a semana entre o natal e o ano novo é uma silly
season concentrada.
é uma espécie de ‘baba de camelo’, aquele doce desnecessário
que estraga a excelência do leite condensado apenas para parecer mais doce
ainda.
nesta semana, à falta de notícias (e não fora a bênção dos
céus chamada artur baptista da silva a coisa ainda seria pior), os jornais
descobrem uma série de novidades tão inúteis quanto desinteressantes às quais
chamam notícias.
hoje o público noticiava um estudo publicado no british
medical jornal, baseado na longevidade de 1489 músicos que terão atingido um
determinado nível de notoriedade baseado na presença, pelo menos uma vez, no
top de vendas americano ou britânico entre 1956 e 2006.
imagino que o ano de 1956 tenha sido escolhido para acolher
o ano em que elvis presley alcançou o top americano.
dos 1489 músicos analisados, 137 morreram no período
estudado, sendo que a média de idades para a morte dos mortos foi de 45,2 anos para os
americanos e 39,2 para os britânicos.
dos mais de 1200 que ainda não estarão mortos, a avaliar
pelas notícias, não sabemos a sua esperança de vida (olhando para muitas
bandas que se andam a arrastar pelos palcos aos 70 anos, a coisa não parece ser
muito má).
também esta semana, obviamente, foi publicado um outro
estudo, dos alemães marcus mund e mitte kristin, na health psychologies (e largamente difundido pelas televisões e jornais da paróquia) que conclui que ‘os mal
humorados italianos e espanhóis’ vivem mais que os rígidos ingleses (a
acreditar na leitura do daily mail).
eu sei que os britânicos e os alemães têm um umbigo um pouco
maior do que a cabeça, mas daí a achar que os italianos e os espanhóis são, em
regra, mal humorados e que é por isso que vivem mais tempo, é digo dos monty
python, que por acaso eram quase todos britânicos, ou de alguém que nunca visitou o sul da europa.
alguns músicos que morreram cedo tinham muito mau feitio (keith
moon, por exemplo era intratável, jim morrison não era flor que se cheirasse,
brian jones não era um anjo) e isso não parece ter ajudado à longevidade.
otis redding (e toda a sua banda) morreu na queda de um
avião; ritchie valens, buddy holly, jp richardson iam os três no mesmo avião
quando este caiu e morreram; jeff buckley morreu a tomar banho num rio porque
um barco lhe passou por cima; sandy denny morreu porque caiu na escada de sua
casa.
a lista seria longa e o meu conhecimento curto, mas isto são
mortes pela fama?
tudo se prova quando queremos fazer um estudo para provar
aquilo que queremos.
eu podia seguir o mesmo tipo de raciocínio e dizer que, por
exemplo, se 20% dos condutores que tiveram acidentes estavam alcoolizados, é
mais seguros conduzir embriagado do que sóbrio, porque os condutores sóbrios
que tiveram acidentes eram 80% do total.
e nada como uma silly season para o publicitar
1 comentário:
Mau feitio e overdose são uma combinação bombástica...
(Mas essa do Jim Morrison não ser flor que se cheirasse, jazuze:-(
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