16 de dezembro de 2012
Os melhores livros com narradores adolescentes
(imagem de uma edição de Catcher in the Rye de Salinger)
O The Guardian divulgou, na presente semana, aqueles que – em opinião do autor da peça – se inscrevem na categoria de êxitos literários cujos narradores são adolescentes. De um conjunto de dez obras, são de destacar algumas das traduzidas para português e por cá também tornadas famosas, a saber:
- O diário secreto de Adrian Mole aos 13 anos e 3/4 da autoria de Sue Townsend, cujo narrador personagem provém de uma família disfuncional da classe média. Nos últimos números da série, Mole muda-se para Londres, é auxiliar num restaurante do Soho, acabando por encontrar emprego num alfarrabista da cidade;
- As aventuras de Huckleberry Finn (como foi lido e relido na juventude!) de Mark Twain… Huck é o típico adolescente «outsider» (não encontro palavra em português que expresse tão bem a ideia, as desculpas aos puristas da língua). A viagem que faz pelo coração da América com Jim – o escravo em fuga – representa o caminho para a liberdade, ao longo do Mississipi. Finn teima em continuar a jornada, na tentativa de impedir a tia Sally de o sivilizar (‘sivilize’, de acordo com o texto original);
- Jan Eyre de Charlotte Brontë. Os limitados horizontes de Jan Eyre, a par das esperanças frustradas da narradora, não deixam de exercer fascínio entre os adolescentes que com ela se identificam. A resignação patente nas últimas linhas do romance «leitor, casei-me com ele» inscrevem-se, na perfeição, no arquétipo da ficção vitoriana;
- À espera no centeio de JD Salinger. Holden Caulfield começa por despertar o leitor na aproximação a Huck Finn . Lança a questão: será interessante para o leitor saber onde nasceu e se a infância miserável se cruza com a de Hucleberry Finn?. Escreve-nos a partir de uma instituição a escancarar portas, permitindo-nos entrada. Destinado a um público adulto, o romance de Salinger tornou-se popular entre os jovens, pela abordagem muito pessoal da desorientação adolescente, da alienação, da angústia e da revolta;
- A ilha do tesouro de Louis Stevenson. Jim Hawkins, o narrador adolescente, abre a peça de ficção com uma fórmula apelativa aos olhos do leitor: «Num certo dia do ano de mil setecentos e tantos, um velho marinheiro moreno, com uma cicatriz no rosto, bateu com o seu bordão ferrado à porta da estalagem Almirante Benbow…»;
- A Laranja Mecânica de Anthony Burgess. Clássico distópico, a comemorar 50 anos de existência, dá voz a um adolescente impetuoso, abrasivo e romântico de nome Alex. Passado numa Inglaterra em tempos de «um futuro próximo», o protagonista adolescente acompanha o grupo (os «Droogs») em rituais de violência, durante a noite. Os membros do grupo têm diversas características: Dim, o de raciocínio lento; Georgie, o ambicioso; Pete, a deliciar-se com a alegria sádica dos elementos. Alex revela um gosto sofisticado pela música, com destaque para as sinfonias de Beethoven.
Em modo de encerramento, fica a questão: quais serão os clássicos da literatura nacional com narradores adolescentes a marcar os leitores (mais ou menos) compulsivos através de gerações?
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8 comentários:
Não conheço ninguém que tenha lido/conheça Adrian Mole. Lembro-me de ser garota e me rir com ele. Mas não os li todos, ao ponto de não saber que ele trabalhava no Soho!
O Huck, "por escrito", só apareceu na minha vida adulta. Pois eu cresci a ouvir "andas sempre descalço, Tom Sawyer". E a imagem do Tom e do Huck da televisão da infância acabaram por influenciar (sem prejuízo) a minha leitura dos dois livros.
Quanto aos livros nacionais narrados por adolescentes só me lembro de um: "A Lua de Joana" que li e reli e reli...
Leitura que me perturbou a adolescência (eu deixo-me levar demasiado pelos livros) ao ponto de eu ter vontade de cortar o cabelo com a tesoura das unhas como ela fez (nunca o fiz, mas que o livro tinha um enorme poder sobre mim... lá isso tinha!).
Realmente, não me lembro de mais nenhum...
Olá Luísa,
Quanto ao Adrian Mole - e digo-o sem vitimizações, o que não faz o género - li-o pela primeira vez quando fiz a pré-testagem dos novos programas de Português, corria a década de 90 e falava-se em «paixão pela Educação» (lirismo ou não, penso que se acreditava nisso).
Quando digo «sem vitimizações» tenho a dizer sobre isto que, nessa altura em que me ausentava semanas de casa para formação, quase em retiro (quase sempre em Fátima por ser o alojamento mais barato, bem como os auditórios onde trabalhávamos:) o que torna a ausência de casa num verdadeiro retiro espiritual), descobri que iria dar vida às bibliotecas de turma (aderi com a força toda à ideia) e, como não havia condições na escola, a biblioteca «de turma» tinha lugar na mala do meu renault 5, sempre atulhada de caixotes com livros, entre eles os de Adrian Mole, que muito me entusiasmaram :).
À hora de os levar para as salas de aula, havia sempre uma multidão de voluntários entusiasmados que me ajudavam a transportar os caixotes.
Quanto aos outros, destaco Hucleberry, mais interessante (opinião pessoal) que Tom Sawyer.
Relativamente aos restantes títulos referidos pelo periódico britânico, destaco o facto de serem narrados por adolescentes, embora muitos deles não os considere leituras para esse escalão etário, embora isso dependa do fôlego de leitura de cada um... digo eu que nunca tive rédea familiar quanto aos livros que escolhia de modo aleatório, tendo uma pessoa de família que me pedia os resumos das leituras, duvidando que as tivesse feito...
Se foram leituras um pouco ao sabor do acaso? Talvez... Quanto à Lua de Joana, lembro que, no final dos anos 80, início de 90, foi um top entre os adolescentes portugueses (claro que o li, já que os meus alunos tanto o requisitavam de um dos caixotes que trazia no meu carrito e isso despertou em mim a curiosidade), confesso que lê-lo na idade adulta me fez compreender o porquê da escolha dos jovens, embora não tivesse exercido em mim o mesmo fascínio do tal Huckleberry ou da Ilha do Tesouro que reli com o mesmo entusiasmo quando, em adulta, resolvi continuar a estudar com orientação dos doutos académicos :)
E para concluir, já que quando começo a falar de livros e de leituras induzo (quem consegue chegar até aqui) ao bocejo... Uma peça de ficção empolgante torna-se ainda mais «magnética» quando o narrador é personagem (digo eu, com a mania de dizer coisas).
Poderia começar a pensar e a expor o porquê desta convicção, mas isso levaria a um sono de um século, à maneira de uma «bela adormecida».
E se a Luísa conseguiu chegar ao final de tanto palavreado, é séria candidata ao Nobel da paciência (vulgo pachorra) :)
Eu acho que teria gostado de ter aulas consigo...
Primeiro, pela biblioteca de turma. De tantos professores de português, só tive uma que promoveu a biblioteca de turma. Nós tínhamos que levar livros nossos e trocá-los com os colegas. Para o meu lado foi um fiasco. Eu tinha para emprestar, mas os que eles tinham para me emprestar eram poucom e/ou já tinha sido lido na outra escola onde tinha andado. :s
Depois, eu não bocejei a ler as suas palavras. E ainda consigo concordar consigo em algumas coisas.
Eu acho o Huck Finn mais interessante que o Tom, considero-o mais genenuíno.
Penso que se lesse o Lua de Joana mais tarde o impacto seria completamente diferente, mas uma adolescente que absorve os sofrimentos dos outrso todos para si... acaba por o fazer até nos livros.
E o facto do narrador ser personagem tornar a peça mais "magnética" é verdade. Ele/ela está a "contar-nos ao ouvido" o que viveu, o que experimentou. Não está a contar o que viu ao longe ou o que lhe contaram. É como na vida real, tem mais interesse ouvir da pessoa do que "ouvir dizer que alguém disse que se passou assim ou assado".
Continue a expor a suas ideias que eu gosto. Como já disse num "post" do Carlos, o Dias é um blog de utilidade pública e eu fico muito contente por passar cá com regularidade. Aprendo coisas novas e debato sobre coisas que gosto e que por vários motivos não posso debater assim com tanta frequência por estas bandas.
A biblioteca de turma, ao longo de diversos anos, foi acolhida com entusiasmo porque na zona não há uma única livraria. Tentei, sem deixar constrangimentos, perceber se podiam pagar uma quota mensal de 100 escudos e todos o fizeram (isto porque sei que há muitas carências, o país real é uma incógnita até para os jornalistas, cheguei a ter alunos sem água canalizada ou eletricidade em casa e falamos da «grande Lisboa», a par de filhos de donos de fábricas da região, como vê estratos heterogéneos).
Para lá dos livros emprestados consegui, com a verba recebida, comprar muitos livros a preço de feira e, no final do ano, sorteava-os. Saía pelo menos um exemplar por aluno. Esta estratégia, aprendi-a com uma antiga professora de Inglês que tive no Liceu de Sintra e marcou (ela sabe-o, ainda hoje mantemos contacto) de modo determinante a minha escolha profissional.
Ora os livritos sorteados e verem, cada mês, as novidades que trazia para a aula, entusiasmaram os miúdos para esta "cruzada" da leitura (e como a Luísa disse que chegou ao final do anterior comentário, pois aqui deixo mais dicas sobre esta iniciativa)
:)
Nós em Portugal temos "Rosa minha irmã Rosa" de Alice Vieira que talvez já se possa colocar na prateleira dos clássicos. Não? E temos agora, mais recente, "O Retorno" de Dulce Maria Cardoso, sobre uma família que vem de Angola para a metrópole, escrito pelo rapaz adolesecente e que a crítica e o público muito têm apreciado. Assim de repente lembrei-me destes. Mas outros haverá.
ou será que se diz "mas outros haverão"? :)
:) decerto que haverá mais, esses têm de facto narradores adolescentes (só conheço o da Alice Vieira, pois tinha-o em bibliotecas de turma). Acontece que o artigo foi adaptado de um jornal britânico e, como tal, fica a referência a alguns clássicos. Com tempo, irei ler «O Retorno», pois ofereci-o, em tempos, à minha mãe.
Sim, eu só vim acrescentar uns à lista porque o seu post acabava com esse desafio. Por acaso quando comentei nem reparei que o post já tinha uns mesitos. Cumprimentos.
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