"É preciso dizê-lo, antes de mais : Cranford está à mercê das Amazonas. Todos os proprietários, a partir dum certo rendimento, são mulheres. Se um casal vem estabelecer-se de novo, o marido desaparece qualquer maneira. Apavora-o a idéia de saber-se o único homem dos serões que aí se dão, e, ou é ocupado pelo regimento ou pelo navio, ou prendem-no toda a semana os negócios na grande cidade comercial de Drumble, situada, aproximadamente, a vinte quilómetros, pela via férrea. Em resumo: aconteça o que acontecer a estes senhores, não é fácil encontrá-los em Cranford. Aliás, que poderiam eles aí fazer ? O médico que circula sobre urna trintena de quilómetros em redor, dorme em Cranford, mas nem todos os homens podem ser médicos"
A cidade sem história, Elizabeth Gaskell, Editorial Inquérito.
Arrumo folhas e capa desirmanadas pelo tempo e pelo uso e descubro A Cidade sem História de Elizabeth Gaskell. Tenho ideia que o li, muito novinha e a assinatura da posse é da minha mãe. Em 1943, transplantada do norte para o sul, habituava-se a Palmela e a ser casada. Imagino-a a ler, embrenhada e feliz. E se os livros nos contam uma história, certamente contam também a dos seus possuidores e deles se exalam doces memórias e saudades.
2 comentários:
Também revivemos memórias dos mais queridos através dos livros que nos legaram. Gostei muito deste post, T:)
Por isso não concebo como, quando uma pessoa morre há pessoas que se apressam o vender os seus livros como se de lixo se tratasse. Tive uma dessas situações na família há pouco e foi muito doloroso.
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