27 de dezembro de 2010
Encerramento para balanço...
(imagem: a-sul)
Muitos se lembrarão de ver, no passado, em época posterior ao Natal e a invadir os primeiros dias de um ano novinho em folha, estabelecimentos comerciais a ostentar os dizeres «encerrado para balanço».
Sendo o comércio tradicional actualmente mais esquecido , surge a ideia de, à semelhança de outrora, proceder a um breve encerramento para balanço, sob a forma de apontamentos soltos…
Trazendo a simples observação da correria consumista cansaços e desejos do regresso à rotina, fica-se a dissecar algumas experiências a pairar entre festas… Não gostando de fazer compras por atacado – ao contrário de tanta gente – fica-se como consciente outsider de um exército responsável pela desarrumação de prateleiras a mobilizar comerciantes , o que ainda torna mais surpreendente algum enfado devolvido à escriba em alguns rostos por detrás do balcão. Mais estranho se torna o azedume, quando são os proprietários a ostentar atitudes hostis , existindo honrosas excepções que merecem destaque pela positiva… É que com tantas alternativas, constitui tortura insistir no regresso a locais onde cada um não se sente bem-vindo…
Passando para o lado de cá do balcão – porque a vida não se divide entre os bons e os vilões – vislumbra-se alguma clientela desencantada, em fintas rumo à caixa …
Nas notícias, a referência ao aumento de acidentes de viação, um deles ainda ontem presenciado no empolgante IC 19, perguntando-se, a propósito, aos nossos botões, se no volume de tráfego e no facto de muitos só pegarem no carro nestes dias se encontrará a explicação…
Encerrando a festa e não com chave de ouro, verifica-se que a experiência da corrida aos ecopontos de uma zona habitualmente pacata se revela supreendente, tendo de se distribuir os resíduos da festa por vários locais: parece que na fúria de se restituir à home, sweet home o regresso ao quotidiano, muitos desistem de depositar os despojos festivos no interior de contentores adequados, sendo o cenário semelhante ao de uma greve dos colectores do lixo. Afigura-se à própria - com alguma dose de mau feitio, mesmo que por vezes controlado- que seres humanos há a merecer melhor ambiente festivo do que outros… E assim se goram os ideais da revolução francesa, da tal igualdade (substituiria a fraternidade pela mais grata solidariedade)… Chega à memória uma leitura distante de um artigo do Guardian a referir que, na velhinha Albion, quem trabalhava na recolha de resíduos auferia de muito melhor vencimento que um empregado de escritório menos qualificado, embora a generalidade dos cidadãos do país preferisse uma profissão «limpa» (white collar), mesmo que de inferior remuneração… Certamente que a quadra não será só isto e, sem dúvida, os apontamentos soltos terão surgido porque o dia amanheceu cinzento e frio…
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2 comentários:
A quadra é também isto. Infelizmente. Por essa e outras disfunções encobertas pelo progresso. Cabe-nos a mudança(pura demagogia, pensarão;-). Não só. Há até alguns Natais atrás mudei o meu comportamento:Deixei de sentir stress com as compras, faço-as com o pouco tempo que tenho e com gosto a quem as ofereço, reduzi o numero de presenteados, envio postais de Natal, via CTT, não tenho presentes de obrigação, não espero nada de ninguém e continuo a comprar uma prenda que me ofereço sempre, mesmo fora da época de Natal. Ceio com a família, adorava ir à Missa do Galo até que lhe mudaram a hora para o fim da tarde e no dia 25 visito familiares que durante o ano não estão tão perto. Compro onde sou tratada com respeito e basta um empregado mal encarado, para eu não voltar à loja, trstaurante, seja o que for.
Se mudo alguma coisa? Talvez apenas o facto de me sentir bem, de sentir que posso fazer o natal todos os dias e não respiro de alívio, porque já passou.
...Porque houve tempos em que senti assim, uma pressão de Natal comercial e ´tão fútil quanto cínico.
Quanto à igualdade, nunca acreditei na igualdade, porque somos mesmo diferentes. Mas defendo ferozmente, a igualdade de oportunidades.:-))
E a fraternidade é o que continua a fazer avançar o Mundo, mais depressa ou quase parado sendo directamnete proporcional à Fraternidade envolvida...
Abreijos, amigos e que a (des)humanização a que assistemos nãos vos façam desistir de perseguir os sonhos.
Sábias palavras, AnaMar:)
Também gosto de reencontrar pessoas queridas nesta época (e no Verão para uma grande sardinhada).
Sem dúvida que os dias são muito o que deles fazemos, salvo alguns imprevistos... E assim conseguimos afastar um pouco esse tal espírito menos sorridente da quadra, afastando-nos deliberadamente da confusão. A fraternidade pode ser um valor, mas gosto mais da solidariedade (não como mero conceito já gasto), embora isso seja subjectivo, como tudo aquilo de que gostamos incondicionalmente.
Beijinho e um 2011 propício.
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