"Arte peripoética
Aristóteles, visita
da casa da minha avó,
não acharia esquisita
esta forma de estar só
esta maneira de ser
contra a maneira do tempo
esta maneira de ver
o que o tempo tem por dentro
Aristóteles diria
entre dois golos de chá
que o melhor ainda seria
deixar o tempo onde está
pô-lo de parte no tema
e de parte na poesia
para manter o poema
dentro da ordem do dia.
Aristóteles, visita
da casa da minha avó,
não acharia esquisita
esta forma de estar só.
Ele sabia que o poema
depois de ser inventado
depois de tudo previsto
de tudo vistoriado
teria de fazer isto
para não continuar
o que já estava acabado
teria de ser presente
não futuro antecipado
não profeta não vidente
mas aço bem temperado
cachorro ferrando o dente
na canela do passado
adaga cravando a ponta
no coração do sentido
palavra osso furando
pele de cão perseguido.
Aristóteles, visita
da casa da minha avó,
não acharia esquisita
esta forma de estar só
esta maneira de riso
que é a mais original
forma de se ter juizo
e ser poeta actual.
Aristóteles, visita
da casa da minha avó,
também diria antes só
do que mal acompanhado
antes morto emparedado
em muro de pedra e cal
aonde não entre bicho
que não seja essencial
à evasão da palavra
deste silêncio mortal"
Adivinhem o autor sem googlices faz favor:)
Palpites?
É de 1965
E o outro maravilhoso, do mesmo autor.
"Sones Detergeticum
Exmo. Sr E. M De Melo e Castro, Covilhã
Poligónica forma pró dislate
ornitùrricaturra pró-falsete
sulfactídica amostra disparate
encefálicoestèticoretrete
protossónico vate calafate
tripanado linfátoco filete
xadrezista charada chequemate
torniquete cacete cacetete
tartufácil engodo redundante
taralhoco barroco bipedante
apócrifo proscénio pró-toleima
leucocito bacilo obliterante
lexicólogo rícino purgante
pirotàcnicotècnica almorreina."
(pronto, já adivinharam Poemas do Ary dos Santos.)
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