12 de junho de 2012

O haiku das palavras perdidas de Andrés Pascual

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Fotografia: Michael Kenna

“Que viaje à roda do seu quarto quem está à beira dos Alpes, de inverno, em Turim, que é quase tão frio como São Petersburgo – entende-se. Mas com este clima, com este ar que Deus nos deu, onde a laranjeira cresce na horta, e o mato é de murta, o próprio Xavier de Maistre, que aqui escrevesse, ao menos ia até o quintal”. – Almeida Garrett, Viagens na minha terra

A leitura é ânsia de evasão, seja ela fugaz, a poucos quilómetros de casa ou distante, levando a esquecer o correr das horas. Em fase de leitura compulsiva – lamentando que nem todos os dias do ano, assim sejam caracterizados –  penso que ler é também viajar, interiorizando como perturba o ritmo do tempo, por trazer ao pensamento a pretensão de percorrer a totalidade dos livros, de concretizar todas as jornadas, isenta de constrangimentos. De um livro de navios afundados e tesouros quase esquecidos, passa-se ao universo do Japão, com duas gerações presentes no enredo (a de Nagasáqui e a do recente terramoto). A escolha é também feita pelos afetos – o escritor, presente há dias numa palestra no nosso país, deixou – por motivos que não vêm à colação – a oferta do seu romance traduzido, com uma dedicatória sentida, a uma das minhas filhas que pretende viver de e para a escrita, intuito ousado, nesta era tecnológica em que, por contradição, tanto deixamos desperdiçar. País distante, acerca do qual efabulamos, têm-me espantado relatos credíveis de amigos que o visitaram, um pouco à margem de circuitos turísticos «sentimo-nos em casa» (a expressão surpreende, por considerar a cultura tão diversa e longínqua). Recordo ainda comentários de japoneses que passeiam pelos bairros típicos de Lisboa «somos parecidos, também estendemos roupa à janela», referem-me ainda o bolo que descende do nacional pão de ló (disso já todos temos conhecimento), a par de algumas palavras por nós deixadas, aquando da expansão. Tendo-me alongado sobre um livro que só hoje irei encetar, deixarei unicamente como abertura a epígrafe que antecede o início do romance:
 Nasci para o mundo/ e deixo-o com a minha morte. /As pernas levaram-me a mil aldeias /e a infinitos lares. /O que são?/ O reflexo da lua na água, uma flor que flutua no céu… /Oh!
Gizan Zenrai

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