Dias estranhos estes. Hoje atravessei a cidade de manhã bem cedo e notei o silêncio, o canto dos pássaros, a paz que se exalava das janelas ainda fechadas. De noite acontecerão os festejos, os votos de felicidade, o estar com os outros, sentir a ausência daqueles que nos faltam para sempre.
Então, um desejo de um ano o melhor que se consiga fabricar, com saúde e trabalho como escrevia o ABS, com humor e energia para travar a luta pela felicidade que merecemos. E se a merecemos. Um abraço a todos os amigos que passam por aqui.
31 de dezembro de 2012
29 de dezembro de 2012
Ar rarefeito para acabar o ano
Estou a ouvir, maravilhado, um disco de Paul Buchanan saído em Maio último. Mid Air é o seu nome. Ouvi falar dele esta semana, pela voz de João Gobern, numa revisão de discos de 2012 da Antena 1.
O homem é há muito referência através da sua banda de vinte e tal anos, The Blue Nile. Esta gente nunca foi muito conhecida por estas bandas. Ganhou alguma notoriedade um belíssimo arranjo de Craig Armstrong a umas das canções dos The Blue Nile, e não muito mais. A banda acabou e Paul Buchanan gravou este disco agora.
Thin Air aparece como uma das escolhas possíveis entre os melhores discos do ano no Público e no Expresso, o que quer dizer que há quem esteja atento.
Pela minha parte direi apenas que isto é, para mim, e de longe, a melhor coisa que ouvi em 2012, e sem dúvida uma das coisas mais belas que ouvi em anos.
Bom 2013. Com saúde e trabalho, ao menos.
O homem é há muito referência através da sua banda de vinte e tal anos, The Blue Nile. Esta gente nunca foi muito conhecida por estas bandas. Ganhou alguma notoriedade um belíssimo arranjo de Craig Armstrong a umas das canções dos The Blue Nile, e não muito mais. A banda acabou e Paul Buchanan gravou este disco agora.
Thin Air aparece como uma das escolhas possíveis entre os melhores discos do ano no Público e no Expresso, o que quer dizer que há quem esteja atento.
Pela minha parte direi apenas que isto é, para mim, e de longe, a melhor coisa que ouvi em 2012, e sem dúvida uma das coisas mais belas que ouvi em anos.
Bom 2013. Com saúde e trabalho, ao menos.
dying to be famous, ou o mau feitio pode levar-te longe
a semana entre o natal e o ano novo é uma silly
season concentrada.
é uma espécie de ‘baba de camelo’, aquele doce desnecessário
que estraga a excelência do leite condensado apenas para parecer mais doce
ainda.
nesta semana, à falta de notícias (e não fora a bênção dos
céus chamada artur baptista da silva a coisa ainda seria pior), os jornais
descobrem uma série de novidades tão inúteis quanto desinteressantes às quais
chamam notícias.
hoje o público noticiava um estudo publicado no british
medical jornal, baseado na longevidade de 1489 músicos que terão atingido um
determinado nível de notoriedade baseado na presença, pelo menos uma vez, no
top de vendas americano ou britânico entre 1956 e 2006.
imagino que o ano de 1956 tenha sido escolhido para acolher
o ano em que elvis presley alcançou o top americano.
dos 1489 músicos analisados, 137 morreram no período
estudado, sendo que a média de idades para a morte dos mortos foi de 45,2 anos para os
americanos e 39,2 para os britânicos.
dos mais de 1200 que ainda não estarão mortos, a avaliar
pelas notícias, não sabemos a sua esperança de vida (olhando para muitas
bandas que se andam a arrastar pelos palcos aos 70 anos, a coisa não parece ser
muito má).
também esta semana, obviamente, foi publicado um outro
estudo, dos alemães marcus mund e mitte kristin, na health psychologies (e largamente difundido pelas televisões e jornais da paróquia) que conclui que ‘os mal
humorados italianos e espanhóis’ vivem mais que os rígidos ingleses (a
acreditar na leitura do daily mail).
eu sei que os britânicos e os alemães têm um umbigo um pouco
maior do que a cabeça, mas daí a achar que os italianos e os espanhóis são, em
regra, mal humorados e que é por isso que vivem mais tempo, é digo dos monty
python, que por acaso eram quase todos britânicos, ou de alguém que nunca visitou o sul da europa.
alguns músicos que morreram cedo tinham muito mau feitio (keith
moon, por exemplo era intratável, jim morrison não era flor que se cheirasse,
brian jones não era um anjo) e isso não parece ter ajudado à longevidade.
otis redding (e toda a sua banda) morreu na queda de um
avião; ritchie valens, buddy holly, jp richardson iam os três no mesmo avião
quando este caiu e morreram; jeff buckley morreu a tomar banho num rio porque
um barco lhe passou por cima; sandy denny morreu porque caiu na escada de sua
casa.
a lista seria longa e o meu conhecimento curto, mas isto são
mortes pela fama?
tudo se prova quando queremos fazer um estudo para provar
aquilo que queremos.
eu podia seguir o mesmo tipo de raciocínio e dizer que, por
exemplo, se 20% dos condutores que tiveram acidentes estavam alcoolizados, é
mais seguros conduzir embriagado do que sóbrio, porque os condutores sóbrios
que tiveram acidentes eram 80% do total.
e nada como uma silly season para o publicitar
28 de dezembro de 2012
Na Rua da Vitória
Na rua da Vitória, ao lado da igreja que lhe dá o nome,
existe um marco de correio. O envio de uma mensagem, notícia ou lembrança pelo
correio está em desuso.
Talvez por isso, cada vez mais se comunica directamente,
utilizando os mais variados códigos e suportes para as mensagens, notícias ou
lembranças que se querem dar ou transmitir. Do outro lado da rua, em frente da
igreja, existem estes exemplos:
A Beata |
O Observador |
Melhoras duradouras |
Glorias Passadas |
26 de dezembro de 2012
O villancico: um pretexto para lembrar Lhasa De Sela
Entre os cânticos tradicionais (villancicos/vilancetes) de Natal em castelhano, Los peces en el rio, em lugar de destaque no «top pessoal» : os peixes que dançam (e bebem), entusiasmados, com o nascimento do menino. A mãe cumpre os gestos do quotidiano: penteia os cabelos de oiro ou, noutra passagem deste tema tradicional, lava os paninhos no rio, em cenário apelativo onde o alecrim adoça a paisagem. Mais um pretexto para recordar a fantástica Lhasa De Sela.
Los peces
Foto: aquário de Tóquio
o creminoso volta sempre ao local do creme
este natal a reunião da família foi no exacto local onde, da última vez que lá estive para o mesmo propósito, parti duas costelas.
nada de grave, que todos temos muitas.
desta vez as tangerinas e os limões já estavam em caixas e a única coisa que podia estragar eram as 'cruzes', de me baixar para levantar as caixas.
os próximos dias prometem tangerinas cristalizadas, limoncello (e os cubos de sumo de limão congelados, ready to use), uma experiência com uma compota de cenoura e vidrado de tangerina (a ver se consigo..), marron glacé (com uma variante em que o vidrado das castanhas é sobreposto de uma camada de ganache. a ver o que dá, que isto é como o governo: não fazemos a mínima ideia como funciona, mas experimentamos e logo se vê. se não funcionar, a culpa é do lume.).
o natal é isto, digo eu que sou ateu.
o fim de ano será em fajão, já se vê.
com frio e madeiro a arder no adro.
as tradições são para manter.
(pena que não se inaugure uma tradição de trocar o perú pelo coelho para esfolar num natal à escolha)
nada de grave, que todos temos muitas.
desta vez as tangerinas e os limões já estavam em caixas e a única coisa que podia estragar eram as 'cruzes', de me baixar para levantar as caixas.
os próximos dias prometem tangerinas cristalizadas, limoncello (e os cubos de sumo de limão congelados, ready to use), uma experiência com uma compota de cenoura e vidrado de tangerina (a ver se consigo..), marron glacé (com uma variante em que o vidrado das castanhas é sobreposto de uma camada de ganache. a ver o que dá, que isto é como o governo: não fazemos a mínima ideia como funciona, mas experimentamos e logo se vê. se não funcionar, a culpa é do lume.).
o natal é isto, digo eu que sou ateu.
o fim de ano será em fajão, já se vê.
com frio e madeiro a arder no adro.
as tradições são para manter.
(pena que não se inaugure uma tradição de trocar o perú pelo coelho para esfolar num natal à escolha)
25 de dezembro de 2012
Partilhar
Depois de passado o dia de anti-Natal, espero retomá-lo como princípio de vida. Partilhar amor, cidadania e solidariedade com todos, incluindo a família.
Relembrando o que o meu pai escreveu:Quando Natal já não for,
Já não for o frio Dezembro,
Não quero guardar o amor
Na arca onde não o lembro.
[Amilcar Gil]
22 de dezembro de 2012
A cada um o seu Natal...
Na Austrália, o 25 de dezembro chega no verão e é, com frequência, celebrado na praia. Confrontados com a situação de descreverem muitos dos cânticos de Natal paisagens com neve, os australianos reescreveram-nos, substituindo renas por cangurus. Greg Champion e Colin Buchanan, respeitando a estrutura dos christmas carols adaptaram-nos, transformando grutas em arbustos e idealizando trenós puxados por marsupiais, cenários apropriados a cânticos natalícios entoados à volta de fogareiros onde são cozinhados os churrascos.
Aussie Jingle Bells
Imagem: my.opera.com
20 de dezembro de 2012
Apocalipse a modos que doméstico
Sabemos que o que faz história na comunicação social é, em grande parte, «o homem que morde o cão»… frase gasta, com validade no quotidiano dos leitores. Certos acontecimentos são levados às últimas consequências, em detrimento de informações cruciais a que qualquer cidadão tem direito. Apesar das reflexões, fica-se a pensar no que se terá passado na «vida real» (?), quando é notícia o facto de um cliente de determinada instituição bancária ser atendido na rua por – segundo o jornal – se encontrar «mal vestido»… É passada em revista uma discussão memorável, no interior de um autocarro da cidade, entre um passageiro que, de fato macaco embebido em óleo, insiste em ocupar um assento deste transporte e o motorista, informando-o que o não pode fazer, sob risco de estragar o vestuário de passageiros quando vagar o banco onde se sentou… a memória surge, nítida, mesmo que nada tenha a ver com o cliente da instituição bancária com exigências de rigor do figurino (terá sido mesmo assim?). Também se fica de olhos arregalados com este apocalipse now, já programado para o dia de amanhã… Parece que na cidade de Tomsk foi comercializado um kit de sobrevivência para o evento, contendo o mesmo – passa-se a citar: «cereais, uma barra de sabão, um canivete, pastilhas purificadoras de água, um estojo de primeiros-socorros, velas, uma caixa de fósforos e - como não podia deixar de ser - uma garrafa de vodka». Fica-se a pensar se por aqui não haverá influência do antigo Egipto, caso contrário para que serviria o conteúdo desta caixinha comercializada pelo equivalente a 25 aéreos? Cada vez com maior dificuldade em destrinçar realidade de ficção, prepara-se uma evasão rumo ao sol sem que, num relâmpago, surja a memória da quadra que – opinião pessoal e discutível – deve ser festejada em qualquer altura do ano, desde que não se sinta a agitação e algum azedume (a evitar) destes dias que atravessam as chamadas «festas».
Have yourself a merry... whenever.
P.S: continuamos a encontrar relatos mais verosímeis em Orwell com o seu 1984.
gareth malone, ou a música como serviço público
o meu conhecimento de gareth malone não vem, ao contrário da maioria das pessoas, da premiadíssima série ‘the choir’, mas dum programa que em tempos realizou sobre as canções de marinheiros: shanties and sea songs with gareth malone'.
um excelente programa que parte de portsmouth, no canal da mancha e vai até gardenstone no norte da escócia para aí perceber a participação das mulheres na vida e nas canções sobre o mar.
pelo meio é uma lição sobre este património notável que os britânicos souberam preservar como ninguém.
mas os shanties são apenas uma das paixões de gareth.
a sua maior paixão parecer ser uma espécie de vontade indomável de por o reino unido a cantar e realizar essa enorme tarefa como uma espécie de serviço público.
a sua obra mais visível e premiada, é o programa ‘the choir’, onde gareth cria coros a partir de gente pouco provável para cantar em grupo.
a primeira experiência começou em 2007 numa escola nos subúrbios de londres (northolt high school), depois a série continuou com ‘boys don’t sing’, ‘unsung town’, gareth malone goes to glyndebourne, military wifes ou sing while you work.
nestes programas trabalha com jovens problemáticos, mulheres de militares no afeganistão, trabalhadores de hospitais, correios ou aeroportos.
dois programas têm para mim uma especial importância: ‘the big performance’, onde trabalha com 10 adolescentes vítimas de gozo e violência na escola e com dificuldades de auto-estima e os prepara para um concerto com milhares de pessoas ao vivo e uns milhões na televisão.
outro, com pouca música envolvida, ‘extraordinary school for boys’, é um trabalho notável de recuperação de um grupo de quase 40 miúdos dos 5º e 6º ano de uma escola pública com dificuldades na leitura e na expressão oral, e com um atraso significativo relativamente às raparigas da mesma idade da mesma escola.
gareth malone tem um ar de puto simpático contagiante e uma notável capacidade de gerar confiança naqueles que o rodeiam.
gareth malone fez serviço público!!!
ainda bem que o faz.
extraordinary school for boys, ep.1
(os dois restantes rapidamente se encontram no youtube junto a este, bem como de todos os seus programas e ter uma noção do notável trabalho realizado por gareth malone)16 de dezembro de 2012
Os melhores livros com narradores adolescentes
(imagem de uma edição de Catcher in the Rye de Salinger)
O The Guardian divulgou, na presente semana, aqueles que – em opinião do autor da peça – se inscrevem na categoria de êxitos literários cujos narradores são adolescentes. De um conjunto de dez obras, são de destacar algumas das traduzidas para português e por cá também tornadas famosas, a saber:
- O diário secreto de Adrian Mole aos 13 anos e 3/4 da autoria de Sue Townsend, cujo narrador personagem provém de uma família disfuncional da classe média. Nos últimos números da série, Mole muda-se para Londres, é auxiliar num restaurante do Soho, acabando por encontrar emprego num alfarrabista da cidade;
- As aventuras de Huckleberry Finn (como foi lido e relido na juventude!) de Mark Twain… Huck é o típico adolescente «outsider» (não encontro palavra em português que expresse tão bem a ideia, as desculpas aos puristas da língua). A viagem que faz pelo coração da América com Jim – o escravo em fuga – representa o caminho para a liberdade, ao longo do Mississipi. Finn teima em continuar a jornada, na tentativa de impedir a tia Sally de o sivilizar (‘sivilize’, de acordo com o texto original);
- Jan Eyre de Charlotte Brontë. Os limitados horizontes de Jan Eyre, a par das esperanças frustradas da narradora, não deixam de exercer fascínio entre os adolescentes que com ela se identificam. A resignação patente nas últimas linhas do romance «leitor, casei-me com ele» inscrevem-se, na perfeição, no arquétipo da ficção vitoriana;
- À espera no centeio de JD Salinger. Holden Caulfield começa por despertar o leitor na aproximação a Huck Finn . Lança a questão: será interessante para o leitor saber onde nasceu e se a infância miserável se cruza com a de Hucleberry Finn?. Escreve-nos a partir de uma instituição a escancarar portas, permitindo-nos entrada. Destinado a um público adulto, o romance de Salinger tornou-se popular entre os jovens, pela abordagem muito pessoal da desorientação adolescente, da alienação, da angústia e da revolta;
- A ilha do tesouro de Louis Stevenson. Jim Hawkins, o narrador adolescente, abre a peça de ficção com uma fórmula apelativa aos olhos do leitor: «Num certo dia do ano de mil setecentos e tantos, um velho marinheiro moreno, com uma cicatriz no rosto, bateu com o seu bordão ferrado à porta da estalagem Almirante Benbow…»;
- A Laranja Mecânica de Anthony Burgess. Clássico distópico, a comemorar 50 anos de existência, dá voz a um adolescente impetuoso, abrasivo e romântico de nome Alex. Passado numa Inglaterra em tempos de «um futuro próximo», o protagonista adolescente acompanha o grupo (os «Droogs») em rituais de violência, durante a noite. Os membros do grupo têm diversas características: Dim, o de raciocínio lento; Georgie, o ambicioso; Pete, a deliciar-se com a alegria sádica dos elementos. Alex revela um gosto sofisticado pela música, com destaque para as sinfonias de Beethoven.
Em modo de encerramento, fica a questão: quais serão os clássicos da literatura nacional com narradores adolescentes a marcar os leitores (mais ou menos) compulsivos através de gerações?
14 de dezembro de 2012
f, de flamenco
a minha relação com o flamenco tem 3 episódios marcantes:
a primeira vez que me cruzei verdadeiramente com ele foi a falar sobre ele.
estava eu numa discoteca (entenda-se loja onde se vendem discos) em zamora nos idos de 70 e, ao mesmo tempo que fazia um ‘download ilegal’ duma cassete dos beatles com o seu último trabalho, ‘dejalo así’, a minha conversa com a funcionária da loja versava sobre uma cassete de flamenco que estava a tocar.
à minha afirmação de não gostar daquele estilo, ela me respondia que para gostar era preciso compreender.
ainda hoje lhe estou grato.
não por estar distraída para com a edição em castelhano do ‘dejalo así’, mas pelo sábio conselho que me deu.
o segundo encontro com o flamenco foi na década seguinte no filme de carlos saura, carmen.
carmen é uma espécie de aula prática sobre o flamenco, a postura, a intensidade, a entrega, a emoção. um elenco de luxo com antónio gades, laura del sol, paco de lucia, cristina hoyos e pepa flores (essa mesmo, marisol).
antónio gades, ao explicar como se deve dançar fez-me finalmente compreender o flamenco e aquela atitude ‘de galo’ que eu odiava.
as companhias de teatro, dança e os músicos, deviam vender bilhetes para os ensaios, que normalmente são muito mais interessantes que os concertos.
o terceiro, um pouco mais tarde, foi o primeiro verdadeiro concerto ao vivo de flamenco a que assisti:
o enorme el pele.
lembro o ar entusiasmado com que el pele apresentou um rapaz que estava a tocar com ele e de quem prometeu um enorme futuro, vicente amigo. tinha razão! é seguramente um dos melhores guitarristas de flamenco de sempre.
depois foi a descoberta natural de nomes como cameron de la isla, paco pena, tomatito, diego el cigala, enrique morente, os pata negra.
devo â funcionaria da discoteca de zamora, a antónio gades e a el pele o meu gosto pelo flamenco.
bem hajam.
em 2010 a unesco declarou o flamenco como património da humanidade.
aqui podem ouver um dos programas da série que a televisão da andaluzia realizou sobre o flamenco.
é uma excelente porta de entrada.
el sol, la sal y el son
13 de dezembro de 2012
Melopeia
Zoa-me aos ouvidos uma melopeia qualquer.
Pouco tempo tão, pouco tempo, tanta coisa para fazer. Tento
disciplinar-me e pensar que tenho que saborear cada bocadinho de tempo
livre pois ele voa. Faz-me falta sofázar regalada. Faz.
o frevo, património da humanidade
na reunião realizada em paris de 3 a 7 de dezembro (sim,
deste dezembro de 2012), a unesco declarou o frevo como
património imaterial da humanidade.
o frevo é, na sua essência, a música do povo do recife.
a mistura dos géneros musicais que lhe estavam nos ouvidos:
as marchas, as quadrilhas e as polcas que as fanfarras tocavam no final do
século passado.
dessa mistura de sons com os passos de capoeira que o povo
pernambucano tinha nas pernas nasceu o ‘passo’, que é a dança com que
exteriorizam o efeito que aquele ritmo tem no povo.
originalmente o frevo era apenas isso: uma banda tocando e o
povo atrás dançando.
depois, a criação de grupos fez com que as lutas entre
bairros se tornassem demasiado comuns a cada desfile de carnaval.
o frevo faz ferver.
como acontece sempre nestes casos, os desfiles organizados
com uns a dançar e outros a assistir não tardaram.
felizmente o povo pernambucano é sábio e tratou de organizar
a ‘galo da madrugada’: um imenso desfile onde todos dançam desde as 7 da manhã
até ao final do dia com uma imensidão de trios eléctricos.
estes trios começam de facto com um duo electricamente amplificado (dodô e osmar macedo) em cima duma fobica,
ou velho ‘ford a’, e sim, no ano
seguinte, em 1951, com mais um membro, os 3 a formarem o primeiro verdadeiramente trio
eléctrico.
hoje os trios não são trios e têm muito mais electricidade
em cima de enormes camiões.
mas o galo da madrugada é, sem dúvida, o garante para o
frevo continuar nas mãos, nas pernas e nas gargantas do povo.
‘atrás do trio eléctrico só não vai quem já morreu’ cantava
o caetano veloso nos idos de 60.
spok frevo orquestra - as três modalidades do frevo (uma verdadeira aula !!)
12 de dezembro de 2012
Ravi Shankar: um sitar a ecoar na memória
Deixou-nos Ravi Shankar, deixando-nos descendência musical em Norah Jones. De uma geração em que ainda permitiu o relance (em filme) do festival de Woodstock, a lembrança de um tema com que se cresceu. O seu sitar, esse tocará sempre.
Ravi Shankar, family and friends
Latinhas bonitas e portuguesas
E uma boa ideia de prenda de Natal, como dizia o Miguel, é oferecer uma lata de conservas:) Foto tirada à nova loja de Portimão situada na Rua Direita.
11 de dezembro de 2012
breath checking
não julguem que estão livres da continuação das músicas classificadas pela unesco como património imaterial.
como eu disse, 'uma semana' é uma coisa tipo metáfora.
eu apenas vos descansei os ouvidos.
a coisa vai regressar rapidamente com mais uma pequena série.
como eu disse, 'uma semana' é uma coisa tipo metáfora.
eu apenas vos descansei os ouvidos.
a coisa vai regressar rapidamente com mais uma pequena série.
Manoel de Oliveira: «a memória é uma invenção»
(Imagem: Aniki Bóbó, 1942 em shutupandwatchthemovies)
Há (ainda) tanta coisa boa nesta varanda sobre o mar… Pensamento recorrente quando vemos alguém, à semelhança do nosso realizador, hoje aniversariante, completar uma idade invejável, a par de uma criatividade que se não extingue. E o pensamento não deixa de estabelecer associações, mesmo que aleatórias, em tentativa de contradizer uma conjuntura desinteressante (para utilizar um eufemismo):
- nomes de que sempre nos orgulhamos;
- um clima ameno (sim, mesmo com este frio, não ficamos forçados a "prisão domiciliária");
- poesia e ficção em português, lidas num ápice, não se cingindo a produção a autores que figuram na «História da Literatura Portuguesa», pois muitos são nossos contemporâneos;
- trechos variados de bela paisagem em reduzida área geográfica (aqui esquecendo por momentos a construção selvagem e desordenada);
- a bonomia das gentes , tantas vezes inversamente proporcional às agruras do quotidiano;
- uma gastronomia (terem-lhe chamado dieta mediterrânica apazigua alguns excessos) única;
- […]
«A memória é uma invenção» - afirma o Manoel de Oliveira. Assim sendo, que o seu olhar único a consiga captar, tornando-a perene.
Lisbon Story Manoel de Oliveira
8 de dezembro de 2012
Idiotas úteis
Estava hoje a urinar numa casa-de-banho pública e reparei
que tinham desenhado uma mosca preta na loiça branca do mictório. Certamente esta
bela ideia tem a intenção de contrariar a fama, e talvez o proveito, que os
homens têm falta de pontaria na função.
Contudo, contrariando esta excelente intenção, só consegui associar
a ideia da mosca plantada à frase dita ontem por um amigo, referindo-se aos
actuais políticos e às suas associações aos interesses instalados:
- Eles são um bando de idiotas úteis.
5 de dezembro de 2012
Joaquim Benite: o teatro português fica mais pobre
Numa época em que grupos de teatro, a fazer parte da nossa história pessoal, correm o risco de desaparecer, o falecimento de Joaquim Benite torna ainda mais pobre o panorama do teatro português.
O fundador do Teatro Municipal de Almada
1 de dezembro de 2012
Nós por cá ou dia de barrela
Aforismos, ideias feitas… Cá pela aldeia, quando impera, no comércio local, a palração designada pelos antepassados como «enterrar os vivos e desenterrar os mortos», contrariada por quem não entra no diálogo, alegando que «a roupa suja de cada um se lava em casa», fica-se a olhar, em amena manhã de sábado, os estendais em plena via pública, pensando-se «as intimidades em algodão, fibras sintéticas, etc., lavam-se em casa, mas podem ser estendidas por onde circula a vizinhança?»…
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