28 de dezembro de 2005

RE (LI) GATA

Quando em lugar de feltro é de bairro de Outubro
o calor interior das coxas habitadas
Quando a língua é um barco avançando no escuro
de um canal de Corinto entre pardas escarpas
Quando o cheiro do mar se desdobra em veludo
Quando rompe na boca o mistério das algas
Quando em baixo o teu pé a triturar-me o surdo
perímetro do sexo encontra a madrugada
Quando mais se aproxima a naútica do culto.

Quando mais o altar se mostra navegável
Quando mais eu descubro e restauro e misturo
na crista litoral de súbito ampliada
o ritual do grito o ritual doo cuspo
e vês que ninguém mais merece esta homenagem
é que enfim te possuo é enfim que te reduzo
a uma luva uma esponja uma deusa uma nave

David Mourão-Ferreira
1966

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