29 de julho de 2005

Acasos

Ontem à noite, ao fazermos o caminho de volta de Beja para Aljustrel, o H dizia-me: "Esta estrada é muito perigosa, aqui morreu um... aqui houve um acidente no ano passado... esta é a curva da morte..."
Quase a chegar a Aljustrel, vimos uma coisa esquisita: terra espalhada na estrada e muitas folhas de eucalipto. Comentámos: "Isto não estava aqui quando fomos para lá. E se voltássemos para trás para ver o que é? Se calhar é melhor não... Vou fazer inversão de marcha."
Fizemos inversão de marcha e ao olharmos atentamente, vimos no fundo no barranco um braço erguido, alguém gritou. Parámos e vimos um monte de chapa vermelho, alguém lá dentro e outra voz na escuridão do campo gritava: "Tenho uma perna partida, não nos abandonem aqui! SOCORRO!"
Liguei para o 112.
Uns minutos depois, apareceu um carro preto, um casal ao ver-me na beira da estrada pararam. Disse-lhes que tinha havido um acidente. O da perna partida pediu para eles avisarem o fulano na rua tal, em Aljustrel. O outro que estava dentro do carro deixou de falar. Morreu, pensei eu.
O casal arrancou e eu aproximei-me do rapaz da perna que chorava. "Sou o Guilherme e o meu amigo é o Nelson, não nos deixem aqui sozinhos." O H agarrou-me num braço e perguntou-me: "Tens a certeza que queres ver?" Não lhe soube responder.
Chegaram os bombeiros, mais tarde a família.
Um bombeiro dizia-me: "Ainda bem que pararam, muitos não o fariam, tinham medo. Se vocês não os tivessem visto, se calhar ficavam aqui até que alguém os encontrasse amanhã."
Arrancaram as ambulâncias para Beja.
Ficaram muito magoados, muitos ossos partidos de certeza. As melhoras para ambos.

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