20 de agosto de 2004

A minha professora

Não me lembro muito bem do meu primeiro dia de aulas, mas sei o que levava vestido e chovia porque eu tinha uma capa de plástico. Era a única aluna da freguesia na primeira classe. A minha mãe até me tirou uma fotografia, onde apareço com um sorriso envergonhado.
Nesse dia a minha vida mudou. Conheci outras crianças. Acho que até aí tinha brincado com poucas, a não ser com as minhas irmãs e com a vizinha que estava muitas vezes doente porque tinha otites. No recreio só se brincava à apanhada e eu corria pouco, era logo a primeira a ser caçada, não tinha muita graça. Lembro-me que apanhei piolhos muitas vezes, detestava leite com chocolate mas era obrigada a beber. Os outros meninos diziam coisas que eu não percebia, depois explicaram-me que eram palavrões e que eu não podia dizê-los.
No meu primeiro dia de escola, a minha mãe adquiriu outro estatuto, mas não estranhei porque sabia que iria ser assim. A minha mãe acumulava funções. A partir da 8 da manhã, passava a ser “senhora professora”. Á 1 da tarde voltava a ser a minha mãe, quando saía da escola. E foi assim que a tratei durante os quatro anos da primária, sem nunca me baralhar. Ela também nunca se baralhou, em relação ao tratamento que me dava fora e dentro da escola.

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