Dias estranhos estes. Hoje atravessei a cidade de manhã bem cedo e notei o silêncio, o canto dos pássaros, a paz que se exalava das janelas ainda fechadas. De noite acontecerão os festejos, os votos de felicidade, o estar com os outros, sentir a ausência daqueles que nos faltam para sempre.
Então, um desejo de um ano o melhor que se consiga fabricar, com saúde e trabalho como escrevia o ABS, com humor e energia para travar a luta pela felicidade que merecemos. E se a merecemos. Um abraço a todos os amigos que passam por aqui.
31 de dezembro de 2012
29 de dezembro de 2012
Ar rarefeito para acabar o ano
Estou a ouvir, maravilhado, um disco de Paul Buchanan saído em Maio último. Mid Air é o seu nome. Ouvi falar dele esta semana, pela voz de João Gobern, numa revisão de discos de 2012 da Antena 1.
O homem é há muito referência através da sua banda de vinte e tal anos, The Blue Nile. Esta gente nunca foi muito conhecida por estas bandas. Ganhou alguma notoriedade um belíssimo arranjo de Craig Armstrong a umas das canções dos The Blue Nile, e não muito mais. A banda acabou e Paul Buchanan gravou este disco agora.
Thin Air aparece como uma das escolhas possíveis entre os melhores discos do ano no Público e no Expresso, o que quer dizer que há quem esteja atento.
Pela minha parte direi apenas que isto é, para mim, e de longe, a melhor coisa que ouvi em 2012, e sem dúvida uma das coisas mais belas que ouvi em anos.
Bom 2013. Com saúde e trabalho, ao menos.
O homem é há muito referência através da sua banda de vinte e tal anos, The Blue Nile. Esta gente nunca foi muito conhecida por estas bandas. Ganhou alguma notoriedade um belíssimo arranjo de Craig Armstrong a umas das canções dos The Blue Nile, e não muito mais. A banda acabou e Paul Buchanan gravou este disco agora.
Thin Air aparece como uma das escolhas possíveis entre os melhores discos do ano no Público e no Expresso, o que quer dizer que há quem esteja atento.
Pela minha parte direi apenas que isto é, para mim, e de longe, a melhor coisa que ouvi em 2012, e sem dúvida uma das coisas mais belas que ouvi em anos.
Bom 2013. Com saúde e trabalho, ao menos.
dying to be famous, ou o mau feitio pode levar-te longe
a semana entre o natal e o ano novo é uma silly
season concentrada.
é uma espécie de ‘baba de camelo’, aquele doce desnecessário
que estraga a excelência do leite condensado apenas para parecer mais doce
ainda.
nesta semana, à falta de notícias (e não fora a bênção dos
céus chamada artur baptista da silva a coisa ainda seria pior), os jornais
descobrem uma série de novidades tão inúteis quanto desinteressantes às quais
chamam notícias.
hoje o público noticiava um estudo publicado no british
medical jornal, baseado na longevidade de 1489 músicos que terão atingido um
determinado nível de notoriedade baseado na presença, pelo menos uma vez, no
top de vendas americano ou britânico entre 1956 e 2006.
imagino que o ano de 1956 tenha sido escolhido para acolher
o ano em que elvis presley alcançou o top americano.
dos 1489 músicos analisados, 137 morreram no período
estudado, sendo que a média de idades para a morte dos mortos foi de 45,2 anos para os
americanos e 39,2 para os britânicos.
dos mais de 1200 que ainda não estarão mortos, a avaliar
pelas notícias, não sabemos a sua esperança de vida (olhando para muitas
bandas que se andam a arrastar pelos palcos aos 70 anos, a coisa não parece ser
muito má).
também esta semana, obviamente, foi publicado um outro
estudo, dos alemães marcus mund e mitte kristin, na health psychologies (e largamente difundido pelas televisões e jornais da paróquia) que conclui que ‘os mal
humorados italianos e espanhóis’ vivem mais que os rígidos ingleses (a
acreditar na leitura do daily mail).
eu sei que os britânicos e os alemães têm um umbigo um pouco
maior do que a cabeça, mas daí a achar que os italianos e os espanhóis são, em
regra, mal humorados e que é por isso que vivem mais tempo, é digo dos monty
python, que por acaso eram quase todos britânicos, ou de alguém que nunca visitou o sul da europa.
alguns músicos que morreram cedo tinham muito mau feitio (keith
moon, por exemplo era intratável, jim morrison não era flor que se cheirasse,
brian jones não era um anjo) e isso não parece ter ajudado à longevidade.
otis redding (e toda a sua banda) morreu na queda de um
avião; ritchie valens, buddy holly, jp richardson iam os três no mesmo avião
quando este caiu e morreram; jeff buckley morreu a tomar banho num rio porque
um barco lhe passou por cima; sandy denny morreu porque caiu na escada de sua
casa.
a lista seria longa e o meu conhecimento curto, mas isto são
mortes pela fama?
tudo se prova quando queremos fazer um estudo para provar
aquilo que queremos.
eu podia seguir o mesmo tipo de raciocínio e dizer que, por
exemplo, se 20% dos condutores que tiveram acidentes estavam alcoolizados, é
mais seguros conduzir embriagado do que sóbrio, porque os condutores sóbrios
que tiveram acidentes eram 80% do total.
e nada como uma silly season para o publicitar
28 de dezembro de 2012
Na Rua da Vitória
Na rua da Vitória, ao lado da igreja que lhe dá o nome,
existe um marco de correio. O envio de uma mensagem, notícia ou lembrança pelo
correio está em desuso.
Talvez por isso, cada vez mais se comunica directamente,
utilizando os mais variados códigos e suportes para as mensagens, notícias ou
lembranças que se querem dar ou transmitir. Do outro lado da rua, em frente da
igreja, existem estes exemplos:
A Beata |
O Observador |
Melhoras duradouras |
Glorias Passadas |
26 de dezembro de 2012
O villancico: um pretexto para lembrar Lhasa De Sela
Entre os cânticos tradicionais (villancicos/vilancetes) de Natal em castelhano, Los peces en el rio, em lugar de destaque no «top pessoal» : os peixes que dançam (e bebem), entusiasmados, com o nascimento do menino. A mãe cumpre os gestos do quotidiano: penteia os cabelos de oiro ou, noutra passagem deste tema tradicional, lava os paninhos no rio, em cenário apelativo onde o alecrim adoça a paisagem. Mais um pretexto para recordar a fantástica Lhasa De Sela.
Los peces
Foto: aquário de Tóquio
o creminoso volta sempre ao local do creme
este natal a reunião da família foi no exacto local onde, da última vez que lá estive para o mesmo propósito, parti duas costelas.
nada de grave, que todos temos muitas.
desta vez as tangerinas e os limões já estavam em caixas e a única coisa que podia estragar eram as 'cruzes', de me baixar para levantar as caixas.
os próximos dias prometem tangerinas cristalizadas, limoncello (e os cubos de sumo de limão congelados, ready to use), uma experiência com uma compota de cenoura e vidrado de tangerina (a ver se consigo..), marron glacé (com uma variante em que o vidrado das castanhas é sobreposto de uma camada de ganache. a ver o que dá, que isto é como o governo: não fazemos a mínima ideia como funciona, mas experimentamos e logo se vê. se não funcionar, a culpa é do lume.).
o natal é isto, digo eu que sou ateu.
o fim de ano será em fajão, já se vê.
com frio e madeiro a arder no adro.
as tradições são para manter.
(pena que não se inaugure uma tradição de trocar o perú pelo coelho para esfolar num natal à escolha)
nada de grave, que todos temos muitas.
desta vez as tangerinas e os limões já estavam em caixas e a única coisa que podia estragar eram as 'cruzes', de me baixar para levantar as caixas.
os próximos dias prometem tangerinas cristalizadas, limoncello (e os cubos de sumo de limão congelados, ready to use), uma experiência com uma compota de cenoura e vidrado de tangerina (a ver se consigo..), marron glacé (com uma variante em que o vidrado das castanhas é sobreposto de uma camada de ganache. a ver o que dá, que isto é como o governo: não fazemos a mínima ideia como funciona, mas experimentamos e logo se vê. se não funcionar, a culpa é do lume.).
o natal é isto, digo eu que sou ateu.
o fim de ano será em fajão, já se vê.
com frio e madeiro a arder no adro.
as tradições são para manter.
(pena que não se inaugure uma tradição de trocar o perú pelo coelho para esfolar num natal à escolha)
25 de dezembro de 2012
Partilhar
Depois de passado o dia de anti-Natal, espero retomá-lo como princípio de vida. Partilhar amor, cidadania e solidariedade com todos, incluindo a família.
Relembrando o que o meu pai escreveu:Quando Natal já não for,
Já não for o frio Dezembro,
Não quero guardar o amor
Na arca onde não o lembro.
[Amilcar Gil]
22 de dezembro de 2012
A cada um o seu Natal...
Na Austrália, o 25 de dezembro chega no verão e é, com frequência, celebrado na praia. Confrontados com a situação de descreverem muitos dos cânticos de Natal paisagens com neve, os australianos reescreveram-nos, substituindo renas por cangurus. Greg Champion e Colin Buchanan, respeitando a estrutura dos christmas carols adaptaram-nos, transformando grutas em arbustos e idealizando trenós puxados por marsupiais, cenários apropriados a cânticos natalícios entoados à volta de fogareiros onde são cozinhados os churrascos.
Aussie Jingle Bells
Imagem: my.opera.com
20 de dezembro de 2012
Apocalipse a modos que doméstico
Sabemos que o que faz história na comunicação social é, em grande parte, «o homem que morde o cão»… frase gasta, com validade no quotidiano dos leitores. Certos acontecimentos são levados às últimas consequências, em detrimento de informações cruciais a que qualquer cidadão tem direito. Apesar das reflexões, fica-se a pensar no que se terá passado na «vida real» (?), quando é notícia o facto de um cliente de determinada instituição bancária ser atendido na rua por – segundo o jornal – se encontrar «mal vestido»… É passada em revista uma discussão memorável, no interior de um autocarro da cidade, entre um passageiro que, de fato macaco embebido em óleo, insiste em ocupar um assento deste transporte e o motorista, informando-o que o não pode fazer, sob risco de estragar o vestuário de passageiros quando vagar o banco onde se sentou… a memória surge, nítida, mesmo que nada tenha a ver com o cliente da instituição bancária com exigências de rigor do figurino (terá sido mesmo assim?). Também se fica de olhos arregalados com este apocalipse now, já programado para o dia de amanhã… Parece que na cidade de Tomsk foi comercializado um kit de sobrevivência para o evento, contendo o mesmo – passa-se a citar: «cereais, uma barra de sabão, um canivete, pastilhas purificadoras de água, um estojo de primeiros-socorros, velas, uma caixa de fósforos e - como não podia deixar de ser - uma garrafa de vodka». Fica-se a pensar se por aqui não haverá influência do antigo Egipto, caso contrário para que serviria o conteúdo desta caixinha comercializada pelo equivalente a 25 aéreos? Cada vez com maior dificuldade em destrinçar realidade de ficção, prepara-se uma evasão rumo ao sol sem que, num relâmpago, surja a memória da quadra que – opinião pessoal e discutível – deve ser festejada em qualquer altura do ano, desde que não se sinta a agitação e algum azedume (a evitar) destes dias que atravessam as chamadas «festas».
Have yourself a merry... whenever.
P.S: continuamos a encontrar relatos mais verosímeis em Orwell com o seu 1984.
gareth malone, ou a música como serviço público
o meu conhecimento de gareth malone não vem, ao contrário da maioria das pessoas, da premiadíssima série ‘the choir’, mas dum programa que em tempos realizou sobre as canções de marinheiros: shanties and sea songs with gareth malone'.
um excelente programa que parte de portsmouth, no canal da mancha e vai até gardenstone no norte da escócia para aí perceber a participação das mulheres na vida e nas canções sobre o mar.
pelo meio é uma lição sobre este património notável que os britânicos souberam preservar como ninguém.
mas os shanties são apenas uma das paixões de gareth.
a sua maior paixão parecer ser uma espécie de vontade indomável de por o reino unido a cantar e realizar essa enorme tarefa como uma espécie de serviço público.
a sua obra mais visível e premiada, é o programa ‘the choir’, onde gareth cria coros a partir de gente pouco provável para cantar em grupo.
a primeira experiência começou em 2007 numa escola nos subúrbios de londres (northolt high school), depois a série continuou com ‘boys don’t sing’, ‘unsung town’, gareth malone goes to glyndebourne, military wifes ou sing while you work.
nestes programas trabalha com jovens problemáticos, mulheres de militares no afeganistão, trabalhadores de hospitais, correios ou aeroportos.
dois programas têm para mim uma especial importância: ‘the big performance’, onde trabalha com 10 adolescentes vítimas de gozo e violência na escola e com dificuldades de auto-estima e os prepara para um concerto com milhares de pessoas ao vivo e uns milhões na televisão.
outro, com pouca música envolvida, ‘extraordinary school for boys’, é um trabalho notável de recuperação de um grupo de quase 40 miúdos dos 5º e 6º ano de uma escola pública com dificuldades na leitura e na expressão oral, e com um atraso significativo relativamente às raparigas da mesma idade da mesma escola.
gareth malone tem um ar de puto simpático contagiante e uma notável capacidade de gerar confiança naqueles que o rodeiam.
gareth malone fez serviço público!!!
ainda bem que o faz.
extraordinary school for boys, ep.1
(os dois restantes rapidamente se encontram no youtube junto a este, bem como de todos os seus programas e ter uma noção do notável trabalho realizado por gareth malone)16 de dezembro de 2012
Os melhores livros com narradores adolescentes
(imagem de uma edição de Catcher in the Rye de Salinger)
O The Guardian divulgou, na presente semana, aqueles que – em opinião do autor da peça – se inscrevem na categoria de êxitos literários cujos narradores são adolescentes. De um conjunto de dez obras, são de destacar algumas das traduzidas para português e por cá também tornadas famosas, a saber:
- O diário secreto de Adrian Mole aos 13 anos e 3/4 da autoria de Sue Townsend, cujo narrador personagem provém de uma família disfuncional da classe média. Nos últimos números da série, Mole muda-se para Londres, é auxiliar num restaurante do Soho, acabando por encontrar emprego num alfarrabista da cidade;
- As aventuras de Huckleberry Finn (como foi lido e relido na juventude!) de Mark Twain… Huck é o típico adolescente «outsider» (não encontro palavra em português que expresse tão bem a ideia, as desculpas aos puristas da língua). A viagem que faz pelo coração da América com Jim – o escravo em fuga – representa o caminho para a liberdade, ao longo do Mississipi. Finn teima em continuar a jornada, na tentativa de impedir a tia Sally de o sivilizar (‘sivilize’, de acordo com o texto original);
- Jan Eyre de Charlotte Brontë. Os limitados horizontes de Jan Eyre, a par das esperanças frustradas da narradora, não deixam de exercer fascínio entre os adolescentes que com ela se identificam. A resignação patente nas últimas linhas do romance «leitor, casei-me com ele» inscrevem-se, na perfeição, no arquétipo da ficção vitoriana;
- À espera no centeio de JD Salinger. Holden Caulfield começa por despertar o leitor na aproximação a Huck Finn . Lança a questão: será interessante para o leitor saber onde nasceu e se a infância miserável se cruza com a de Hucleberry Finn?. Escreve-nos a partir de uma instituição a escancarar portas, permitindo-nos entrada. Destinado a um público adulto, o romance de Salinger tornou-se popular entre os jovens, pela abordagem muito pessoal da desorientação adolescente, da alienação, da angústia e da revolta;
- A ilha do tesouro de Louis Stevenson. Jim Hawkins, o narrador adolescente, abre a peça de ficção com uma fórmula apelativa aos olhos do leitor: «Num certo dia do ano de mil setecentos e tantos, um velho marinheiro moreno, com uma cicatriz no rosto, bateu com o seu bordão ferrado à porta da estalagem Almirante Benbow…»;
- A Laranja Mecânica de Anthony Burgess. Clássico distópico, a comemorar 50 anos de existência, dá voz a um adolescente impetuoso, abrasivo e romântico de nome Alex. Passado numa Inglaterra em tempos de «um futuro próximo», o protagonista adolescente acompanha o grupo (os «Droogs») em rituais de violência, durante a noite. Os membros do grupo têm diversas características: Dim, o de raciocínio lento; Georgie, o ambicioso; Pete, a deliciar-se com a alegria sádica dos elementos. Alex revela um gosto sofisticado pela música, com destaque para as sinfonias de Beethoven.
Em modo de encerramento, fica a questão: quais serão os clássicos da literatura nacional com narradores adolescentes a marcar os leitores (mais ou menos) compulsivos através de gerações?
14 de dezembro de 2012
f, de flamenco
a minha relação com o flamenco tem 3 episódios marcantes:
a primeira vez que me cruzei verdadeiramente com ele foi a falar sobre ele.
estava eu numa discoteca (entenda-se loja onde se vendem discos) em zamora nos idos de 70 e, ao mesmo tempo que fazia um ‘download ilegal’ duma cassete dos beatles com o seu último trabalho, ‘dejalo así’, a minha conversa com a funcionária da loja versava sobre uma cassete de flamenco que estava a tocar.
à minha afirmação de não gostar daquele estilo, ela me respondia que para gostar era preciso compreender.
ainda hoje lhe estou grato.
não por estar distraída para com a edição em castelhano do ‘dejalo así’, mas pelo sábio conselho que me deu.
o segundo encontro com o flamenco foi na década seguinte no filme de carlos saura, carmen.
carmen é uma espécie de aula prática sobre o flamenco, a postura, a intensidade, a entrega, a emoção. um elenco de luxo com antónio gades, laura del sol, paco de lucia, cristina hoyos e pepa flores (essa mesmo, marisol).
antónio gades, ao explicar como se deve dançar fez-me finalmente compreender o flamenco e aquela atitude ‘de galo’ que eu odiava.
as companhias de teatro, dança e os músicos, deviam vender bilhetes para os ensaios, que normalmente são muito mais interessantes que os concertos.
o terceiro, um pouco mais tarde, foi o primeiro verdadeiro concerto ao vivo de flamenco a que assisti:
o enorme el pele.
lembro o ar entusiasmado com que el pele apresentou um rapaz que estava a tocar com ele e de quem prometeu um enorme futuro, vicente amigo. tinha razão! é seguramente um dos melhores guitarristas de flamenco de sempre.
depois foi a descoberta natural de nomes como cameron de la isla, paco pena, tomatito, diego el cigala, enrique morente, os pata negra.
devo â funcionaria da discoteca de zamora, a antónio gades e a el pele o meu gosto pelo flamenco.
bem hajam.
em 2010 a unesco declarou o flamenco como património da humanidade.
aqui podem ouver um dos programas da série que a televisão da andaluzia realizou sobre o flamenco.
é uma excelente porta de entrada.
el sol, la sal y el son
13 de dezembro de 2012
Melopeia
Zoa-me aos ouvidos uma melopeia qualquer.
Pouco tempo tão, pouco tempo, tanta coisa para fazer. Tento
disciplinar-me e pensar que tenho que saborear cada bocadinho de tempo
livre pois ele voa. Faz-me falta sofázar regalada. Faz.
o frevo, património da humanidade
na reunião realizada em paris de 3 a 7 de dezembro (sim,
deste dezembro de 2012), a unesco declarou o frevo como
património imaterial da humanidade.
o frevo é, na sua essência, a música do povo do recife.
a mistura dos géneros musicais que lhe estavam nos ouvidos:
as marchas, as quadrilhas e as polcas que as fanfarras tocavam no final do
século passado.
dessa mistura de sons com os passos de capoeira que o povo
pernambucano tinha nas pernas nasceu o ‘passo’, que é a dança com que
exteriorizam o efeito que aquele ritmo tem no povo.
originalmente o frevo era apenas isso: uma banda tocando e o
povo atrás dançando.
depois, a criação de grupos fez com que as lutas entre
bairros se tornassem demasiado comuns a cada desfile de carnaval.
o frevo faz ferver.
como acontece sempre nestes casos, os desfiles organizados
com uns a dançar e outros a assistir não tardaram.
felizmente o povo pernambucano é sábio e tratou de organizar
a ‘galo da madrugada’: um imenso desfile onde todos dançam desde as 7 da manhã
até ao final do dia com uma imensidão de trios eléctricos.
estes trios começam de facto com um duo electricamente amplificado (dodô e osmar macedo) em cima duma fobica,
ou velho ‘ford a’, e sim, no ano
seguinte, em 1951, com mais um membro, os 3 a formarem o primeiro verdadeiramente trio
eléctrico.
hoje os trios não são trios e têm muito mais electricidade
em cima de enormes camiões.
mas o galo da madrugada é, sem dúvida, o garante para o
frevo continuar nas mãos, nas pernas e nas gargantas do povo.
‘atrás do trio eléctrico só não vai quem já morreu’ cantava
o caetano veloso nos idos de 60.
spok frevo orquestra - as três modalidades do frevo (uma verdadeira aula !!)
12 de dezembro de 2012
Ravi Shankar: um sitar a ecoar na memória
Deixou-nos Ravi Shankar, deixando-nos descendência musical em Norah Jones. De uma geração em que ainda permitiu o relance (em filme) do festival de Woodstock, a lembrança de um tema com que se cresceu. O seu sitar, esse tocará sempre.
Ravi Shankar, family and friends
Latinhas bonitas e portuguesas
E uma boa ideia de prenda de Natal, como dizia o Miguel, é oferecer uma lata de conservas:) Foto tirada à nova loja de Portimão situada na Rua Direita.
11 de dezembro de 2012
breath checking
não julguem que estão livres da continuação das músicas classificadas pela unesco como património imaterial.
como eu disse, 'uma semana' é uma coisa tipo metáfora.
eu apenas vos descansei os ouvidos.
a coisa vai regressar rapidamente com mais uma pequena série.
como eu disse, 'uma semana' é uma coisa tipo metáfora.
eu apenas vos descansei os ouvidos.
a coisa vai regressar rapidamente com mais uma pequena série.
Manoel de Oliveira: «a memória é uma invenção»
(Imagem: Aniki Bóbó, 1942 em shutupandwatchthemovies)
Há (ainda) tanta coisa boa nesta varanda sobre o mar… Pensamento recorrente quando vemos alguém, à semelhança do nosso realizador, hoje aniversariante, completar uma idade invejável, a par de uma criatividade que se não extingue. E o pensamento não deixa de estabelecer associações, mesmo que aleatórias, em tentativa de contradizer uma conjuntura desinteressante (para utilizar um eufemismo):
- nomes de que sempre nos orgulhamos;
- um clima ameno (sim, mesmo com este frio, não ficamos forçados a "prisão domiciliária");
- poesia e ficção em português, lidas num ápice, não se cingindo a produção a autores que figuram na «História da Literatura Portuguesa», pois muitos são nossos contemporâneos;
- trechos variados de bela paisagem em reduzida área geográfica (aqui esquecendo por momentos a construção selvagem e desordenada);
- a bonomia das gentes , tantas vezes inversamente proporcional às agruras do quotidiano;
- uma gastronomia (terem-lhe chamado dieta mediterrânica apazigua alguns excessos) única;
- […]
«A memória é uma invenção» - afirma o Manoel de Oliveira. Assim sendo, que o seu olhar único a consiga captar, tornando-a perene.
Lisbon Story Manoel de Oliveira
8 de dezembro de 2012
Idiotas úteis
Estava hoje a urinar numa casa-de-banho pública e reparei
que tinham desenhado uma mosca preta na loiça branca do mictório. Certamente esta
bela ideia tem a intenção de contrariar a fama, e talvez o proveito, que os
homens têm falta de pontaria na função.
Contudo, contrariando esta excelente intenção, só consegui associar
a ideia da mosca plantada à frase dita ontem por um amigo, referindo-se aos
actuais políticos e às suas associações aos interesses instalados:
- Eles são um bando de idiotas úteis.
5 de dezembro de 2012
Joaquim Benite: o teatro português fica mais pobre
Numa época em que grupos de teatro, a fazer parte da nossa história pessoal, correm o risco de desaparecer, o falecimento de Joaquim Benite torna ainda mais pobre o panorama do teatro português.
O fundador do Teatro Municipal de Almada
1 de dezembro de 2012
Nós por cá ou dia de barrela
Aforismos, ideias feitas… Cá pela aldeia, quando impera, no comércio local, a palração designada pelos antepassados como «enterrar os vivos e desenterrar os mortos», contrariada por quem não entra no diálogo, alegando que «a roupa suja de cada um se lava em casa», fica-se a olhar, em amena manhã de sábado, os estendais em plena via pública, pensando-se «as intimidades em algodão, fibras sintéticas, etc., lavam-se em casa, mas podem ser estendidas por onde circula a vizinhança?»…
30 de novembro de 2012
as polifonias, danças e rituais de shoplouk
as muito popularizadas ‘vozes búlgaras’ devem grande parte do seu reconhecimento na europa central e ocidental após a divulgação nos anos 80, pela famosa editora inglesa 4ad, de um álbum chamado ‘le mystère des voix bulgares’ (a ‘lenda’ diz que foi peter murphy, dos bauhaus, que levou um dia uma fita à editora inglesa).
o nome em francês deve-se seguramente a uma primeira edição feita pelo etnomusicólogo marcel cellier nos disques cellier.
após essa divulgação por uma reputada editora virada para os sons rocks alternativos, a atracção pelos sons modais e as harmonias dissonantes da bulgaria tornaram-se uma moda na europa.
esta maior popularidade desta música ajudou a que outras tradições mais ‘escondidas’ pudessem vir a lume.
o reconhecimento pela unesco, como património da humanidade, das polifonias, danças e rituais de região de shoplouk, vem salvaguardar esta tradição menos exposta que os grandes grupos ‘sinfónicos’ da polifonia búlgara.
hoje, na bulgaria como na maior parte do mundo, grande parte destas músicas já não não estão associadas a rituais antigos pré-cristãos ou aos trabalhos agrícolas que lhe estiveram na origem e sobrevivem no roteiro das 'músicas do mundo'.
a babi bistritsa constrói-se sobre uma base diafónica (duas vozes a cantar uma melodia em jeito ‘gritado’ próprios das canções de ar livre) com duas ou três linhas de sons monótonos e constantes que serve de base harmónica (por vezes dissonante)
claramente menos espectacular que os grandes coros polifónicos búlgaros, a beleza destes sons não deixa nunca de surpreender pela ‘voltas’ escondidas.
bistritsa babi
29 de novembro de 2012
A Suiça
Dantes mandávamos os nosssos filhos estudar para fora e assim o mostrava esta bela revista Ver e Crer de 1946. Imagem muito dedicada à nossa freguesa e amiga, Luísa.
el cant de la sibil.la
como penso que acontece com a esmagadora maioria das pessoas fora da ilha de maiorca e do resto dos paisos catalans, o meu conhecimento do canto da sibila vem de jordi saval e de montserrat figueras.
o canto da sibila é uma tradição originalmente de mallorca cantada na noite de natal.
é uma drama catastrófico sobre o fim do mundo e as penas dos pecados, saído da apropriação pelo cristianismo da profecias de sibila, uma personagem comum no universo grego e romano.
al jorn del judici
parrà el qui haurà feyt servici.
assim começa o canto.
sibila, do alto do presbitério canta, sobre uma música gregoriana, o dia do juízo final, ao que o povo vai respondendo no final de cada estrofe com aquele primeiro fragmento.
os textos podem variar conforme os locais, mas a base é a mesma:
no final as contas serão feitas e a coisa não vai sair barata…
no ano de 2010 a unesco classificou como património imaterial da humanidade esta tradição que vem da idade média e sempre se manteve por aquelas partes ininterruptamente, não obstante as diversas proibições ou entraves que a igreja lhe foi colocando.
el cant de la sibil-la, na igreja de sineu, mallorca, biel mas
el can de la sibil.la, barcelona (cor francesc valls, eulalia fantova)
a excelente imagem das nossas forças policiais
a julgar pelas declarações dos responsáveis pelas forças policiais portuguesas a operar no estrangeiro, estas são uma espécie deuses na terra.
olhando para estas imagens da televisão albanesa, em que a policia portuguesa tem uma espécie de homenagem constante ao estilo borat, não poderemos deixar de sorrir de cada vez que chegar mais um policia dum kosovo qualquer a dizer que são os melhores do mundo...
Pouco tempo
Nos últimos meses tenho sentido como nunca o tempo a passar numa ventania medonha. Tempo medido por viagens, separações e reencontros, alegrias e tristezas, de tudo se vai fazendo a vida. Ontem, na calma de uma festa de aniversário de um amigo, olhei à volta e senti uma amálgama de sentimentos diversos. Todos procuramos nichos de aconchego e quando temos sorte, encontramo-los. É bom sabê-los presentes. Aqui não entra a crise, nos sentimentos ainda não. Estamos ricos nessa matéria.
Terão percebido que tenho estado muito menos por aqui. Não só questões de saúde, mas também de ordem prática. Com o tempo que estive de trabalhos forçados em casa, resolvi fazer triagens nas colecções, detectar repetições e vendê-las online. Se encontrarem uma vendedora canjinha no Leilões Net, sou eu. A grande vantagem é que as pessoas com que tenho lidado são impecáveis e fazem-me sentir que o papel velho que vendo vai ser bem acolhido e acarinhado. E é isto.
28 de novembro de 2012
a polifonia albanesa, um património da humanidade
pelos anos 70 tropecei na música polifónica albanesa por via do meu interesse pelo país e pela descoberta do festival de gjirokastra.
na sequência de umas perguntas feitas e de uns livros sobre tradições populares trocados com a academia de ciências da albânia, passei a receber regularmente algumas publicações daquele organismo no que às tradições populares diziam respeito (e mais umas sobre arqueologia… em albanês, que é um pouco como chinês para mim).
a verdade é que o meu primeiro contacto com as polifonias balcânicas foi com a música tradicional da albânia, através de uns ep’s editados pela provavelmente defunta artimpex, de tirana, e seguramente prensados na china.
tirando algumas óbvias alusões laudatórias ao partido e à defesa da pátria (coisa que não me incomodava nada...) as polifonias albanesas eram de uma riqueza imensa.
normalmente em 2 partes (como acontece em muitas músicas da bacia mediterrânica): um solo e resposta polifónica sobreposta ao solo, variam no entanto na forma, contínua ou não, conforme os cantores utilizam respirações alternadas ou simultâneas.
fundamentalmente cantado por homens, com poucas exepções (um pouco divergente da vizinha bulgária onde as polifonia femininas são muito comuns), estas canções continuam a manter a tradição de, ao temas naturais da vida do campo, juntar as temas patrióticos.
no entanto, ao contrário de outros locais onde o circuito das chamadas ‘músicas do mundo’ tem permitido o desenvolvimento e salvaguarda destas tradições musicais, as polifonias albanesas não conseguiram penetrar nesse tão apetecido mercado.
o risco de desaparecimento, não obstante a declaração, em 2008, de património imaterial da humanidade, é cada dia maior.
é tempo de ouvir antes que apenas restem umas memórias do que foi.
Flaka Mbuloi Fshane
um ano depois do fado, vamos a outras músicas
há um ano por esta altura estavam os portugueses inchados com a classificação do fado como património imaterial da humanidade.
como acontece normalmente com os portugueses, inchamos, desinchamos e passamos.
o fado não ficou nem mais forte nem mais fraco por via da classificação, as prometidas edições dos clássicos do começo do século não viram a luz do dia e os imensos estudos sobre a guitarra portuguesa não tropeçaram no prelo.
mas se o fado manteve a sua vitalidade sem isso, não irá morrer por falta disso, seguramente.
para comemorar a classificação fadista, e ao jeito aqui da casa, iremos inaugurar a semana (que como a guerra dos 100 anos não tem que durar exactamente o tempo que o seu nome indica) das músicas classificadas pela unesco.
falarei daquelas que eu gosto mais ou que conheço melhor, como está bom de ver.
serviço público tem limites…
hoje volto ao assunto do 'canto a tenore'.
este é o canto tradicional dos pastores da sardenha.
uma polifonia a quatro vozes (bassu, contra, boche e mesu boche), cantada em círculo e um pouco como no cante alentejano, o solista lança o começo da quadra e os restantes abrem a polifonia, com o bassu e o contra num estilo muito próximo do que usam os cantores de tuva com o seu canto gutural.
a forma de canto em círculo dá um som mais compacto para quem ouve e melhora a afinação para quem canta. o som grave do bassu serve de apoio e dá o ´tom' de terra à música.
o ‘cante a tenore’ mantém-se vivo nas tascas da sardenha e ganha a vida, felizmente, nos circuitos da chamada música do mundo.
nós agradecemos.
tenores di bitti, explicação do processo de canto
tenores de bitti 'mialinu pira', ballu lestru
27 de novembro de 2012
O Estoril dos anos 40
“A posição de Lisboa é única em muitos aspectos. É a única grande porta de saída entre a beligerante Europa e o mundo exterior. É a única ligação conveniente entre os países inimigos. É a única esperança de fuga para milhares de refugiados. É, à excepção de Estocolmo, a única grande capital europeia que ainda não foi obscurecida pelas nuvens da guerra. (…) Os hotéis do Estoril, à beira-mar, estão esgotados. Aqui não há racionamento de comida, não há cortes de energia, as conversas ocorrem sem censura e as praias estão desimpedidas de canhões, minas e arame farpado.” “Lisbon – Gateway to Warring Europe”, Harvey Klemmer, in National Geographic Magazine, Vol. LXXX, nº 2, August 1941, pp. 259-274
(recebido sem referência à fonte)
25 de novembro de 2012
22 de novembro de 2012
A cidade (não muito) desperta
A cidade desperta com preguiça, acordada pelo sol, tolhida pelo frio. Perto da universidade, um bulício discreto de quem se encaminha para as aulas, para a biblioteca. Compra-se o último exemplar do jornal de sempre, saída da tabacaria para o café do lado, a precisar de uma bica bem tirada. A manhã, luminosa, desvenda ao olhar de turista acidental o verdadeiro outono, sinfonia de cores quentes, a preencher as encostas da serra. A cidade, de seu nome…
18 de novembro de 2012
17 de novembro de 2012
Saramago revisitado
Nada melhor para comemorar o dia em que, há 90 anos, nasceu o escritor, do que assistir à representação de Memorial do Convento, no Olga Cadaval. A peça foi representada (se a memória não falha) ao longo de dois anos, no convento de Mafra, tendo ficado a simples intenção de a visitar. Numa adaptação e encenação irrepreensíveis, a tónica para a vontade humana, a possibilitar que o homem se supere (com o humor inteligente sobre a forma como recolher, dentro de um frasco com âmbar, as vontades individuais para poder, através de coletivas determinações, pôr em prática a ousadia de voar). Saramago mostra-nos, com a mestria habitual (e um humor peculiar) a natureza humana, imune ao correr do calendário. Por isso existem criadores intemporais, arrancando sorrisos afirmações como «Gil Vicente foi único, pois continua atual»… Quem consegue «ler por dentro» com a clarividência de uma Blimunda Sete Luas, encontrar-se-á apto a trazer para a literatura tudo o que desperta e convida à reflexão. É grato observar uma assistência que, em grande parte, estuda os textos do nosso Nobel da Literatura.
grupo de teatro Éter
15 de novembro de 2012
Cenouras à a moda do algarve
Burro
Como gosto tanto deste burro e como acho injusto o chamar-se burro a quem não exerce a inteligência.
14 de novembro de 2012
morreu o zeca do rock
já aqui falámos várias vezes dele, e até o próprio já aqui comentou a propósito dele mesmo.
o zeca do rock foi o pioneiro do rock e do twist em portugal.
rockabilly, chamamos hoje a esse estilo de rock&roll cheio de brilhantina, jeans curtas e soquetes.
um rock básico e primário que se viria a multiplicar em estilos que só por facilitismo ainda metemos no mesmo saco do tal 'rock'.
algumas rádios saudosistas têm vindo a passar com alguma regularidade alguns dos seus êxitos.
uma altura para re-ouvir o ingénuo 'sansão foi enganado' (na versão orginal e na um pouco mais moderna dos bunnyranch).
zeca do rock morreu agora no brasil, onde se dedicava aos assuntos pouco roqueiros do esoterismo.
ficamos com a memória da inocência da sua música.
13 de novembro de 2012
Evocando Robert Stevenson pelo seu aniversário
Robert Stevenson nasceu num dia 13 de novembro (1850). A menção ao escritor, deve-se ao fascínio exercido, na primeira adolescência, pelo fantástico romance A Ilha do Tesouro. Não faria sentido decalcar um qualquer texto conciso sobre o legado de Stevenson que, até aos nossos dias, mostrou a sagacidade de saber juntar os ingredientes de ficção apelativos à leitura juvenil . Ficam, pois, algumas imagens e dados sobre este escocês de Edimburgo: filho de um famoso construtor de faróis, cedo começou a sofrer de graves problemas respiratórios. Aos dezassete anos, obedecendo à vontade do pai, ingressou na Faculdade de Engenharia, na sua cidade natal. Mais tarde, enfrentaria a vontade familiar, informando que pretendia deixar o curso, para se dedicar à escrita . O pai impôs-lhe Direito, que viria a terminar. Fascinado pelo teatro, participou, enquanto estudante, em diversas representações. Aos vinte e seis anos conheceu a futura mulher, dez anos mais velha e com dois filhos.
Correram diversas latitudes, tendo-se fixado em Samoa. Muitos textos foram construídos durante crises de saúde. A par da escrita, o gosto pela música. Na região, os nativos chamavam-lhe Tusitala «contador de histórias». Aos quarenta e quatro anos faleceu, de modo súbito, tendo sido sepultado numa cerimónia local , em espaço amplo, sobranceiro ao mar. Em Samoa, viveu com intensidade a política local. Na sepultura, encontra-se gravado «Requiem», poema de sua autoria:
«Sob o céu vasto e com estrelas/ Construam a morada e deixem-me partir,/ Deito-me com um desejo./ Que me deixem estes versos: “Aqui fica onde sonhou, /Na casa de marinheiro, casa do mar/E do caçador da colina.”» - Robert Stevenson (tradução livre para este post)
Imagens: Capital Collections/ Fonte: The Guardian
12 de novembro de 2012
... e isto anda lá para carnavais?
Ontem, dia 11 de novembro, pelas 11h e 11 minutos, teve início a abertura do Carnaval de Colónia, a cidade «perfumada». Uma forma de tentar entender a escolha da presente figuração suína? A de o cheirinho por lá inventado funcionar como antídoto olfativo, mesmo para varas (e coletivos diversos relacionados com o reino animal). Atenta a notícias divulgadas através do ciberespaço , forma de abarcar regiões alargadas, comparar versões jornalísticas e, ao mesmo tempo, poupar na compra de periódicos, desperta atenção a imagem ontem publicada: um grupo de adeptos da festa germânica, em pose para a fotografia, em frente à catedral da cidade. A legenda nada mais adianta, embora a associação pessoal resvale (em risco de choque frontal), sem hipótese de travagem prévia, para o acrónimo de mau gosto… PIGS…
Influenciada por imagens de florinhas e borboletas com música de elevador como pano de fundo (os tais clubes do otimismo, a extravasar âmbitos de atuação, já que as entidades patronais sonham, por vezes, em organizar improfícuas sessões de riso coletivo), que a escolha desta indumentária tenha pretendido demonstrar apenas a vontade de festejar o dia, ou que tenha como intenção subjacente o apreço por um dos clássicos da gastronomia germânica - o Eisbein
Imagem de Ina Fassbender/Reuters
Carrossel
Volto à infância e recordo-me do rodopio do carrossel, das "bacias" a girarem, dos primeiros namoricos e da música quase barulho sem sentido a envolver tudo. Os dias voam.
11 de novembro de 2012
Gatos vadios
Em qualquer aldeia perdida ou pequena cidade aqui do sul, reparo sempre que há sempre alguém que alimenta os gatos e lhes providencia água fresca. Talvez isto atente contra posturas municipais várias, mas no fundo o que interessa, é que alguém trata deles e lhes tem afecto.
9 de novembro de 2012
de mao a piao, ou a metade do mundo já não parecer ser tão pesada
(foto jornal 'público)
por volta dos anos 60/70, os trotsquistas utilizavam a piada 'achincalhante' para os maoístas de a china ir de mao a piao.
hoje, olhando para a capa do público, com estas 'hospedeiras' do congresso quinquenal do partido 'comunista' da china, só me faz lembrar que o que mao falava sobre as mulheres serem a metade do mundo que carregava sobre os seus ombros a outra metade, está claramente desajustado para estas jovens modelos travestidas em hospedeiras do congresso 'comunista'.
afinal, agora, tudo parece leve e etéreo...
8 de novembro de 2012
Giotto ou quando a Idade Média invade o século XXI
Parecem ser comuns pequenas evasões à nem sempre interessante realidade, por isso tantas vezes nos revemos em personagens do grande ecrã , ou em trechos ficcionados passados ao papel que, espera-se, não venha a ser totalmente substituído pela leitura nos monitores. Decerto os cinéfilos guardarão, no espaço mais grato da memória, algumas cenas de películas ou pequenos diálogos da sétima arte . Seria interessante (digo eu, com a mania de dizer coisas), o exercício (com os nossos botões e com os alheios) que nos permitisse enumerar o que mais terá marcado cada um, em matéria de cinema. Das cenas significativas retém-se – já aqui referida – uma breve imagem de Roma de Fellini: a desintegração de um fresco romano, aquando das obras para o metro da cidade. Quanto a trechos ficcionados, poder-se-iam indicar passagens de um livro destinado à juventude e intitulado O Cavaleiro da Dinamarca, no qual – leitura pessoal – o maior atrativo será o de aguçar, junto dos mais novos, o interesse por obras intemporais, como a Divina Comédia, ou viajar por espaços míticos, como a Veneza medieval e renascentista, despertando ainda a curiosidade pelo enorme génio da pintura, de seu nome Giotto. Tentando poupar quem ainda tiver conseguido chegar a este ponto das divagações, passa-se à explicação das mesmas: o facto de se ter divulgado, há menos de uma semana, a fantástica descoberta, numa capela quase esquecida, na cidade de Assis, um conjunto de frescos da autoria deste artista medieval. Tal revelação surge após dois anos de trabalho de restauro na Capela de S. Nicolau (Basílica de S. Francisco), danificada pelo sismo de 1997. As pinturas encontram-se assinadas com as iniciais GB, Giotto di Bondone, segundo se pensa. A figuração medieval deste precursor da arte renascentista apresenta o universo fantástico da Idade Média, incluindo uma representação demoníaca a surgir por detrás de um céu pleno de nuvens, numa ilustração sobre a morte de S. Francisco. Motivos para tamanha preciosidade ter ficado escondida ao longo de séculos? De acordo com o responsável pela equipa de restauro, Sergio Fusetti, a explicação reside no facto de se ter encontrado a capela encerrada por muito tempo, sendo raramente utilizada pelos monges.
Imagem: Pietro Crocchioni/EPA
O alfarrabista da Rua Actor Isidoro
Vou pela rua, cumprimento o alfarrabista da loja da Rua Actor Isidoro, junto à Paraíso da Alameda e ao número cinco e ouço muito ao longe. Uma Eva, tenho uma Eva. E volto-me e é o próprio. "è linda não é? " E eu volto feliz para casa.
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