30 de agosto de 2013

fajão e o seu termo, parte 1 da urbe



fajão e o seu termo

hé província da beyra, hé villa comarca da cidade da guarda, he byspado de coimbra, e parochia
são senhores da ditta villa o reverendissimo padre reytor e mais conegos regulares da congregação reformada de santo agostinho do colegio novo do leal mosteiro de santa crus de coimbra como taobem do lugar dos cavalleiros, ceiroquinho, ceiroco e covanca. os mais lugares da ditta freguezia são de termos de outras villas, - como o lugar das bouças que é do termo da villa de góis, porto das balças, castanheira, ponte de fajao são do termo da villa de coja.
a villa tem trinta e cinco vezinhos, sobrais três, cavalleiros de sima seis, cavalleiros de baixo seis, bouças nove, ceiroquinho, outo, ceiroco sette covanca três, camba dous, porto das balças dous castanheira treze, val do pardieiro dous e todos os vezinhos da freguesia são noventa e nove e o numero das pessoas são trezentas e quarenta e duas
esta villa esta situada em uma serra metida em um valle e não descobre povoacao alguma, e dellas esta destante muytas legoas
a villa hé chamada fajao os lugares ou aldeias são as seguintes – sobrais – cavalleiros de sima – cavalleiros de baixo – ceiroquinho – ceiroco – covanca – cambas – e os mais que vao nominados asima na quota (?)  ao primeiro interrogatório que sendo desta freguesia são do termo de outras villas
a igreja parochial esta distante da villa vinte passos a um lado
o orago da ditta egreja h nossa senhora da assumpçao, tem três altares. No altar esta a senhora da assumpção e sancto antonio, em um dos collatrais esta nossa senhora do rozario, o sancto antonio adonde taobem esta colocado o sacrário ao lado esquerdo em outro altar esta sancto symao, e santo caettano e o mártir sancto sebastião
tem uma irmandade de nossa senhora da assumpcao e outra do santissimo sacramento
o pároco hé cura cuja apresentação pentence ao reverendissimo reytor do collegio das (…) dos conegos regulares de sancta cruz de coimbra. a renda que tem são onze mil reis de congroas e o reverendo prior de villa cova de cernache com mil e quinhentos reis e de prezente por novo decreto dizer as missas dos domingos e dias sanctos /para popuo/ me da o reverendissimo reytor do ditto collegio cinco mil reis e de funeraes poderá render um anno por outro vinte mil reis
não é colegiada, nem tem beneficiados
não tem conventos
não tem hospital
não tem misericordia
fora da villa em pouca distancia esta uma hermida da transfiguração do senhor – no lugar dos cavalleiros de sima esta outra hermida de sancto domingos – e no lugar dos cavalleiros de baixo outra hermida particular do padre francisco gomes nogueira da invocação de nossa senhora da graga; -- no logar das bouças esta uma hermida de sancto antonio no logar de ceyroquinho esta uma hermina de sancto antonio; - no logar da ponte esta uma hermida de nossa senhora da paz; - no logar da castanheira esta uma hermida de santiago – no logar do porto de balça esta uma hermida nossa senhora da natividade; - no logar da covanca esta uma hermida de sancto amaro – no lugar de ceyroco esta uma hermida de sancto antonio nas quais dá missas sanctas nos dias (…) e não tem (…)
os fructos da terra são castanhas, pão e algum milho e mel
tem juis ordinário e camara que (…) o doutor corregedor da cidade da guarda
não hé couto mas sim cabeça de concelho
não há memoria que nellas (…) homens por virtude, (…) ou axmas
não tem feyra
não tem correyo égua, distante dés léguas da cidade de coimbra a onde elle chega e da cidade de lysboa fica distante quarenta léguas – alguns previlegios tem dos conegos regulares do collegio (…) de santa crus de coimbra
nesta freguesia á muitas fontes sem apparato algum, a qualidade das aguas é muito fria
não há porto de mar
não hé terra murada

não padeceu ruina alguma no terramoto de mil sete centos e quarenta e cinco digo de cinquenta e cinco

27 de agosto de 2013

Pequena história trágico-marítima


Somos seres terrestres, por isso se admira quem dedique muito entusiasmo a viagens marítimas. Já no final das férias, escolhe-se uma viagem de veleiro, a sair do mar com entrada pelo Tejo, será interessante ver o Bugio de perto, a cidade de um outro ângulo. O início de tarde é ameno, a água parece um espelho, mal se adivinhando o vento (de 45 nós) que se iria levantar. Se as previsões fossem fiáveis, a saída teria sido adiada. De súbito, tudo muda: os sete passageiros (não contando com o comandante e o seu auxiliar) passam todos para um dos lados do barco, dada a inclinação extrema. As ondas galgam a embarcação, fazendo com que todos fiquem encharcados até aos ossos, protegem-se máquinas fotográficas, sob risco de ficarem inutilizadas, o esforço parece vão. Decido entrar na parte protegida do barco, onde fica uma pequena sala e cozinha para fazer companhia aos mais novos que por lá se abrigaram. Saltam almofadas dos assentos, ouve-se, do exterior, o fundo da embarcação a bater nas ondas. Sugiro aos mais novos que façam um esforço para imaginarem como teria sido há 6 séculos, com embarcações artesanais e viagens que duravam meses… Finalmente, a chegada a terra, a tiritar de frio e com um sentimento de segurança. É bom sentir chão debaixo dos pés.




Duas observações finais: caso não fossemos passageiros com autodomínio (em todas as faixas etárias), o comandante teria uma tarefa extra; as imagens captadas, ainda em águas serenas, ficarão como memória futura.

23 de agosto de 2013

Férias que voam


Aspiração: ser-se formiga diligente procurando, para tal, seguir os caminhos assinalados. Até lá, o canto das cigarras, apelo dos campos próximos, enquanto um novo ciclo de trabalho se aproxima a passos rápidos- um ladrão, o tempo.

16 de agosto de 2013

Penso que é das linhas publicitárias mais antigas em Portugal. A Tokalon teve sempre anúncios interessantíssimos. Este apareceu no Portugal Ilustrado nos anos 50.


Ficam tão lindos os fritos...


A sopa Brandão

Quais sopas de espargos, consommés e quejandos...Caldo verde com chouriço é que é... Nunca conheci esta marca porém. O anúncio é dos anos 50. O nacional é bom.


Ray-Ban

O fascínio de uma marca...


Poderosa

O que eu mais queria era ter um busto admirável.Tipo monumento do Estado Novo, como diria a Maria Archer .


14 de agosto de 2013

O primeiro livro

 
Tinha uma colecção da Enid Blyton para vender. Foram todos arrematados por uma jovem de voz fresca e risonha. Ao fim da tarde encontro-me com a irmã que os recolhe. Quero outra colecção igual, diz ela Para a minha filha. Acho graça a uma jovem gostar de ler o livro pela mesma edição que eu li e separam-nos uns 20 e muitos anos. E imagino a pequenita daqui a uns anos a saboreá-los. Não é a primeira vez que me acontece, os pais comprarem livros, da mesma edição em que os leram , para os filhos. Acho um poderoso acto de amor:)

9 de agosto de 2013

Urbano Tavares Rodrigues (1923-2013)


Recordo-o dos corredores da Faculdade de Letras nos idos 70. Um dia, comprou-nos um bilhete para assistir à peça do então recente grupo de teatro da FLUL e ficámos orgulhosos com a atenção demonstrada. Nunca foi meu professor, mas aparentava uma afabilidade no sorriso com que nos brindava, sempre que nos cruzávamos nos corredores. Numa bela tarde de sol,  decidi faltar a uma aula, coisa penosa. Sentei-me cá fora, nos degraus, a ler um livro que então me fazia estabelecer como prioridade aquela mesma leitura. Vi que, ao transpor a porta do grande edifício,  me observava com o mesmo sorriso de sempre, surpreendendo-me por ali, a devorar páginas. Pensei que, mesmo não sendo sua aluna, me tinha apanhado em falta. No entanto, o ar suave matou de imediato o remorso de ‘gazeteira’.
"– E que sentido tem a nossa vida?, que responsabilidade não será amanhã a nossa se ficarmos quietinhos a assistir ao descalabro, nesta grande prisão de gente bem comportada, que é, ao mesmo tempo, o palco de uma peça de Ionesco, onde se tomam a sério as maiores imbecilidades e o bem se confunde a todo o momento com a injustiça, com a hipocrisia?!" – Urbano Tavares Rodrigues, Terra Ocupada

8 de agosto de 2013

Portas

Não vão ser precisos nos próximos dias. E odeio que graffitem estas portas!


6 de agosto de 2013

Agosto em notas soltas


Existem muitas formas de tentar juntar os proventos necessários para fazer face às despesas do quotidiano. Há quem recorra ao que sabe fazer, com maior ou menor mestria. Há ainda quem tenha começado a mudar os hábitos, fazendo-nos sentir alguma vergonha (é mesmo este o termo) ao ganhar coragem para pedir auxílio a quem passa. Apontamento primeiro: no parque de estacionamento de um supermercado, um homem de 77 anos, de roupa cuidada, embora humilde, pede auxílio para as despesas . Confessa a parca reforma, a renda da casa há dois meses por pagar, as 3 crianças a cargo e uma filha. Estranha-se a ousadia e, por momentos, emerge a desconfiança . O pai dos pequenitos encontra-se a cumprir pena num país estrangeiro, a filha cuida dos netos, o homem recebe cerca de 300 euros de pensão…


Apontamento segundo: fazer apelo aos turistas, numa cidade não muito distante, com ou sem arte. No primeiro caso, a música encanta, as caricaturas são apelativas; no segundo, alguns mimos surgem a despropósito – uma mulher vestida de sereia, em dourado, junto à catedral, os supostos 'Santiagos', em tom kitsch ou ainda uma jovem de pés sujos, a vender cartão prensado com rabiscos a negro. Uma turista compra-lhe uma suposta obra de arte. A mulher abraça-a e dá-lhe um beijo repenicado. Mal a compradora vira costas, beija o focinho de um cão, de pelo hirsuto, e, com um sorriso, guarda a nota na algibeira.