31 de agosto de 2010
Alain Corneau (1943-2010)
(imagem: Olivier Leban-Mattei/Arquivos AFP)
Faleceu no passado domingo o cineasta francês Alain Corneau cujo último trabalho, Crime d’Amour, acaba de ser apresentado em França.
Para além de realizador, Corneau era ainda produtor e guionista.
Tous les matins du monde, um dos filmes emblemáticos, foi produzido em 1992 e relata a história de um músico do século XVII, tendo sido galardoado com o César de melhor filme.
A propósito deste homem do cinema, afirmou Claude Lelouch «sempre bem humorado e optimista, mesmo já doente. Destacavam-no a amabilidade, generosidade e grande consideração pelo público. Acerca do seu trabalho, podemos falar num estilo Corneau».
Jordi Savall prestou igualmente homenagem ao cineasta e pianista que retrata como «grande melómano de imensa sensibilidade, grande apreciador de jazz e de música barroca. Possuidor de uma imensa cultura geral e musical, era um dos maiores conhecedores do reportório da música barroca».
excerto de Tous les matins du monde
Agradecimentos: L’intern@ute Magazine
Cartilha
30 de agosto de 2010
O novo que é antigo
Vermouth Mayoral
Caneta de tinta permanente
A avó veio buscar-me para o almoço, perguntou-me como é que tinha sido a manhã na escola e eu, com duas lágrimas a deslizarem-me pela cara, contei-lhe a minha manhã de caneta-de-tinta-permanente-preta-de-argola-dourada. Quando os meus pais foram buscar-me a casa dela ao fim do dia a minha avó explicou-lhes o caso. Os meus pais registaram mas não reagiram logo, coisa que me angustiou e angustiou a minha avó só de me ver angustiada. Rumo a casa sem pararmos numa papelaria para eu poder escolher uma nova caneta, o assunto tinha ficado em stand by. Passaram-se mais uns dias e eu sem nova caneta de tinta permanente. E, uma tarde, quando a minha avó foi buscar-me à saída da escola, paramos na montra da papelaria do Sr. Emílio … tantas canetas de tinta permanente, deviam estar na moda, havia de todas as cores, com todos os motivos e super heróis… e havia uma com a Minnie, cor-de-rosa. A minha avó entrou comigo no Sr. Emílio e resolveu ali todas as minhas preocupações e foi assim que no dia seguinte eu cheguei à escola com uma caneta nova, cor-de-rosa, com a Minnie e com recargas descartáveis.
... querida avó
29 de agosto de 2010
A memória está onde menos se espera
Chamo a atenção para o interessante artigo de Alexandra Prado Coelho, “Os melhores museus estão onde menos se espera”, publicado no último ‘ípsilon’, de 27/08/2010, citando o parágrafo final do mesmo: “E assim, graças ao Marquês de Pombal e ao pescador que um dia encontrou uma ânfora em Portimão, aos amigos de Camilo e ao farmacêutico de Penafiel, aos chapeleiros de São João da Madeira e ao rio Arade, que guardou o passado para o devolver quando achou que, finalmente, lhe íamos dar atenção – graças à teimosia e à visão de todos eles parece que, afinal, não vamos perder a memória”.
O que me motiva referir o artigo é, ao lê-lo, verificar a mudança que se está operando na mentalidade portuguesa quanto ao sentir o seu património cultural.
O património cultural ganha, cada vez mais, a dimensão de proximidade às comunidades por ele referenciadas, deixando de ser visto como algo impessoal e distante, ganha a dimensão de memória e identidade.
A monumentalidade da pedra edificada, a raridade do manuscrito, a beleza da obra plástica, a agradável sinfonia, passaram a coexistir e a emparceirar com a história de vida dos indivíduos que, com o seu quotidiano, foram marcando e moldando o território.
Assim, a memória de uma comunidade ganha espaço e alarga horizontes à tradicional visão do património cultural, motivando as populações para a sua valorização e fruição, criando agentes activos para a preservação da memória de todos nós.
Foto original de Nelson Garrido, (re)fotografada a partir do artigo citado, na versão papel.
Informações de utilidade...
Uma churrasqueira onde têm sido feitos excelentes grelhados. Como informação adicional refira-se que os seus proprietários, na altura em que lhes foi oferecido o azulejo, tinham em casa dois belos exemplares canídeos do sexo feminino (esclarecimento que evitará interpretações menos precisas).
Pulp Fiction
28 de agosto de 2010
Doçaria regional das Caldas
E se assim me chegaram três destes bolinhos das Caldas, presente de bons amigos. Gosto do papel de embrulho e do formato do doce.
O taxista existencialista
Cheia de sono, agarro nos sacos de revistas que comprei na Feira da Ladra (avisada pela TR que devia ir lá num ápice) e olho para um livro que ficou no chão do táxi. E digo ou penso alto, mas este livro não é meu. Pois não, diz o taxista. Mas se quiser ofereço-lhe, já li. Era a Náusea de Sartre.
27 de agosto de 2010
Beleza pura
O calor do dia convidava a um passeio ao serão. Surpreendida com uma venda de alfarrabista a horas um pouco avançadas (para a própria que costuma madrugar), descubro o que consiste, a título pessoal, numa preciosidade. É que alguns livros trazem evocações. A imagem representada é retirada de um desses exemplares que existe em casa da família mais próxima. Num passado algo distante tentei adquiri-lo , tendo ficado a saber tratar-se de uma edição de tiragem limitada e, como tal, fiquei-me pela intenção…
Lá por casa e nos idos 70, ficámos fãs de algumas das suas receitas que ainda hoje se tornaram clássico familiar ( copiei algumas das páginas o que, para além da trabalheira, não é o mesmo que ter o estético objecto-livro).
Esta obra, As 100 receitas mais famosas do mundo, conta com a colaboração técnica de Maria de Lourdes Modesto e teima sempre o olhar em se colar a esta fotogénica Sacher Torte (eternamente adiada para tempos de maior inspiração).
Sendo o autor - como será do conhecimento de muitos - um famoso chef que lhe dá nome (este Sacher nunca poderia ser o Masoch nem seu parente afastado), fica-se a pensar em outras receitas baptizadas com o nome dos seus inventores. Para lá dos que se dedicaram quase exclusivamente à cozinha – incluindo-se na lista o “nosso” Gomes de Sá – outro sonho gastronómico (para além desta delícia com "resmas" de chocolate) é sem dúvida o das amêijoas à Bulhão Pato (que me perdoem uma vez mais os não apreciadores de coentros, como será possível incluí-los no rol das abominações?) ficando-se a pensar que só um poeta as poderia ter inventado, receita responsável – penso eu “de que” – pelo início de uma nova era (d.B.P: depois de Bulhão Pato) dado ser a junção azeite, alhos e coentros uma das mais conseguidas através dos tempos...
Uma bela ilustração infantil
Indispensável
Quando viajava em miúda era fascinada por estes anúncios pintados em muros,casas e quejandos. Ainda hoje não sei muito bem para que serve o Nitrato o Chile, mas que gosto, gosto.
26 de agosto de 2010
Quando as férias se aproximam do fim...
Num piscar de olhos passa o Verão. Apelidado de silly season - alguns destaques ao jeito de imprensa rosa, os veraneantes por todo o lado em ruidosos ajuntamentos «trouxeste(s) gelo?», «(a)onde está a bola?», «esqueci-me das acendalhas!» a rasgar a tranquilidade da paisagem, trazem notas dissonantes para quem preza a pacatez dos dias longos.
Chega, pois, alguma saudade antecipada quando se aproxima o regresso à rotina. Ciente de que o ócio sem prazos é nocivo, a rentrée profissional cai com brusquidão, qual antiga porta ondulada de estabelecimento comercial.
Instantâneos do pôr-do-sol – tão bonito quanto banalizado em pinturas de duvidosa qualidade – lembram que, a curto prazo, o dia se tornará cinzento (pelo menos neste microclima entre a serra e o mar) e começará a rotina do despertar antes do nascer do sol.
Apontamentos colhidos nas imediações levaram a estes breves pensamentos, tendo-se ficado a pensar em como alguns quadros de cores a lembrar incêndios podem banalizar a magia de um dia que se dilui. Como o nascer do sol costuma ter maior expressão em despreocupadas etapas da vida – quando se fala com displicência e alguma regularidade em "fazer directas" - vem à memória (surpreendente para quem em poucos anúncios repara, exasperando, desde há muito, quem faz sondagens sobre publicidade) um antigo anúncio que ficou nítido até ao presente.
I can see clearly now
Tex Avery: uma nova era nos desenhos animados
(imagem: MGM)
Faz hoje 30 anos que faleceu Tex Avery. A efeméride torna-se pretexto para lembrar o animador norte-americano que, com os seus desenhos animados, fez as delícias de várias gerações, continuando a marcar pontos pela criatividade e cunho pessoal que os caracterizam.
Tendo quebrado com os moldes realistas das produções Disney, Avery deu início a uma nova era na animação. Quem se não lembra – para não cairmos na exaustão - de personagens como Daffy Duck e respectiva pronúncia de “sopinha de massa”, Bugs Bunny ou Porky Pig e a indissociável gaguez que o destacava?
Fica, pois, em jeito de aperitivo, um breve apontamento em vídeo para quem pretenda relembrar outros dos seus trabalhos.
Magical Maestro
Grand master rabbit
As imagens da net
Savez-vous plaire?
25 de agosto de 2010
O Incêndio do Chiado
No dia 25 de Agosto de 1988 a cidade de Lisboa foi palco de um dos mais violentos incêndios da sua história – o “incêndio do Chiado”.
Este incêndio provocou a total destruição de 18 edifícios, alguns deles emblemáticos do comércio da cidade: Armazéns do Chiado, Estabelecimento Eduardo Martins, Pastelaria Ferrari, Casa Batalha, e outros espaços do comércio tradicional. Muitos escritórios e habitações ficaram também destruídos. Calcula-se que cerca de 2.000 pessoas perderam os seus postos de trabalho.
No combate ao incêndio estiveram envolvidos cerca de 1.150 homens e 275 viaturas.
Registaram-se duas vítimas mortais e 73 feridos, na sua esmagadora maioria bombeiros.
Este acontecimento marcante na vida da cidade foi, pela sua dimensão, alvo de uma enorme cobertura mediática, tanto em Portugal como no estrangeiro. Desde as primeiras notícias, ainda carregadas de incerteza, divulgadas no início da tragédia, até ao acompanhamento do longo processo de reconstrução da autoria do arq.º Siza Vieira, são milhares as referências que este acontecimento suscitou. A informação que aqui disponibilizamos refere-se apenas à cobertura que o Diário de Lisboa fez do acontecimento nas duas primeiras semanas.
Veja aqui.
24 de agosto de 2010
Quotidianos
Saio de casa rumo ao supermercado (designação megalómana) das imediações para pequenas compras indispensáveis, por diversas vezes esquecidas nas últimas tentativas de logística doméstica em vã tentativa de ser metódica (aspiração quase inatingível, mas da qual se não desiste). A lista das aquisições fica frequentemente por fazer. Invejo ( forma de dizer…) aqueles que, quais verdadeiras fadas (femininas e masculinas) do lar têm, na cozinha e em local bem visível, um quadro em fórmica – os mais tradicionais a velhinha ardósia – onde vão apontando as baixas do dentífrico, do sal, das molas para a roupa…
Já na caixa, a sorridente e há muito conhecida funcionária, ao fazer a leitura do código de barras das pastilhas de detergente para a máquina de lavar a loiça desculpa-se, com ar envergonhado, explicando: «o excesso de fita cola que colocámos nas embalagens é para evitar roubos, assim dificultamos a abertura». Sem que tivesse reparado no ‘eficaz’ sistema anti-roubo , o meu ar intrigado leva à explicação : o detergente para a roupa e para a loiça é, nos tempos recentes, gradualmente desviado à socapa, tendo alguns clientes reclamado, pois chegavam a pagar embalagens que continham unicamente 3 a 4 pastilhas quando nas caixas se lia a referência a diversas dezenas… é que o estabelecimento de pequena localidade não possui videovigilância e a funcionária da caixa é a mesma que repõe as mercadorias nas respectivas prateleiras (em tempos mais prósperos havia auxiliares em triplicado).
Há alguns anos, os meus alunos desabafaram, indignados, após uma ida a tribunal no âmbito da sua área de estudos. Tinham assistido ao julgamento de uma idosa que, pela terceira ou quarta vez, era apanhada a furtar pequenos bens tais como: queijo, manteiga, pão… O ar de velhinha frágil e os argumentos pessoais de mísera reforma associada a uma saúde precária tinham gerado a indignação entre estes jovens. Fico em primeira instância a pensar se quem tem máquina para a loiça não pode comprar o respectivo detergente. Teoricamente, tudo levaria a crer que sim…
Um post de verão
O campo é daqueles lugares míticos onde se passa férias. Longe da confusão das praias, o sossego, a boa comida, as sombras frescas.
Às vezes.
Tome-se como exemplo uma das mais celebradas actividades de férias: os grelhados no carvão. Começa com uma ida de manhã cedo à praça ou ao supermercado comprar peixe. Excelente peixe de aviário, a um preço pelo menos duas vezes superior ao do sítio do costume. O turista mune-se de carvão e acendalhas (a churrasqueira da casa tem estes materiais, mas com aspecto duvidoso) além de uma grelha nova para substituir aquela coisa preta e gordurosa que jaz sobre as cinzas frias lá no sítio.
Pelo meio dia e meia começa o processo de acender o lume. Depressa o turista percebe que a ventilação é deficiente, por entupimento da gaveta das cinzas que está encravada. Tarde de mais: o lume já está aceso, ainda que absolutamente ineficaz. Procura-se o abano que devia existir, mas que não há. Usa-se alternativamente uma tampa de plástico rectangular que por ali pára. O abanar furioso há-de resultar em dolorosas bolhas na base dos indicadores do enérgico espevitador do lume.
Passaram quarenta e cinco minutos desde o início do processo e o pimento solitário em cima da grelha começa, finalmente, a dar mostras de assadura. Numa das pontas. O resto está cru. Mais carvão, mais abanadelas e uma bolha acessória. Pimento finalmente assado, entram as douradas. O calor malha nas costas do turista suado. O calor e as moscas que, entretanto, se aperceberam de que há peixe e turista fresco nas redondezas. Surgem ainda em cena diversos subtipos de abelhas e vespas igualmente interessadas no esforço culinário. O abano passa a servir de enxotador de insectos volantes.
O peixe vai grelhando. O turista percebe, horrorizado, que os três peixes estão a grelhar de modo desigual: enquanto um está quase preto, o da outra ponta está branquinho como quando saiu do tanque de aquacultura. Rearrumação urgente do carvão, uma sacudidela e uma volta na grelha, o que resulta no efeito pouco elegante de uma dourada mergulhar a pique no carvão e ter de ser pescada à tenaz. Calor, moscas, o cheirinho do peixe a grelhar, o suor pelas costas abaixo. O turista lá retira a grelha do lume. O peixe está colado às varetas. Com um garfo e uma colher de pau o turista vai arrancando ao metal os restos calcinados do que foram em tempos douradas. Alguns bocados vão parar ao carvão e regressam à travessa com um toque de cinza.
Às duas e meia está tudo à mesa. O peixe é elogiado com pouca convicção. A salada e as batatas estão boas. O turista tem um sorriso levemente alucinado no rosto. Recorda outros combates análogos, como uma churrasqueira sem tiragem onde em tempos assou sardinhas: saiu de lá gaseado como num incêndio florestal e tresandou a sardinha durante uma semana. O sorriso não se apaga. O turista lembra-se de que, mesmo ao lado das grelhas de carvão, há no supermercado grelhas eléctricas, daquelas da Tefal, antiaderentes, sem fumo. Rápidas, eficazes, fáceis de usar e de lavar. Os do supermercado são profissionais e sabem do que a casa gasta.
23 de agosto de 2010
Deserta está a cidade
Mês de Agosto em que a cidade é pertença de quem a deseja conscientemente percorrer. Tempo de êxodo urbano em fugaz suspensão da rigidez de horários, desaparecimento da «voragem empolgante» tal como a retratou Rodrigues Miguéis por tanto conhecer o bulício citadino…Mesmo com orçamentos contidos , a diária caravana através da ponte à procura de sol, de mar... No passado alguém afirmou que Coney Island se encontrava para os nova-iorquinos como a Costa para os lisboetas. Não sei se será legítima tal aproximação e há muito que não visito a praia da margem Sul … Surgiu o pensamento quando os olhos se fixaram num dos poucos locais a trazer uma certa nostalgia do bulício: o parque infantil expondo-se, sem sentido, quando afastado de risos e correrias de criança.
Despojado o local de cores e chilreios, ganham sentido fragmentos desta Elegia número onze:
[…]
- são os passos que fazem os caminhos.
Deserta está a cidade.
Se houvesse alguém andando sozinho
- para ele se acenderiam então, como um olhar, todas
as cores!
Porque a cidade está cega, também.
O que não é visto por ninguém
não sabe a cor do aspecto que tem.[…]
Mário Quintana
viva a república !!!
na cordoaria está a melhor e mais completa exposição que já vi em portugal sobre um determinado período da nossa história.
'viva a república' é uma enorme fonte de informação sobre o nascimento dos sentimentos republicanos, a deliquescência da monarquia e os anos da república em portugal até ao estado novo.
ontem demorei 3 horas para a ver e a segunda metade foi vista quase na diagonal a exigir que lá volte rapidamente.
a república precisava de uma exposição assim e nós também.
mas a dimensão e a qualidade desta exposição merece ser transformada na base do museu da república.
será um crime se for simplesmente desmontada no final das comemorações do centenário.
não a percam, pois crimes é o que mais temos em portugal.
22 de agosto de 2010
Pai conquistado
Este verão tenho passado poucos dias com a minha filha e sinto a falta.
Por variados motivos e algumas boas motivações tem-se ausentado e, assim, não temos compartilhado tantos momentos como era habitual nas férias de verão e pelos quais ansiava. O estudo para os exames, o passar uns dias com os amigos, as saídas à noite e não sei mais o quê, têm contribuído para a sensação de perca que me atazana e gerado saudade.
Claro que sei que tudo isto é muito normal para a idade que tem, dezassete anos, como é normal que a recordação dos bons momentos me invada e ocupe os meus pensamentos.
Um desses momentos que retenho, e que me agrada demais recordar, passou-se quando a minha filha tinha três anos, mais coisa menos coisa. Era um dia igual a tantos outros e, ao fim da tarde, fui buscá-la ao infantário. Adorava ir buscá-la ao colégio, auxiliá-la com a mochilinha e virmos pela rua de mãos dadas a conversar.
Conversávamos sobretudo sobre o dia dela, dos outros meninos, da educadora e também de coisas que, sem saber bem de onde vinham, se soltavam da sua cabecinha a crescer.
Nesse dia, sem ainda hoje conseguir descortinar bem a origem, colocou-me uma questão para a qual não fui capaz de responder, mas que me conquistou por completo:
- Ó pai!
- Sim filha, diz!
- Ó pai! Quando tu ainda não eras meu pai, pai, quem era o meu pai, pai?
Foto de Martine Franck; Magnumphoto
21 de agosto de 2010
Realidade e ficção em Hollywood - II
(imagem recebida sem referência à fonte)
Transpondo o anúncio para a actualidade, não podemos deixar de esboçar um sorriso... chega subitamente à memória o carismático (e saudoso) professor de Cultura Portuguesa quando, numa aula, afirmou : «isto de um país ter como presidente uma actor não pode conferir seriedade à questão»...
Realidade e ficção em Hollywood - I
(imagem recebida por mail sem referência à fonte)
Em pausa de filmagens, o insólito da Vespa... será fácil identificarem o filme e os actores, fica o registo pelo choque de épocas.
Ben-Hur, Charlton Heston e Jack Hawkins e acertou a Felicidade.
O bebé mais fotogénico de 1963
Estas três crianças eram os bebés mais fotogénicos de 1963, ganhadores do concurso das Selecções Femininas, respectivamente Camila Manuela dos Santos Mendes, António José da Costa e Almeida M. Godinho e Maria Manuela N. dos Santos Cochito.
Onde estarão eles? Andarão pelo Facebook? Que eram lindos eram!
20 de agosto de 2010
Antigas leituras para a juventude
À procura de um outro livro, descubro este exemplar antigo. O nome do seu proprietário não surge na primeira página, mas o aroma inconfundível informa-me que só poderia ter provindo da estante do meu avô V, tantas vezes visitada no passado durante as férias grandes em Lisboa. Na terceira página, a confirmação. Pertencia ao meu pai quando era jovem. Dou comigo a pensar como era diferente a literatura infanto-juvenil na década de 40… tudo isto se cruza com um artigo ontem recebido do Canadá, dando conta de um estudo (aparentemente criterioso) norte-americano efectuado desde o ano 2000 e no qual se conclui que significativa percentagem de jovens, à entrada da universidade, defendem ideias como a de Beethoven ter sido um cão da raça S. Bernardo e a Checoslováquia nunca ter existido…
Folheando as páginas deste bocadinho de memórias e tendo plena noção do elevado número de crianças que injustamente pela nossa terra nem iam à escola nesse tempo, percebo como os conhecimentos genéricos (vulgo cultura geral) eram interiorizados, ao longo do crescimento, com a naturalidade de quem respira…
A Piteira
Perguntou Maria à mestra,
Vendo uma planta nascida:
- Como aparece isto aqui?
Quem a trouxe, ou lhe deu vida?
- Trazè-la? Talvez o vento,
Qualquer animal ou ave,
Lançou no vaso a semente
De que nasceu esta agave,
[…]
Da seiva fazem no México
Uma alcoólica bebida,
Que é pelo nome de pulca
Vulgarmente conhecida.
Faz-se também um xarope,
Simples e muito eficaz,
Que cura a tosse
Mais profunda e pertinaz.
[…]
a cidade de queluz existe?
por vezes temos dúvidas metafísicas que nos assaltam nos momentos mais inesperados.
hoje, enquanto lia o jornal, tropecei numa conversa sobre queluz, a cidade e as suas freguesias.
eu nunca percebi muito bem a razão de algumas localidades terem tanto orgulho nas suas classificações administrativas, como se de um campeonato se tratasse.
moro em queluz desde 1953 (sim, há mais anos que bués).
ao tempo queluz era uma aldeia.
o pendão ainda era tratado pelos queluzenses como uma localidade autónoma; o bairro económico era uma enorme quinta, o monte abraão era bom para semear trigo e caçar coelhos, massamá era uma estrada ladeada de quintas e, vagamente, toda a gente se conhecia.
mas havia já a 'ferver' um movimento dos 'melhores' queluzenses para a elevação a vila, coisa que obteve em 1961.
foi uma imensa e merecida vitória, diziam os notáveis senhores.
queluz ficou igual ao que era: nem maior nem mais pequena, nem melhor nem pior.
mas 'a luta' não acabava ali. obtida a 'vila', havia que subir mais um lugar na classificação e passar a cidade.
e em 1997 lá passou queluz a poder chamar-se cidade, integrada por 3 freguesias.
a questão que me assaltou hoje ao ouvir a conversa de circunstância no café, foi se a soma de 3 freguesias que cresceram separadamente umas das outras (embora monte abraão e queluz ainda tivessem durante mais tempo alguma ligação funcional) serve para que esse conjunto possa ser chamado uma cidade.
para ser uma cidade, ou uma qualquer outra forma de classificação administrativa, seria necessário existir uma espécie de 'governo' comum, com uma estratégia de administração e desenvolvimento que fosse pensada e feita para o conjunto das freguesias que constituem a cidade.
o que vemos hoje é cada freguesia a puxar pelos seus galões ignorando olimpicamente a outra, privilegiando claramente os intereses pessoais, carreiristas e partidários contra os interesses do aglomerado urbano e dos seus habitantes.
a cidade de queluz não existe !
é uma ficção administrativa.
mas podia existir, e seria útil que existisse, se 'a cidade' tivesse, de facto, uma forma de gestão que funcionasse para o conjunto da cidade.
hoje quem mora em massamá, jamais diz que mora em queluz (de facto o nome da cidade onde mora) e quase o mesmo se passa no monte abraão.
o triste nisto, é que ainda sem este assunto resolvido, o grande objectivo agora é o concelho.
como se a simples mudança administrativa resolvesse alguma coisa.
o exemplo da passagem a cidade não ajuda muito à causa, mesmo achando que a tal autonomia concelhia pudesse ajudar a resolver alguns assuntos de absurdos administrativos (como a divisão de massamá em duas freguesias, ou a separação de queluz de baixo (claramente integrada funcionalmente em queluz), noutro concelho.
a ver vamos, como diria o cego.
Peter Pan
O mimo
Era um dia de jantar como outro qualquer. Apeteceu-nos uma cervejaria e lá fomos, a uma das veteranas de Alvalade. Quando nos sentámos, houve qualquer descarga eléctrica no ar. Mas estávamos mais preocupadas com a ementa, nem atentámos. De repente ouço uma voz ríspida "Só no restaurante é que conseguimos falar!" Vemos um casal completamente absorvidos numa discussão. Aliás só ela é que fala. Ele grunhe baixinho. Intercepto um olhar lateral duma senhora de outra mesa. Arregala os olhos incrédula e trocamos sinais e sorrisos de cumplicidade. O estranho é que a refeição decorre, mas ninguém conversa, todos ouvimos a conversa do lado. Basicamente a questão é de que o senhor deixou de a mimar e não quer sair de casa. Ela sente-se nova e quer experimentar coisas. Ele só quer ver futebol e sair sozinho. Outro aspecto relevante é o aborrecimento. Mas o verdadeiramente estranho deste litígio é que se traduz por uma melopeia.de desespero contido. Estamos juntos há trinta anos, diz ela. Ele nem se percebe o que responde.
Quando pagam e se vão embora, todos os olhares os seguem. Ninguém imaginaria sem ter ouvido, que aquele casal com um ar tão calmo, foi capaz de tanta agressividade em público E que aquela senhora com ar tão amazónico sofre por ter falta de mimos. A vizinha do lado quando sai despede-se e a minha amiga diz "Lá estás tu, como de costume, a dar conversa a toda a gente no restaurante" Confesso que sim.
Fotografia de Martin Parr, Magnum