19 de abril de 2006

histórias de manhãs em casa


estar em casa pela manhã dos dias de semana implica algumas aprendizagens.
por exemplo: não me levantar para abrir a porta quando oiço um toque de campaínha.
de acordo com a utilíssima informação da minha filha, só toca uma vez quem quer colocar publicidade na caixa do correio.
toda a restante gente dá dois toques curtos.
logo, primeiro mandamento: não te levantarás ao primeiro toque!

seguindo esta regra de ouro que faz com que não tenha que interromper o que estou a fazer cada vez que alguém toca á porta, ontem de manhã abri a porta ao terceiro toque.
ao abrir, vejo um jovem casal de coreanos (pelo que fui informado ao longo da conversa) pertencentes a uma coisa chamada 'church of god - world mission society'.
ele com ar sério, ela com aqueles risinhos constantes que me levam sempre a pensar se estou perante alguém muito contente ou muito parvo.
ainda assim, bonita a jovem senhora coreana.

o que passou a seguir foi uma coisa altamente surrealista.
o dito casal fazia questão em me perguntar qual o dia sagrado e dedicado ao senhor, ao que eu respondia que era ateu e que isso para mim era irrelevante.
com ar de quem não percebia nada do que eu dizia, mostravam-me umas folhas escritas em coreano e português, onde depois de várias tentativas risíveis de ler o que estava escrito em português, a jovem coreana passou simplesmente a apontar para que eu lesse as variadíssimas e importantíssimas razões apontadas para que o dia dedicado ao senhor seja o sábado e não o domingo.
desde o dicionário webster, á biblia da international bible society, á good news bible, ao the faith of our fathers, ao faith of millions, ao mateus e ao joão evangelistas e mais ás referências históricas ao imperador constantino de tudo se socorreu a jovem coreana para me convencer que devia guardar o sábado para o senhor.

de nada valia eu dizer, com o ar mais educado e sério que tenho, que era ateu e que ´se os católicos e evangelistas guardavam o domingo e não o sábado, era um problema deles e que lhes deviam colocar essas questões eles.

depois das tentativas em português, passei para o inglês na esperança que a coisa fosse mais inteligível para o casal de olhos em bico.

depois de algum esforço, o sorriso da jovem coreana transformou-se numa espécie de tristeza quando finalmente as minhas palavras acabaram de percorrer o labirinto do seu proceso cognitivo e lá reconheceu que ser ateu e interessar-me pelo dia guardado para o senhor eram coisas mais ou menos incompatíveis.

deixou-me um folheto onde escreveu o seu nome e número de telefone (park iong pil???.. mas isso é nome que se tenha???).
e lá se foi, novamente com o sorriso de volta (que o jovem coreano que a acompanhava estava petrificado a olhar para mim com ar de quem não acreditava que havia gente como eu)

vou ter que passar a abrir a porta só ao 4º toque.
é o que é....

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