento
130 gr de açúcar
40 gr fermento de padeiro
3 gemas
50 gr de manteiga
sal
limão, 1 cálice de vinho do porto
1 colher de sopa mal cheia de canela
frutos secos
130 gr de leite
Pôr a farinha no copo da bimby. Juntar-lhe o açúcar e um pouco de sal. Desfazer o fermento no leite morno e juntar. Juntar, no copo, os ovos, o fermento com o leite, a manteiga derretida, a raspa do limão e o sumo do limão, a canela. Programar 1 minuto velocidade 9. Juntar o vinho do porto. Programar de novo uns segundos, velocidade 9, e depois 5 minutos velocidade espiga.Ver se ficou bem batido, polvilhar o interior da bimby com farinha e programar uns segundos velocidade 5 até formar uma bola. Deixar levedar até levantar o copinho da bimby ( cerca de 1h30 mn, ou até dobrar o volume.
Tirar da bimby, amassar muito bem com as mãos enfarinhadas, juntar os frutos secos que se quiser, sempre a amassar bem, e deixar a descansar mais algum tempo.Formar o bolo com buraco - para o buraco não fechar pode colocar-se no meio um copo que possa ir ao forno - pincelar com ovo. Deixar descansar um pouco e depois enfeitar com frutos cristalizados. Levar ao forno quente até cozer.
BOM APETITE E UM GRANDE ANO NOVO A TODOS!
PS:Livra!!! Demorei mais tempo a emendar a porcaria da receita do que a passá-la, que sina ser pitosga.
Os Robin dos Bosques da energia eléctrica.
No entanto em França surgiu um novo fenómeno. Imagine-se uma velhinha, em caos económico e perfeitamente desesperada. Porque viver sem electricidade, equivale a não viver. Batem-lhe à porta , um senhor convenientemente apetrechado em termos de segurança e voilá o disjuntor foi ligado em dez minutos e sobretudo é pedida a discrição.
Quem faz isto? Funcionários da EDP local, que consideram incorrecto o corte indiscriminado e taxativo a todo aquele que não paga a factura. Depois tenta-se que as pessoas paguem pelo menos simbolicamente qualquer coisa pela electricidade que consumiram. O que será outra conversa...a questão de responsabilizar pelo consumo.
Mas o que é interessante é que são os próprios trabalhadores a assumir a vertente de solidariedade social da empresa a que pertencem. Anónimos, expostos a um possivel despedimento, mas "Face à une situation de blocage de l'ensemble des outils dont on dispose, nul ne peut reprocher à quelqu'un de désobéir pour sauver son prochain"
O mundo não cessa de me espantar. Agora pela positiva.
Vivam os Robin dos Bosques!!!
No Le Monde de hoje.
Canto Primaveril (para o fénix)
per sete ovale
se quo si novo
tel i vis ale
Canto qual tinem
ruisuno solino
ad tela suno
ad sola riso
Api in fluxo
cun saxi fi len
exo te alio
alti vi lúmino
Ex alis alens
a braces te nudis
parsi riparsi
tel ali pubis
António Ramos Rosa, 1967
26 de dezembro de 2005
Canção com lágrimas
O mês de morte e crescimento ó meu amigo
Como um cristal partindo-se plangente
No fundo da memória perturbada
Eu canto para ti o mês onde começa a mágoa
E um coração poisado sobre a tua ausência
Eu canto um mês com lágrimas e sol... o grave mês
Em que os mortos amados batem à porta do poema
Porque tu me disseste quem me dera em Lisboa
Quem me dera em Maio... depois morreste
Com Lisboa tão longe ó meu irmão tão breve
Que nunca mais acenderás no meu o teu cigarro
Eu canto para ti Lisboa à tua espera
Teu nome escrito com ternura sobre as àguas
E o teu retrato em cada rua onde não passas
Trazendo no sorriso a flor do mês de Maio
Porque tu me disseste quem me dera em Maio
Porque te vi morrer eu canto para ti
Lisboa e o sol, Lisboa com lágrimas
Lisboa à tua espera ó meu irmão tão breve
Eu canto para ti Lisboa à tua espera...
(por... Adriano Correia de Oliveira... muito bonita....)
Castigo Divino
Cartilha contra a libertinagem sexual, retirada do livro "Castigo Divino"
Vejam os comentários sobre o pecado das seguintes posições sexuais:
Posição de quatro - É uma das posições mais humilhantes para a mulher, pois ela fica prostrada como um animal enquanto seu parceiro ajoelhado a penetra. Animais são seres que não possuem espírito, então o homem que faz o cachorrinho com sua parceira, fica com sua alma amaldiçoada e fétida.
Sexo Oral - O prazer de levar um órgão sexual a boca é condenado pelas leis divinas. A boca foi feita para falar e ingerir alimentos e a língua para apreciar os sabores. A mulher engolindo o sêmen não vai ter filhos. E o homem somente sentirá dores musculares na língua ao sugar a vagina de sua parceira.
Sexo Anal (Sodomia) - O ânus é sujo, fétido e possui em suas paredes milhões de bactérias. É o esgoto propriamente dito. No esgoto só existe ratos, baratas e mendigos. A pessoa que sodomisa ou é sodomisada ela se iguala a um rato pestilento. Seu espírito permanece imundo e amaldiçoado. Mas o pior é quando o ato é homossexual, pois o passaporte dessa infeliz criatura já está carimbado nos confins do inferno.
Vejam a maneira certa de se relacionar sexualmente com sua parceira, segundo a cartilha:
Posição Recomendada - O homem e a mulher devem lavar suas partes com 1 litro de água corrente misturado com uma colher de vinagre e outra de sal grosso. Após isso, a mulher deve abrir as pernas e esperar o membro enrijecido do seu parceiro para iniciar a penetração. O homem após penetrar a mulher, não deve encostar seu peito nos seios dela, deve manter uma distância pois a fêmea deve estar rezando aos santos para que seu óvulo esteja sadio ao encontrar o espermatozóide. Depois do ato sexual, os dois devem rezar, pedindo perdão pelo prazer proibido do orgasmo. Como penitência, o açoite com vara de bambu é aceite como forma de purificação.
Só posso concluir duas coisas: ou nos veremos todos no inferno, ou vai faltar bambu no mundo.
(Recebi por mail e não resisti...)
Agora percebo a razão das dores musculares...
E aquela do vinagre e sal grosso, porquê grosso? São tão esquisitos para umas coisas e para outras já escolhem a grossura, provavelmente o tamanho também?
Gostei da parte do açoite com cana de bambu... Gandas malucos!!! eheheheh
Informação
E o fim do ano aprochega-se...
25 de dezembro de 2005
Prendinhas... - 3
Abram alas pro peru!
24 de dezembro de 2005
Post natalício...
Feliz Natal!
Uma contribuição autóctone muito bacaninha ao Natal foi dada no sambinha, já velho, de Assis Valente, cuja letra reza assim:
Anoiteceu
O sino gemeu
E a gente ficou
Feliz a rezar
Papai Noel
Vê se você tem
A felicidade
Pra você me dar
Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel
Bem assim felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papel
Já faz tempo que pedi
Mas o meu Papai Noel não vem
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem
Como o Brasil é um lugar sui generis, essa marchinha é de carnaval. Onde ainda toca com freqüência, aliás.
Bem, desejo aos amigos d'além-mar um Natal estupendo, cheio de libações, comedorias e descomedimentos. Especialmente porque estão em Portugal, lugar onde a boa mesa é boa de verdade. A comer e beber, amigos, e depois a dormitar satisfeitos! Arremedando lá o poeta, olhem que não há mais metafísica que buchos cheios.
Eu cá no trópico lhes garanto que hei de comer e beber a valer. E desde já ergo um brinde em vossa intenção: saúde! Com beijos e abraços aos respectivos recipientes.
O circo da vida, ou como o trapezista se estatelou no chão e continuou a sorrir
Natais nunca são iguais.
Robert Doisneau, Les Enfants de la Place Hebert, 1957.
O Natal lembra-me o privilégio imenso de estarmos vivos. Isto implica sentir. Percas e ganhos. Não é à toa que estou sempre a dizer "É muito bom estar vivo"
Este ano tive um ganho fundamental, a pequenina tubaroa chamada Maria. Imagino que a tubaroazinha um dia mudará o mundo.
Sinto porém alguns amigos e amigas em situações de mudança e de sofrimento. Algumas muito complicadas de ultrapassar e de que eu conheço bem o percurso. Um imenso abraço para eles.
Cada vez mais dou valor a alguns simples desejos: alegria, saúde e amizade.
É o que desejo a todos nós. Que continuemos juntos, amigos e saudavelmente brincalhões e implicativos uns com os outros. E que o simples facto de existirmos, ajude a viver melhor cada dia que passa.
Muito obrigada a todos os postadores, comentadores e amigos do blog.
Um Natal diferente e bom para um de nós.
Abeijos e braços. Como é hábito.
Para o Çamorano:
Paz
guided by a star
... to the humble birthplace
of the god of love,
the devils
... as an old print shows
retreated in confusion.
What could a baby know
of gold ornaments
or frankincense and myrrh,
of priestly robes
... and devout genuflections?
But the imagination
knows all stories
... before they are told
and knows the truth of this one
past all defection.
The rich gifts
so unsuitable for a child
... though devoutly proffered,
stood for all that love can bring.
The men were old
how could they know
of a mother's needs
or a child's appitite?
But as they kneeled
the child was fed.
... They saw it
and
gave praise!
A miracle
had taken place,
... hard gold to love,
a mother's milk!
Before
... their wondering eyes.
The ass brayed
the cattle lowed.
... It was their nature.
All men by their nature give praise.
It is all
... they can do.
The very devils
by their flight give praise.
... What is death,
beside this?
Nothing. The wise men
came with gifts
and bowed down
to worship
... this perfection.
William Carlos Williams
(retirado daqui, com os meus agradecimentos)
23 de dezembro de 2005
Viva o Nodi!!!
Entre o amontoado dos livros da loja, descobri um vindo directo da minha infância; O Nodi da Enid Blyton. Editado pela Agência Portuguesa de Revistas, pois claro.O dito livro pertencia a um Artur Henrique Silva dos Santos. Tadinho, foi expoliado!
Vou oferecê-lo a um amigo, que é tão chanfrado como eu por esta série de livros e quem me já tinha pedido para a tentar descobrir.
Sei que ressuscitaram de novo o Nodi, acho que lhe chamam Noddy, mas não tem este ar tão roliço de boneco de quem se gosta.
Descobri porque tenho esta fixação por motoristas de táxi. Aos 46 anos, já não é mau percebermos alguma coisa sobre nós próprios.
Reparei que havia um cartaz que indicava que na loja nº 33 se realizava uma venda dos Emaús. Fui logo lá a correr. E o que encontro?
Morram de inveja meus caros:)
Claro que é para adultos. A Segunda edição, de 1976.
Por isso sugiro ima ida lá . Até 30 de Dezembro podem espiolhar. Tem uma série de livros bastante interessantes. Um passarinho disse-me que foram ali compradas mais prendas. Mas xiu:)
pour nöel, un cadeau vibrant !!!! com desejos de um ano de 2006 cheio de boas vibrações...
dos 100 000 exemplares da revista, 50 000 vinham com o apetecido brinde que esgotou em poucas horas.
o numero de dezembro é dedicado às boas vibrações que se avizinham para o próximo ano, e a revista não queria que as suas leitoras não aproveitassem os tempos de leitura sem o necessário acessório exemplificador vibratório.
o êxito não podia ter sido mais espectacular.
as leitoras das revistas femininas portuguesas esperam que o exemplo seja seguido rapidamente.
a direita ressaibada e enfonada com os ventos cavaquistas está imparável
o presidente do cds afirmou esta semana que a origem e o grande perigo do terrorismo estava na esquerda.
para além uma série de alarvidades e imprecisões histórias, a mais inovadora é a associação dos nacionalistas ao esquerdismo, o que deve ser a primeira vez em toda a história da esquerda que tal acontece (a esquerda costuma ser acusada é precisamente do contrário).
mas o mais notável é quando considera che guevara um dos maiores criminosos do final do século passado.
para além do che ter sido assassina nos anos 60 e não ter vivido sequer no final do século, considerar um dos maiores assassinos seja do que for é delirio puro.
o presidente do psd, num jantar efectuado ontem, comparou o governo português ao governo norte-coreano.
isto é insanidade pura!!!!
isto não é ignorância, nem falta de estatura de politico, é apenas insanidade mental
mas o que anda a levar a direita revanchista a estes delírios insanes?
obviamente que os ventos trazidos pelas sondagens relativas ao seu candidato moisés cavaco.
quando cavaco se preparou para se candidatar e as sondagens lhe eram favoráveis, logo uma série de notáveis da direita portuguesa (a começar por pinto balsemão, que iniciou as hostilidades), desataram a escrever sobre a necessidade de reforçar os poderes presidenciais (coisas que era absolutamente proibido tocar antes deste anúncio, apenas pregando a cada minuto que esses poderes deviam diminuir), afirmando que um presidente com poderes reforçados daria mais vitalidade à politica nacional.
de facto, não só o cavaco acha que está a candidatar-se a primeiro ministro, como todos os seus apoiantes querem com esta eleição vingar as derrotas sofridas e colocar em belém uma espécie de primeiro ministro presidente salvador da pátria
a ver vamos no que vai dar,
mas os ventos não se afiguram pacíficos
A brincar, a brincar...
Jacob, um judeu, negociador de sangue frio, diz a seu filho:
- Filho, escolhi com quem deves casar.
- Mas pai, eu quero escolher a minha própria noiva.
- Quero que cases com a filha do Bill Gates.
- Bom, nesse caso...
Jacob então telefona para Bill Gates, dizendo:
- Bill, tenho aqui um jovem que quer casar com a sua filha.
- O quê? Isso é um absurdo! A minha filha é muito jovem para se casar!
- O jovem é só vice-presidente do World Bank.
- Bom, nesse caso...
Jacob telefona então para o presidente do World Bank:
- James, tenho aqui um jovem que é um excelente candidato para vice-presidente do World Bank.
- Vice-presidente? Mas eu já tenho tantos vice-presidentes!
- Bem, este é genro do Bill Gates.
- Bom, nesse caso...
(Recebido por mail)
E por falar em brincar... Estou com dificuldade para comprar a minha prenda. Não é de Natal, é porque me apetece da-me uma prenda. Ontem à noite dei uma volta por 3 "catedrais" do consumismo e para o mesmo produto encontrei diferenças de 50 €. Hoje vou a uma loja de rua.
22 de dezembro de 2005
O meu ultimo post antes do natal
Quero dizer também que vou abandonar a Bimby durante alguns dias. Um regresso às origens e ao contacto físico com a doçaria traccional impõe-se. è uma espécie de licença Sabática da Bimby, coitada, mas tem de ser. Fazer bilharacos ou sonhos de abóbora, leite creme, bolo rei, aletria, strudel, broa de milho e flor de centeio. A sensação de estar ao forno de lenha, acender e raer o forno como manda a tradição. Ah... que trabalho danado, para tudo desaparecer em meia hora. É obra. Que alegria, não é. Feliz Natal.
ainda, e para acabar, a questão dos cantores de tuva
como o artigo é longo, o poste sai curto.
leiam-no aqui
A arte da nossa Multi
Para o carlos comentar e contar a história!
"terei lá por casa alguns slides com fases da pintura disto.andaimes, tintas, pintores, curiosos...este foi um projecto longamente trabalhado e discutido, como devem calcular.embora fizesse parte do dep. cultural (onde fiquei amigo do irmão da nossa presidenta), não tinha a ver com os gráficos (que eram quem tinha este pelouro).o departamento dos gráficos do mrpp era, de longe e unanimemente reconhecido, o melhor e mais criativo de todos os que operavam por aquelas alturas na politica portuguesa.era basicamente composto pelos melhores profissionais da área do design de comunicação em portugal, ajudados por especialistas em pinturas de cartazes de cinema (os enormes que havia nas fachadas dos cinemas em portugal), habituados a fazer pinturas de grandes dimensões.o grande trabalho deste mural incluiu convencer os moradores a deixar pintar o seu prédio, convencer a polícia e encontrar um numero suficiente de voluntários habilidosos para o efeito (estariam ali meia duzia de pinceladas minhas, mas apenas isso)ao tempo, era quase um local de visita turistica obrigatória em lisboa para quem concordasse ou não com a mensagem que lá estava.apenas por isso resistiu ao tempo sem que ninguém o estragasse durante muitos anos, com excepção do tempo... que não respeita ninguém."
carlos
Prendinha de Natal!
não me preocupo com o futuro, dizem
ao que eu lhes respondi que a minha preocupação não era se tinha ou não reforma aos 60 anos:
a minha preocupação era se eu tinha ou não trabalho nessa altura.
numa recente entrevista a 8 mãos a que teimam em chamar debates, o messias sebastião bluff cavaco afirmou que compreendia as pessoas que andavam muito ocupadas com a sua vida e o seu trabalho e que não estavam preocupadas com o futuro, porque só isso explicava que ainda não o apoiassem.
só quem não está preocupado com o futuro é que ainda não o apoia?
meu caro cavaco, se quer a minha poia.... esteja à vontade,
eu mando-lhe uma bem grande por correio expresso...
21 de dezembro de 2005
Sms Natalícias
Mandamos nós outra sms: " Importa-se de assinar a mensagem?
Recebemos outra que nos trata por grande amiga e nos censura acidamente não constar o seu número da nossa lista de telemóvel.
O pior é que quando a pessoa assinou, o nome é-nos ainda por completo desconhecido.
Agradeço de novo. lamentando não reconhecer o receptor da mensagem. Silêncio do outro lado. Quem sabe estarei já riscada da lista. Azarinho.
Mas será que as pessoas no Natal pensam que são todas amigas de coração?
Nunca mais passa....
(post muito subjectivo e pessoal)
The Mysterious Production Of Eggs - Andrew Bird
Illinoise - Sufjan Stevens
& The Gospel Of Progress - Micah P. Hinson
santa milonga - Daniel Melingo
cripple crow - Devendra Banhart
Transistor radio - M Ward
bodies and minds - Great Lake Swimmers
wind in the wires - Patrick Wolf
arizona amp and alternator - arizona amp and alternator
a maioria dos links tem sítio para ouvir bocadinhos das músicas
Brigitte Bardot
Diz a senhora:
"Je viens d'apprendre avec consternation et horreur la tenue d'un spectacle de montreur d'animaux (ours, loups et perroquets) lors de l'Arbre de Noël de l'Elysée mercredi dernier", écrit l'ex-actrice dans cette lettre au chef de l'Etat, publiée par la fondation qu'elle préside.
"Cette nouvelle m'atteint en plein coeur telle une trahison d'une personne que je considérais comme un ami fidèle et sensible à la cause que je défends depuis des années", écrit Brigitte Bardot. "Ma confiance en vous est ébranlée et me plonge dans le désespoir pour tous ces animaux qui souffrent", ajoute-t-elle.
"Votre soutien était essentiel pour mon combat et je me rends compte maintenant qu'il n'était qu'un leurre, qu'une parade pour m'affaiblir. Ma déception est immense", écrit l'ex-actrice, qui accuse Jacques Chirac d'être "comme tous les autres" et de ne penser qu'à se "divertir au détriment des animaux utilisés".
Eu gosto de recordá-la assim.:
E de pensar que deu a volta completa a ser mulher objecto.
Não estou a ver ninguém em Portugal a ralhar a um presidente da República.
Ok, há a cena do Le Pen. Mas gosto de mulheres de armas.
Fonte: Le Monde.
os huun-huur-tu ou como tudo começou no conhecimento da músaica de tuva
isso foi o bastante para ted levin se deslocar a tuva a gravar uma série de fitas que a folkways do smithsonian institute editou em cd's.
para quem não está habituado aos discos de recolhas feito no campo, a audição destes discos pode parecer-se com a martírio flagelante da audição de um discurso do cavaco silva.
mas ao contrário da vacuidade deificada do cavaco, este música tem muito dentro dela.
e foi o primeiro passo para a descoberta de muitos grupos e cantores.
desses, os yat-kha são a banda de tuva mais famosa para os amantes de rock e kongar-ol ondar o seu mais amado cantor,
mas são os huun-huur-tu
o agrupamento mais famoso de tuva no estrangeiro.
com digressões mundiais há vários anos que intercalam com uns tempos de vida ao estilo nómada na sua terra.
são eles os responsáveis por larguissimos milhares de pessoas terem tido oportunidade de ter contacto com esta música e esta forma de cantar única.
este disco
é uma das melhores primeiras abordagens que se pode ter à musica de tuva.
digo eu,
que comecei por este e me apaixonei
O senhor Miguel Ângelo
(Postal desenhado por Miguel Ângelo, para o Restaurante A Quinta, Passarelle do Elevador de Santa Justa
Panorama de Lisboa visto da quinta)
Há muitos anos, aconteceu o incêndio do Chiado. Nos poucos habitantes desalojados, existia um casal muito particular. A Dona Júlia, talvez parente afastada da Frutuosa, e o sr Miguel Ângelo.
Tratava-se de senhoria e de hóspede. Ela era uma fogosa senhora, que iria morrer sem aviso, alguns dias depois de ter sido realojada. Faltava-lhe o Chiado, a casa, as flores, os animais.
Fiquei eu com um filho nos braços, o Senhor Miguel . Era um antigo artista plástico, ex-bailarino, homem de uma grande doçura conjugada com uma grande revolta.
Tinha deixado de pintar e de ler. Por ele , enfrentei os ratos que proliferavam na antiga casa deles e salvei o mais que pude do recheio , convencendo os bombeiros que os livros eram um bem inestimável. Veio a colecção Argonauta toda entre muitas outras coisas. Nos meus pesadelos, ainda ouço os ratos a chiar.
Mais tarde ofereci-lhe tintas e papel. Começou a desenhar e a vender algumas coisas. Sempre vultos carbonizados a sépia do seu Chiado. Quando me quis oferecer um desenho, disse que queria cor. E ele exerceu-a.
Gostava muito de falar comigo e era raro o dia em que não me trazia um presente do seu passado. Um dia foi este postal. Outro dia uma nota de um rublo, imperial ainda.
Eu era um misto de mãe, amiga e não sei o quê mais. E adorava falar-me em francês.
Quando deixei de trabalhar directamente com famílias, uma das pessoas que me custou deixar foi o Senhor Miguel. Ele tratava-me por minha senhora e beijava-me a mão. Visitava-me às vezes.
Passados uns anos, foi-lhe atribuída uma casa da CML e diagnosticado um cancro na garganta. Encontraram-no morto.
Talvez recordar o Senhor Miguel no Natal seja importante por mim.Pelo afecto que me deu e que eu lhe dei. Vejo-o ainda a caminhar, sempre arranjado e com o seu lenço de pescoço ou cachecol. Era um senhor. E meu amigo.