As eleições iraquianas foram más pelo simples facto de que os iraquianos muito provavelmente não dão valor àquilo a que nós chamamos "democracia". Os únicos partidos políticos que num país daqueles terão alguma legitimidade popular serão partidos religiosos e não partidos do tipo ocidental. Os partidos que se apresentaram a eleições estão longe de serem representativos pois não terão nada a ver com os partidos que seriam criados num contexto de paz e de soberania e de democracia. É importante haver democracia antes de haver partidos. E é indispensável haver paz interna e soberania também. Partidos criados em guerra, surgidos numa fase em que o país não é soberano e moldados por forças estrangeiras não têm representatividade nem qualquer valor democrático.
A democracia é boa para mim que sou europeu mas mesmo para mim a democracia não vale a morte de milhares de pessoas. Também não vale a destruição integral da economia de um país. E usar a democracia como pretexto mentiroso para fazer uma guerra injustificada é insultar a democracia. Isto foi o que os americanos fizeram.
Os americanos matam de forma deliberada pelo simples facto de que eles é que iniciaram a guerra contra os iraquianos, contra a vontade da "comunidade internacional" e contra a vontade da ONU. Todo o movimento volitivo partiu deles. O modo como neste "pós-guerra" os americanos tratam a população local permite ainda perceber melhor o quão deliberada é a guerra e a matança. Os americanos não têm nem querem ter nem vão ter nunca a noção de que uns gajos mais escuros com bigodes pretos são de facto seres humanos. O mesmo se diga em relação aos japoneses, por exemplo: a duas bombas atómicas sobre o Japão só foram possíveis porque os americanos não consideram os japoneses como se fossem mesmo mesmo humanos. O mesmo se diga relativamente aos vietnamitas e a outros.
A sociedade americana só começa a manifestar-se em força contra uma guerra iniciada por eles quando começam eles próprios a sofrer baixas. O número de mortes que eles provocam do outro lado é irrelevante, mesmo quando supostamente a guerra é para trazer a paz ao país que eles bombardeiam. Os movimentos pacifistas americanos são tão egoístas quanto os motivos que os levam a iniciar guerras.
Isto não quer dizer que os americanos sejam burros. Os americanos são, na minha opinião, dos povos que de forma mais eficaz resolvem os seus problemas, contra tudo e contra todos (é isto que os distingue por exemplo dos portugueses, que se queixam mas que não resolvem nem deixam que se resolvam os problemas, tudo porque odeiam mudanças por mínimas que sejam). O que isto tudo quer dizer é que a vontade americana em assuntos internacionais é egoísta até atingir um ponto de grande e indesculpável imoralidade.
Tem-me sabido muito bem assistir a este desmacarar do padreca Louçã. Rio-me muito com o ar decepcionado e surpreendido de muitos daqueles que dantes apregoavam as qualidades do BE e agora vêem esse partido com outros olhos. Que o Louçã é fascista e estupidamente moralista soube eu desde "sempre". Se é fascista de direita ou fascista de esquerda, para mim tanto faz: é tudo o mesmo: a mesma aversão à diferença de opinião escamoteada com pregões em defesa da "democracia verdadeira" e do passado de luta anti-fascista; a mesma forma obtusa de "argumentar", sem ideias e com ataques pessoais; a inconcebível atitude de sobranceria moral, prescrevendo quais são os assuntos de que os outros podem falar e aqueles em que devem ficar calados; o desonestíssimo preconceito de que os políticos do sistema são maus e eles são diferentes.
Não me interessa a vida pessoal dos políticos. Reconheço que a maioria deles se se submetesse a um qualquer exame ético, receberia o resultado de "inapto". Independentemente disto mas também por causa disto é que para mim o mais importante na política são as ideias e a competência técnica. São estas as duas razões que, na maioria dos casos e das pessoas, ainda permitem dizer que nem todos os partidos nem todos os políticos são iguais.
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