pelos anos 70 tropecei na música polifónica albanesa por via do meu interesse pelo país e pela descoberta do festival de gjirokastra.
na sequência de umas perguntas feitas e de uns livros sobre tradições populares trocados com a academia de ciências da albânia, passei a receber regularmente algumas publicações daquele organismo no que às tradições populares diziam respeito (e mais umas sobre arqueologia… em albanês, que é um pouco como chinês para mim).
a verdade é que o meu primeiro contacto com as polifonias balcânicas foi com a música tradicional da albânia, através de uns ep’s editados pela provavelmente defunta artimpex, de tirana, e seguramente prensados na china.
tirando algumas óbvias alusões laudatórias ao partido e à defesa da pátria (coisa que não me incomodava nada...) as polifonias albanesas eram de uma riqueza imensa.
normalmente em 2 partes (como acontece em muitas músicas da bacia mediterrânica): um solo e resposta polifónica sobreposta ao solo, variam no entanto na forma, contínua ou não, conforme os cantores utilizam respirações alternadas ou simultâneas.
fundamentalmente cantado por homens, com poucas exepções (um pouco divergente da vizinha bulgária onde as polifonia femininas são muito comuns), estas canções continuam a manter a tradição de, ao temas naturais da vida do campo, juntar as temas patrióticos.
no entanto, ao contrário de outros locais onde o circuito das chamadas ‘músicas do mundo’ tem permitido o desenvolvimento e salvaguarda destas tradições musicais, as polifonias albanesas não conseguiram penetrar nesse tão apetecido mercado.
o risco de desaparecimento, não obstante a declaração, em 2008, de património imaterial da humanidade, é cada dia maior.
é tempo de ouvir antes que apenas restem umas memórias do que foi.
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