28 de abril de 2015

As ovelhas da Praça de Alvalade




Há cerca de um ano precisei de me deslocar à livraria da Faculdade de Letras. Encantada com o espólio de exemplares hoje desaparecidos das modernas superfícies comerciais, encontro uma preciosidade: um livro com imagens captadas pelo fotógrafo Luiz Carvalho, todas elas – de acordo com as datas que as acompanham – de finais dos anos 70, início da década de 80 do século passado. Tendo publicado a presente fotografia na “rede social da moda” (sempre com referência ao autor e à obra, como deve ser feito e por muito respeitar o trabalho de cada um), fiquei surpreendida com alguns comentários: “deve ser montagem”; “ não passavam rebanhos na Praça de Alvalade” […] opiniões essas rebatidas por quem afirmava ter presenciado cenários como o fotografado. No caso pessoal e também por esta época, posso referir que, nas traseiras do edifício central da Faculdade de Letras (pavilhões onde também havia aulas) via, com  frequência, rebanhos a passarem junto à janela da sala (pretexto para me desviar de matérias menos empolgantes…). Também recordo com nitidez, a saída na paragem de autocarro junto ao hipódromo do Campo Grande :  nos atalhos que tomava a caminho das aulas, lá me ia cruzando, de quando em vez, com um rebanho. No passado domingo, como teste, mostrei a fotografia à minha mãe que me respondeu: “lembro-me da Av. do Brasil e do Areeiro, quando era pequena, serem uma espécie de aldeias, com matagal e com apontamentos rurais de que hoje duvidaríamos”. Acredito na veracidade da imagem aqui divulgada, embora fosse interessante a opinião de quem tem memórias mais nítidas de cenários como o apresentado.


Imagem: do livro de © Luiz Carvalho ‘Portugueses’, Editora perspectivas & realidades (tiragem: 2000 exemplares)

8 comentários:

Unknown disse...

Nos anos 60s ,para aí em 65 ou mais coisa menos coisa , no ambiente de contestação estudantil, foi proibido o acesso do pessoal da Univ.Técnica à cantina (velha) da Clássica na cidade universitária .
Em dia anunciado aí vai todo o pessoal do IST em direcção à cantina para contestar e violar a directiva .No entretanto dos acontecimentos , a prestimosa polícia de choque do capitão Maltez apareceu e cercou a cantina . Veio o pessoal todo para a escadaria e destacou-se um dirigente associativo para parlamentar com o comandante da força para evitar vilência. Estava a força a começar a retirar quando passa um pastor com um enorme rebanho. Começa o pessoal das escadarias a gritar a plenos pulmões : Carneiros ! Carneiros ! Bom ! Foi difícil evitar que o parlamentar fosse preso e metido à força no jeep do comando .Nota : o parlamentar chamava-se e chama-se Jaime Gama e foi mais tarde,entre outras coisas,ministro da Adm Interna

teresa disse...

Interessante depoimento - um rebanho pode ser providencial, como se verifica.

Luísa disse...

A última vez que estive na FLUL a livraria estava fechada.Na altura fiquei a perguntar-me como funcionava uma faculdade de letras sem livraria...

Quanto às ovelhas, não precisamos voltar muito no tempo. Ainda vi algumas ovelhas durante as aulas que tinha no eterno Pavilhão Novo. Eram só meia dúzia mas serviram para o professor Vítor Viçoso fazer acordar alguns alunos que não deveriam ter saído do básico, quanto mais do secundário...

teresa disse...

Pois sendo mais antiga, cheguei a ver rebanhos e não algumas ovelhas, Luísa:)

Receio que a livraria possa fechar (espero que ainda o não tenha feito), o responsável conversou comigo sobre o marasmo a que está votada, o que surpreende, pois os títulos disponíveis são exclusivos do local, nada da 'mesmice' das grandes superfícies...

jmsc disse...

De facto não é montagem. Conheço Luiz Carvalho há quase 40 anos.
Ele morava com os pais ali muito perto ( Alvalade ). Foi fotojornalista do Tal e Qual e do Expresso entre outros títulos.
Arquitecto de formação foi na fotografia que encontrou o melhor meio de expressão.

teresa disse...

Obrigada, jmsc. Nunca duvidei de que a foto fosse autêntica, ou seja, não manipulada.

ana disse...

eu lembro-m de, no Natal se venderem perús ao pé da Feira Popular

Unknown disse...

O meu pai, já falecido, nasceu em 1929 e veio viver para Lisboa em 1947, inicialmente para cumprir o serviço militar e depois por aqui ficou a trabalhar e a viver até 2009 ano em que faleceu. Viveu na Av. Roma de 1949 a 1958 e ali trabalhou desde 1949 a 1973. Eu nasci em 1968 e lembro-me de ter uns 4 anos e o meu pai estar a falar com um pastor que por ali passava com um grande rebanho junto ao local onde hoje está a McDonald's.
Muitas vezes o meu pai falava da construção de alguns daqueles prédios e do facto de existirem muitas quintas e terrenos onde hoje temos cidade plena.