30 de abril de 2009
Um belo farol
Farol da Boa Nova, Leça da Palmeira. Assim o disse o Manuel.
Por adivinhar
Que rua é e quem já morou aqui?
lulu disse...
T, é a Rua de José Ricardo? Vê-se o mercado de Arroios ao fundo...
Pois é:)
E quem morou lá foi a Isabel.
Take me home, country roads...
…em preparativos para dar início a “uma resma de quilómetros”, não propriamente com o espírito on the road , ficam algumas considerações. No caso pessoal – haja tempo e ideias-, tem sido um agradável hábito postar por aqui e a T. sabe que assim é. De partida para trabalhar durante o feriado e o fim-de-semana (lá tinha de acontecer… e eu a pensar que nunca viria a ser atingida por um “raio excessivamente trabalhólico”…) , espero arranjar tempo para captar imagens não confinadas a auto-estradas e a áreas de serviço. De regresso, deixarei no Dias algumas fotografias “por adivinhar”.
Até breve e, em especial para a T. que as partilhará “se” e “como” bem o entender: “as queijadas não estão esquecidas!” só que chegarão depois do meu regresso (já ouvi isto algures no passado).
P.S: Vendo bem, até seria inovadora a adivinha : “quem identifica a auto-estrada e a área de serviço onde a imagem foi captada?” ( bom… pensando melhor, talvez não se trate de uma ideia apelativa…).
... e já a entoar a "cantiguinha":
Introducing your guide in Portugal
Call me "Groomo"! By Barker
Para o Manuel que lhe chama boletineiro!
29 de abril de 2009
You don´t have
Ela sonha mas nada acontece. Excepto a dactilografia. Assim a vê Barker. Ou assim a vejo eu.
Uma adivinha para «arrumar a casa»...
Como não me apraz deixar durante muito tempo os desafios na coluna “por adivinhar”, segue uma segunda fotografia da localidade já aqui representada através de uma imagem de “cinema de rua”. A primeira fotografia encontrava-se num post com o título: “Como é bom percorrer estas ruas”. De que cidade se trata?
Évora e acertou a Gema.
Um prédio de Lisboa
Assim via Barker um prédio típico de LIsboa...
Portas de Sintra
O concelho tem entradas grandiosas:
... e outras mais modestas:
(com os devidos agradecimentos à Filomena V.)
... e outras mais modestas:
(com os devidos agradecimentos à Filomena V.)
Uma imagem com palavras
A gaivota já poisou em todos os meus versos
trazendo sempre uma promessa de distâncias irreais.
Chega com o mau tempo. Fica de vigia.
Apenas uma brisa leve lhe arrepia
o desenho solene e rigoroso que compõe à beira do cais.
Há mundos insondáveis no riso que me lança
e que acende no meu peito uma criança com desejo
de improváveis desarrumos tropicais.
Quando abrir de novo as asas e partir
em busca de outros continentes, outras ilhas
deixará na praia do poema alguma pena
e o mapa confuso de pegadas andarilhas.
Digo adeus e fico a vê-la
a afastar-se lentamente no azul
e repito para mim próprio
e juro e volto a jurar
que um dia abro a janela
e vou com ela
viajar
José Fanha
NOTÍCIA DOS DIAS QUE VOARAM
30 de Abril de 1974
Se agora lhe perguntassem o que fez depois da madrugada por que esperava, diria que daí até ao 1º de Maio, necessariamente, terá dormido mas, do que lembra bem, é que andou num turbilhão vertiginoso ao ponto de dizer que esse dia 25 não foi um dia, foram mais: que vai desde 25 de Abril até ao primeiro 1º de Maio. então.
Dirá então que acontecesse o que acontecesse – e muita coisa iria acontecer - obviamente aquela festa de ilusões, aquele património, já ninguém lhe tirava.. Mais tarde dirá aos filhos que só quem viveu aqueles tempos de oásis, de miragens, perceberá o que foi o 25 de Abril. E não mais esquecerá aqueles dias luminosos em que tudo parecia ser possível.
Os jornais tentam dar notícia de tudo o que está acontecer, também do que virá.
Já foi extinta a PIDE/DGS, a Legião e as Mocidades Portuguesas, o povo persegue os pides nas ruas e, entregando-os às forças militares, são encarcerados em Caxias, conhecem a casa mas agora olham-na com uma perspectiva bem diferente, sabe-se que os funcionários públicos despedidos por motivos políticos serão reintegrados, começam a regressar os exilados políticos, os desertores querem voltar e pedem amnistia, Tomaz Caetano e outros ministros estão no Funchal a aguardar guia de marcha para o exílio, os trabalhadores tomam conta dos seus sindicatos, um decreto-lei determina que quem quiser sair do país só poderá levar 50 contos.
Há-de regressar a alguns destes acontecimentos.
Mas neste dia, há uma notícia que ofuscará tudo o resto, que encherá de alegria os portugueses: a Junta de Salvação Nacional faz publicar o decreto-lei que determina que o 1º de Maio será feriado nacional.
Durante a ditadura o 1º de Maio era um dia que trabalhadores e estudantes estavam impedidos de comemorar. Mas com coragem e determinação, aqui e ali, sempre encontraram forma de o assinalar, se bem que sujeitos a brutal repressão. Pedras e palavras de ordem contra bastões, espingardas, carros de combate.
A mudança estava mesmo a acontecer!
Nesta noite, Sá Carneiro será entrevistado pelo Tele-Jornal. Dirá ao povo para, no 1º de Maio, actuar disciplinada e ordeiramente.
No dia seguinte, no Canal da Crítica do “Diário de Lisboa, Mário Castrim escreverá que compreende a preocupação dos políticos, mas adianta:
“Depois, amigo Sá Carneiro, deixe lá o povo manifestar à vontade por esse país fora. Deixe-o mostrar a sua alegria, a sua vitalidade. Deixe-o à vontade matar a fome do pão que durante 50 anos lhe negaram. Tempos virão de trabalho e organização. Mas que se deixe, agora, que o Povo Português seja dono das ruas de Portugal e saborei a liberdade reconquistada. Então agora sem pide, sem Censura, sem prisões, então agora o povo não deve manifestar e cantar?
Amanhã é dia de festa. Viva o 1º de Maio!”
28 de abril de 2009
O que se encontra ao longo de uma caminhada!
(os agradecimentos à fotógrafa Filomena V., dado esta escriba nem sempre se encontrar atenta às imagens insólitas)
E o que se encontra durante uma caminhada de 14 quilómetros! Quanto ao sapo, contei pelo menos uns sete (só a pele dos animais se conseguia ver). Na inexistência de biólogos no grupo, interrogámo-nos sobre o fenómeno e houve várias explicações, mas a dúvida subsistiu... nem a expressão "engolir sapos" se revelou esclarecedora.
Quanto à propriedade representada, o nome despertou a atenção. Dado ter desaparecido a obra do filósofo e matemático que lhe dá nome, interroguei-me se não se encontrariam os manuscritos escondidos neste local.
NA ROTA DE VELHOS ANÚNCIOS
É óbvio que eles estão aí para fazer o seu negócio, ganhar o seu dinheiro, presume até que não será pouco...
Não lhe movem outros intuitos senão o de tirar o chapéu a uma empresa a quem deve, pelo menos a importação de excelentes bebidas, alguma coisinha J.A. da Costa Pina.
O anúncio do “Dry Monopole” foi retirado do “Diário de Notícias” de 3 de Dezembro de 1964. Por acaso até aprecia mais espumante, uma mera questão de gosto e não mais,
mas achou piada àquele “O Champanhe dos Aristocratas”
O anúncio do “Gordonn’s”, retirado do “Diário Popular” de 18 de Agosto de 1968, já fia mais fino, até por motivos óbvios.
Nos anos sessenta o “Gordon’s” era um bom gin. Posteriormente, com a globalização, o quw quer que tenha sido, foi perdendo “glamour”.
Mas o melhor “Gordon’s” que bebeu não tinha esta rolha. Traziam-lhe directamente de Londres e ainda hoje o sente a circular nas veias. O perfume e o sabor.
Talvez um dia faça um post sobre gin. Não é impunemente que lhe foi roubar a identificação...
Entre a serra e o mar...
(uma das imagens enviadas pelo MCV)
Da estrada que ficava mesmo por cima do jardim podia ver-se Sintra, cujo velho castelo parece um convento com pequenos edifícios sobrepostos, e muitos terraços com jardinzinhos, cada um com a sua fonte; as chaminés que parecem torres de campanários, um pouco como garrafas de champanhe (…).
Toda a subida é um jardim onde a natureza e a arte se amparam mutuamente; é o passeio mais belo que se pode imaginar. Começa com cactos, plátanos e magnólias e termina com sabugueiros e pinheiros, entre rochedos espalhados desordenadamente. Aqui, gerânios de todas as espécies e cores florescem abundantemente; cardos maravilhosamente belos aglomeram-se junto aos arbustos de murta, com as suas perfumadas flores brancas cor-de-neve; caminhos solitários serpenteiam entre muros revestidos de heras e rochas, que ao caírem formaram arcos naturais. De um deles tem-se um vasto panorama desde estas alturas, em direcção a Lisboa e às montanhas que ficam da outra margem do Tejo; vê-se a extensão do Atlântico e, do vale, a grande planície até ao Convento de Mafra. O ar é tão límpido que me pareceu ser possível contar as janelas que havia no edifício que estava a quilómetros de distância.
Hans Christian Andersen, Uma Visita a Portugal
Da estrada que ficava mesmo por cima do jardim podia ver-se Sintra, cujo velho castelo parece um convento com pequenos edifícios sobrepostos, e muitos terraços com jardinzinhos, cada um com a sua fonte; as chaminés que parecem torres de campanários, um pouco como garrafas de champanhe (…).
Toda a subida é um jardim onde a natureza e a arte se amparam mutuamente; é o passeio mais belo que se pode imaginar. Começa com cactos, plátanos e magnólias e termina com sabugueiros e pinheiros, entre rochedos espalhados desordenadamente. Aqui, gerânios de todas as espécies e cores florescem abundantemente; cardos maravilhosamente belos aglomeram-se junto aos arbustos de murta, com as suas perfumadas flores brancas cor-de-neve; caminhos solitários serpenteiam entre muros revestidos de heras e rochas, que ao caírem formaram arcos naturais. De um deles tem-se um vasto panorama desde estas alturas, em direcção a Lisboa e às montanhas que ficam da outra margem do Tejo; vê-se a extensão do Atlântico e, do vale, a grande planície até ao Convento de Mafra. O ar é tão límpido que me pareceu ser possível contar as janelas que havia no edifício que estava a quilómetros de distância.
Hans Christian Andersen, Uma Visita a Portugal
One of the world´s most romantic streets
Assim via Barker a Avenida da Liberdade. Linda não era?
COMEÇOS DE LIVROS
Começo de “Viver Todos os Dias Cansa” de Pedro Paixão:
“Sei pouco sobre as mulheres e cada vez sei menos. Nem sei – ou quando sei já é tarde demais – se gostam de mim e, quando isso acontece, não chego a saber o que isso possa querer dizer. Há muitas maneiras de gostar, é verdade. Quando se gosta de um casaco é ele o que trazemos mais vezes. Com as mulheres é diferente. O que importa, acho eu, não é nem o que elas dizem nem o que elas fazem mas o que elas não dizem e pensam fazer. É preciso adivinhar e eu sou muito mau a adivinhar. Depois, quando as coisas acabam olhamos para trás, não ficamos mais elucidados. Sabemos contar aos amigos uma história que tem princípio, meio e fim mas que bem podia ter sido outra. Uma pessoa é um mistério, duas, com um abismo pelo meio, uma prodigiosa contradição.”
27 de abril de 2009
Sintra em tempos idos
Foi especialmente à Teresa que ofereceram estas imagens da sua amada Sintra.
São imagens de dois documentários um de data indeterminada e outro de 1988
A cerveja Cuca, um prazer que pede bis
Ouve-se Ray Charles, discute-se a Vartan e a Pavone, ensaiam-se novos passos de surf e de hully-gully e sobretudo bebe-se Cuca, uma bebida para gente nova!
Rico reclame! A gente nova está tão animada que parece que vai entrar para um exame! Mas a Cuca é excelente!
Os Santos estão a chegar
Assim desfilava pela avenida esta senhora, que desencadeou tempestades de aplausos à sua passagem.
Quem era ela?
E acertou a Teresa e o APS!
Viva a Laura Alves:)
Feira do Livro Lisboa 2009
Foto de Artur Goulart, 1961
Este ano mudaram-lhe o horário: 12h30 às 20h30, de segunda a quinta, e das 11h às 23h aos sábados, domingos e feriados.Não acho nada bem a alteração, adorava a voltinha do depois do jantar na Feira. Começa já no dia 30 de Abril e dura até 17 de Maio. Dizem que vão existir mais pavilhões e que o país convidado é o Brasil. A minha esperança são os alfarrabistas, que o resto vira o disco e toca o mesmo.
Nota: Muitos suspiros. Que saudades da Feira Na Avenida! Era onde ela devia estar!
COISAS DO SÒTÃO
Capa de um livrinho com o título “Eu Canto Para Que Os Desertos Fiquem à Sombra”, uma das muitas publicações que serviram de apoio à luta contra a ditadura. Trata-se de uma olectânea de poemas e canções passados a “stencil”.
No interior há uma folha solta onde se pode ler:
“Contudo todos dizem que esta colectânea tem interesse. Todos concordam que ela fazia falta. Apesar das inúmeras deficiências, dos muitos erros, ideias com que não se concorda, estamos convencidos de que o caderno tem mesmo interesse e mais teria se fosse refundido. Porque não fazemos pois nesta segunda edição?
Primeiramente por falta de tempo. Depois porque o sector principal a que o caderno se dirigia, os operários, o aceitou e percebeu bem. Verificámos por uma breve sondagem que foi mais bem aceite pelos sem-cultura que pelos intelectuais, se isso for geral conseguimos o nosso objectivo. O responsável pelos livros junto dos operários disse-nos que os cadernos se destinavam principalmente aos operários e afinal para os intelectuais foi a maior parte.”
Entre outros, há poemas e canções de Daniel Filipe, Manuel Alegre, José Saramago, José Afonso, Manuel Freire, Adriano Correia de Oliveira, Luís Cilia.
Na contra capa pode ler-se: “Erguei-vos, levantai a cabeça porque a vossa libertação está próxima” – Lucas 21-28.
“Cidade
Sem muros nem ameias
Gente igual por dentro
Gente igual por fora
Onde a folha da palma
afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo, mas irmão
Capital da alegria
Braço que dormes
nos braços do rio
Toma o fruto da terra
É teu a ti o deves
lança o teu desafio
Homem que olhas nos olhos
que não negas
o sorriso, a palavra forte e justa
Homem para quem
o nada disto custa
Será que existe
lá para os lados do oriente
Este rio, este rumo, esta gaivota
Que outro fumo deverei seguir
na minha rota?”
Esta canção de José Afonso não faz parte da antologia, mas desculpem-lhe o facto de ele não ter resistido à tentação de a reproduzir. Uma das mais felizes e bonitas canções de José Afonso. E elas são tantas!...
Quem se lembraria de uma coisa destas?
O texto encontra-se em maíusculas no original:
Durante muitos anos pensei em inscrever-me num desses cursos de que nos enviam os prospectos desdobráveis pelo correio, e que em quinze dias nos transformam em hércules eficazes, bem penteados, bem barbeados, nodosos de músculos, cercados por uma nuvem admirativa de raparigas maravilhadas: […]
GANHE A CONFIANÇA DOS SEUS CHEFES E O AMOR DAS MULHERES GRAÇAS AO MÉTODO DE CULTURISTA SANSÃO;
CRESÇA TREZE CENTÍMETROS SEM PALMILHAS COM A TÉCNICA DE PROLONGAR AS TÍBIAS GULLIVER;
A LOÇÃO AZEVICHE FARÁ O SEU CABELO RECUPERAR A COR NATURAL, BRILHANTE, SEDOSO E MACIO COM UMA ÚNICA APLICAÇÃO;
É ANSIOSO? VIVE TRISTE? O MAGNETISMO ASTRAL, EM CINCO LIÇÕES, DAR-LHE-Á CONFIANÇA NO FUTURO;
PERCA O SEU VENTRE INCOMODATIVO PEDALANDO A DOMICÍLIO COM A BICICLETA ABDOMAL; […]
SE NÃO SE DESPE NA PRAIA POR TER VERGONHA DOS SEUS OMBROS ESTREITOS SOLICITE NAS BOAS CASAS DA ESPECIALIDADE O FOLHETO EXPLICATIVO «CONSQUISTEI MINHA ESPOSA GRAÇAS AO CLAVICULONE ELECTRÓNICO»;
MAU HÁLITO? EXPERIMENTE O SPRAY NORUEGUÊS CEBOLOV(À BASE DE CASCA DE CEBOLA E ESSÊNCIA DE ALHO) E OS SEUS AMIGOS APROXIMAR-SE-ÃO, FASCINADOS, DAS SUAS PALAVRAS;
(transcrito com supressões)
Trata-se de António Lobo Antunes já identificado numa adivinha mais recente.
Amorosos
Barker achava recomendável este local para luas de mel. Que terra é?
Ana Fundo disse...
Sintra :)
Como em 1973 era fintada a censura
(a imagem representa uma outra encenação de Cemitério de Automóveis, esta da autoria do franco-argentino Victor Garcia)
Folheando uma revista que faz um breve estudo publicitário da censura, deparei-me com anúncios a espectáculos de revista no pré e pós 25 de Abril. Na página, são comparados cartazes da revista do teatro ABC “Com parra nova” limitando-se a alteração introduzida após Abril à legenda: “um espectáculo finalmente tudo a nu”; já à que se encontrava em cena no teatro Maria Vitória, foi substituído o título de “Ver, Ouvir e Calar” para “Ver, Ouvir e Falar”.
Apesar de na época me encontrar na adolescência, não pude deixar de pensar no modo como a censura era fintada. Há mesmo quem defenda que, para se não calar o importante, a imaginação e a criatividade seriam mais notórias do que quando se passou a poder dizer e mostrar o anteriormente proibido.
A mero título ilustrativo, evoco o tema “Tourada” de Ary dos Santos, poema de implacável crítica social , vaiado por alguns espectadores pró-regime quando foi vencedor da edição nacional do festival da canção, corria o ano de 1973.
Quanto a enganar com toda a evidência a censura, recordo ter assistido, com os meus pais, à peça de Arrabal “Cemitério de Automóveis”. O espectáculo memorável foi apresentado em Cascais, num teatro desmontável preparado para o efeito e, se não estou em erro, encontrávamo-nos no mesmo ano em que a referida canção interpretada por Fernando Tordo participou no Festival da Eurovisão.
Os actores brasileiros que se deslocaram ao nosso país, pertenciam à companhia Ruth Escobar, grande encenadora que conseguiu um trabalho notável e inovador para a época (ainda hoje o seria).
A encenadora montou um cenário gigantesco, com carcaças de automóveis e sucata, sendo “esmagador” o amontoado que se encontrava no espaço cénico, esse igualmente diferente de qualquer outro anteriormente apresentado, imenso, isento de barreiras e com entradas e saídas por toda a área onde nos encontrávamos a assistir à representação. Em ousadia, só o consigo comparar à encenação de João Mota para a peça baseada na Peregrinação de Fernão Mendes Pinto na qual os espectadores se encontram, com os actores, numa enorme nau sobre um piso que se vai movendo, simulando as tempestades marítimas.
“Cemitério de Automóveis” é um texto dramático e perturbador, ainda o seria na actualidade ou não pertencesse a autoria a alguém tão polémico como Arrabal. Uma das personagens a viver no meio da sucata é traída pelos amigos, acabando crucificada na bicicleta de um polícia numa moderna alegoria da paixão de Cristo.
As marcas censoras traduziram-se na obrigatoriedade de ostentarem as personagens femininas enormes faixas adesivas sobre o peito a fim não exibirem a nudez total, mas a forte mensagem de crítica social, adesivos à parte, tornou-se muito mais incómoda do que qualquer espectáculo revisteiro com ou sem nudez evidente do pré ou pós 74.
O Estoril
Caiu-me literalmente no colo, estando eu à procura de outra coisa. Uma maqueta dum livro destinado a ser um guia turístico de Portugal, a data não está presente e nem sei sequer se o livro foi publicado. O autor dos desenhos assina Barker e referencia o Casino Estoril, mas não faço a mínima ideia de quem é. Mas a ideia é divertida. As imagens essas uma delícia.
Suposições: talvez não tenha sido publicado por causa da segunda Guerra mundial. As notas e moedas que são apresentados coadunam-se com os anos 30. E a boa vida também. Em breve iriam terminar os tempos de turismo.
Em Lisboa...
Sabeis dizer? A data do postal é 1908.
Luís Bonifácio disse...
Campos de Santana
ou
Campo dos Mártires da pátria
TEXTO EM BUSCA DE IMAGEM OU VICE-VERSA
26 de abril de 2009
A CIDADE É A EXPERIÊNCIA QUE DELA TEMOS
Todos os anos por Abril, o dono da “Livraria Ler”, junto ao Jardim da Parada, em Campo de Ourique, expõe, nas suas montras, livros que foram proibidos pela PIDE bem como os respectivos autos de apreensão.
Numa relação publicada pela Associação dos Editores e Livreiros Portugueses, em Junho de 1974, fica a saber-se que nos consulados de Salazar e Caetano foram proibiram cerca de 4.000 obras de autores portugueses e estrangeiros. Muitos destes livros foram proibidos apenas pelos títulos, outros porque os seus autores eram escritores conotados com a oposição democrática, outros porque… sim.
“Aos serviços de Censura pertence o encargo de corrigir o ambiente político”, escrevia em 1932, o Director Geral da Censura, Major de Artilharia Álvaro Salvação Barreto.
Lembra-se que era nas pequenas livrarias de bairro que se poderiam encontrar os livros proibidos. Havia uma relação de cumplicidade entre o dono e o cliente. O caso mais conhecido será o da “Livraria Barata” na Avenida de Roma.
Nunca é demais lembrar que neste país houve censura. Às palavras, às imagens, ao pensamento.
Todos os anos por Abril, vai até Campo de Ourique olhar a montra da “Livraria Ler”.
Passou por lá hoje. As fotografias estão aí.
“Na vida o mais difícil de fazer, é não fazer nada"
Está completamente esquecido, este escritor que já foi um sucesso literário em Portugal. Um escritor que era engenheiro na Companhia dos Telefones entre mil e uma outra ocupações. E que conserva a maravilhosa qualidade de nos fazer rir com gosto neste ano de 2009, pela subtileza e ironia, nunca transigindo com o mau gosto e a futilidade. Leiam-no e não o vão esquecer nunca mais. E mais ainda, vão querer ler muito mais.
Esta pequena entrevista que a Revista Eva lhe fez em 1952 é dedicada ao nosso amigo APS, que foi colega dele de trabalho.
Armando Ferreira
Escritor
1893-1968
(título do post: citação de AF)
A Gelatina Royal
Vamos todos deleitar-nos uma gelatina Royal? E em calhando, colorir o livro que oferecem de que tenho uma vaga ideia.
Crónica Feminina, 1963
O DIA SEGUINTE
Um dia, já Abril tinha sido há algum tempo, há-de ouvir alguém dizer “Vocês foram felizes no fascismo!” Ouvirá um outro alguém responder: “Não! Fomos felizes contra o fascismo!”
Se bem que o poeta lhe tenha ensinado que saudades, só do futuro, há-de muitas vezes sentir imensas saudades dos companheiros do 24 de Abril. Face ao país irrespirável, com o peso da religião, o colonialismo, a guerra, a Pide, era gente generosa que acreditava, que não ambicionava nada mais que do a liberdade: e o fim de uma guerra estúpida e inútil. Sim, uma imensa saudade desses companheiros de 24 de Abril, possivelmente o último dia em que ainda nos respeitámos. Depois, não imediatamente, há-de confrontar-se com uma série de sucedidos que o hão-de levar a não mais acreditar em coisas em que acreditou. O Mário-Henrique Leiria a dizer: “Vê lá tu, que o Álvaro Guerra deixou de me falar só porque não sou do partido dele!...”
Enquanto ouvia Beethoven., José Saramago dizia que quando nos julgassem bem seguros, cercados de bastões e fortalezas, os altos muros ruiriam em grande estrondo e chegaria o dia das surpresas.
Sim, o dia de muitas surpresas. Uma delas foi ver tanta gente nas ruas. Onde estava toda esta gente, agora a dar vivas à liberdade, quando nos sabíamos tão poucos os que lutaram contra a ditadura?
Miguel Torga escreverá no seu “Diário”:
“Coimbra, 25 de Abril de 1974 – Golpe militar. Assim eu acreditasse nos militares. Foram eles que, durante os últimos macerados cinquenta anos pátrios, nos prenderam, nos censuraram, nos apreenderam com as baionetas o poder à tirania. Quem poderá esquecê-lo? Mas pronto: de qualquer maneira, é um passo. Oxalá não seja duradoiramente de parada…”
Alguns dias depois das gentes nas ruas, da euforia, a poeira começou a assentar e diversos sinais começaram a surgir.
Por esses dias Raul Portela Filho escreverá no “República”
“De resto, o camaleão não muda de cor uma vez só.
Mudar de cor é a própria natureza do camaleão.”
Há um poema de Sophia, “Fragmentos de Os Gracos”, que guarda uma lição de política:
“Os ricos nunca perdem a jogada, nunca fazem um erro. Espiam. E esperam os erros dos outros. Administram os erros dos outros. São hábeis e sábios. Têm uma larga experiência do poder e quando não podem usar a própria força, usam a fraqueza dos outros. E ganham.”
Há-de saber mais tarde que demasiados erros, demasiadas distracções, demasiadas ingenuidades, mergulharão o país num mar largo de clientelismo, da partilha do poder, de corrupção, do salve-se quem puder…
Trinta e cinco anos depois, perguntam-lhe que é feito daquele sol que uma madrugada trouxe, essa madrugada que pensávamos estar bem gravada no calendário dos nossos sonhos. Não encontra resposta, talvez não queira fazer um esforço para a encontrar. Lembra apenas que houve um tempo em que foi feliz e que de há muito vive a ressaca desses dias. E não por acaso saltam-lhe as palavras de Simone Beauvoir: “É horrível assistir à agonia de uma esperança.”
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Fotografia de Eduardo Gajeiro
Domingo: o passeio de Primavera
ainda perto da vila de Sintra
Caminhada de amigos que , segundo me disseram, já vai na terceira edição, teve hoje como ponto de partida a vila velha de Sintra e terminámos, após cerca de 14 km, na praia das Maçãs. O tempo ajudou, pois conseguimos fazer o trajecto sem chuva. É bom conhecer trilhos por onde não conseguimos passar de automóvel. O sucesso deveu-se à Mena, com os versos de incentivo sempre tão bem escolhidos e ao Jorge, conhecedor de todos os cantinhos do concelho e arredores:
(algures perto da várzea de Colares)
Feliz possa caminhar.
Feliz com abundantes nuvens negras possa caminhar.
Feliz com abundantes chuvas possa caminhar.
Feliz com abundantes plantas possa caminhar.
Feliz por uma senda de pólen possa caminhar.
Feliz possa caminhar.
Como aconteceu em dias distantes possa agora caminhar.
Que defronte de mim seja tudo belo.
Que atrás de mim seja tudo belo.
Que debaixo de mim seja tudo belo.
Que por cima de mim seja tudo belo.
Que derredor de mim seja tudo belo.
Belo belo acaba aqui.
Belo belo acaba aqui.
In Diário 2009. Lisboa: Assírio & Alvim (poemas ameríndios mudados para Português por Herberto Helder)
E finalmente a chegada, pela praia, já perto do almoço que nos esperava! Foi a parte mais difícil estes últimos metros de areal.
Frondosa e bela Avenida
Outo postal que encontrei. Linda a avenida e tão frondosa. Ainda não escavacada e destituída de qualquer dignidade à época.
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