29 de dezembro de 2012

dying to be famous, ou o mau feitio pode levar-te longe



a semana entre o natal e o ano novo é uma silly season concentrada.
é uma espécie de ‘baba de camelo’, aquele doce desnecessário que estraga a excelência do leite condensado apenas para parecer mais doce ainda.
nesta semana, à falta de notícias (e não fora a bênção dos céus chamada artur baptista da silva a coisa ainda seria pior), os jornais descobrem uma série de novidades tão inúteis quanto desinteressantes às quais chamam notícias.
hoje o público noticiava um estudo publicado no british medical jornal, baseado na longevidade de 1489 músicos que terão atingido um determinado nível de notoriedade baseado na presença, pelo menos uma vez, no top de vendas americano ou britânico entre 1956 e 2006.
imagino que o ano de 1956 tenha sido escolhido para acolher o ano em que elvis presley alcançou o top americano.
dos 1489 músicos analisados, 137 morreram no período estudado, sendo que a média de idades para a morte dos mortos foi de 45,2 anos para os americanos e 39,2 para os britânicos.
dos mais de 1200 que ainda não estarão mortos, a avaliar pelas notícias, não sabemos a sua esperança de vida (olhando para muitas bandas que se andam a arrastar pelos palcos aos 70 anos, a coisa não parece ser muito má).
também esta semana, obviamente, foi publicado um outro estudo, dos alemães marcus mund e mitte kristin,  na health psychologies (e largamente difundido pelas televisões e jornais da paróquia) que conclui que ‘os mal humorados italianos e espanhóis’ vivem mais que os rígidos ingleses (a acreditar na leitura do daily mail).
eu sei que os britânicos e os alemães têm um umbigo um pouco maior do que a cabeça, mas daí a achar que os italianos e os espanhóis são, em regra, mal humorados e que é por isso que vivem mais tempo, é digo dos monty python, que por acaso eram quase todos britânicos, ou de alguém que nunca visitou o sul da europa.
alguns músicos que morreram cedo tinham muito mau feitio (keith moon, por exemplo era intratável, jim morrison não era flor que se cheirasse, brian jones não era um anjo) e isso não parece ter ajudado à longevidade.
otis redding (e toda a sua banda) morreu na queda de um avião; ritchie valens, buddy holly, jp richardson iam os três no mesmo avião quando este caiu e morreram; jeff buckley morreu a tomar banho num rio porque um barco lhe passou por cima; sandy denny morreu porque caiu na escada de sua casa.
a lista seria longa e o meu conhecimento curto, mas isto são mortes pela fama?

tudo se prova quando queremos fazer um estudo para provar aquilo que queremos.
eu podia seguir o mesmo tipo de raciocínio e dizer que, por exemplo, se 20% dos condutores que tiveram acidentes estavam alcoolizados, é mais seguros conduzir embriagado do que sóbrio, porque os condutores sóbrios que tiveram acidentes eram 80% do total.

e nada como uma silly season para o publicitar

1 comentário:

AnaMar (pseudónimo) disse...

Mau feitio e overdose são uma combinação bombástica...

(Mas essa do Jim Morrison não ser flor que se cheirasse, jazuze:-(