22 de maio de 2008

o cruzeiro do senhor do galo



o 'museu arqueológico de barcelos' é uma coisa surrealista.
na verdade não é mais que um amontoado de pedras dispostas em redor do antigo paço ducal com a estranhíssima particularidade de ter as informações incrustadas em azulejos cimentados nas pedras que foram escavadas para a sua inserção.
esta absurda incrustação dos azulejos na pedra, que torna irreversível os danos causados, deve ser a razão porque ainda hoje ninguém os mandou retirar.
lá estão, para dor de quem os vê.

mas estamos aqui para falar do cruzeiro (ou padrão) do senhor do galo.


este cruzeiro é uma espécie de livro em pedra.
retrata todas as partes importantes da lenda do galo ressuscitado cantor, do peregrino galego e do santo que o salvou.

originalmente o cruzeiro estava no lugar de areal de cima (mais ou menos no local onde hoje fica uma urbanização chamada ‘loteamento dos galos’), em barcelinhos.
bem próximo da última forca que funcionou em barcelos. bem junto da estrada para o porto, o mais à vista possível do povo, como que em sinal de aviso (os enforcados ficavam ali muito tempo antes que alguém os removesse).

é esta localização junto à última forca de barcelos que anula a afirmação (aliás incrustada na base do cruzeiro) deste ter sido construido no século XIV e de vir do local da forca velha (que estava na margem norte do rio e não em barcelinhos).
e, obviamente, a de ter sido esculpida pelo peregrino galego que sobreviveu ao enforcamento e originou a actividade canora do galo assado.
aliás, se a forca fosse do século XIV e os acontecimentos da lenda do galo cantor se passam alegadamente no século XV, não é crível que as lendas provoquem efeitos por antecipação.
a forca, em consequência da expansão do burgo para as zonas hoje ocupadas pelo campo da feira, a misericórdia ou a igreja do bom jesus da cruz, teve que mudar, nos finais do século XVII começos do século XVIII, para a margem sul do rio, ao tempo um local de mato, como era costume, embora perto de um lugar de passagem obrigatória das pessoas (neste caso a estrada que fazia a ligação a sul (porto, lisboa..). seguramente o cruzeiro que foi construído junto à forca só o foi naquela altura.

sendo então claro que o cruzeiro não foi, de facto, construido pelo ‘senhor do galo’, é irrelevante saber quem o fez.
o que importa para agora é que está feito e é sobre o que está feito que vamos falar
da próxima vez.

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