10 de agosto de 2010

coincidências i

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ha muitos leitores da biblioteca onde trabalho que não gostam de procurar livros pelos corredores, então limitam-se às devoluções que estão no carrinho por arrumar. com necessidade de justificarem esta atitude dizem que se outras pessoas os levaram de emprestimo é porque devem ser boas leituras. embora não concorde com esta teoria acabo por sorrir, mais pelo pretexto do que pela razão. temos percebido isso cada vez mais, que as pessoas não gostam ou não têm tempo para procurar leituras que lhes interessem e por isso acabamos por fazer criticas de livros que lemos e por pôr “cintas” com a frase “coup de coeur des bibliothécaires” à volta de alguns titulos que gostamos de ler. nos dias em que tenho mais tempo percorro as estantes à procura de livros que li e de que gostei. as minhas escolhas acabam, muitas vezes, por ir para leituras antigas e no sabado passado resolvi percorrer as estantes dos documentarios/ensaios. entrei no corredor dos 600, na classificação decimal de dewey, e o meu olhar parou n’ “o homem que confundiu a mulher com um chapéu” do oliver sacks. pensei que tinha lido aquele livro ha mesmo muito tempo, nos primeiros anos de universidade e tinha gostado imenso destes relatos sobre a memoria. agarrei nele para pô-lo no expositor dos "preferidos das bibliotecarias" enquanto olhava para o livro ja muito usado e amarelado, imovel na estante desde 2007.

a manhã passava devagar. depois de uma semana de chuva veio o sol e os leitores preferiram passar a tarde ao ar livre. e pouco tempo antes da biblioteca fechar veio uma rapariga que nunca tinha visto. cumprimenta-me com um “bonjour” e enfia-se algum tempo no corredor dos romances, sem passar pelo dito expositor. e para minha grande perplexidade vem até à mesa dos emprestimos e diz-me “não têm o livro do oliver sacks que se chama qualquer coisa como “l’homme qui prenait sa femme pour un chapeau”? fiquei 5 segundos sem resposta a olhar para ela e quando a vi levantar o sobrolho apontei para o meu lado direito e disse que tinha acabado de o pôr ali. ela ficou quase tão surpreendida como eu. entregou-me o livro, eu registei-o, ela sorriu e disse "au revoir".

ficou um espaço vazio no expositor, se tivessemos o “caderno vermelho” do paul auster tinha-o posto a substituir...

14 comentários:

Teresa Santos disse...

Para além da coincidência curiosa, penso que perante a conclusão (ela tambem, curiosa) de que as obras que estão para arrumar são as mais pretendidas, porque não aproveitar e, "como quem não quer a coisa" colocar umas obras interessantes
e que o grande público não lê?
Aqui fica a sugestão de algumas Categorias da CDU que considero pertinentes:
1 - Filosofia e Psicologia (importante, não?);
3 - Ciências Sociais (fundamental);
8 - Lingua, Linguistica (obrigatória. Quantos sabem como bem escrever?, quantos entendem o que lêm?)
Sugestões, apenas!

DIFERENTES SOMOS TODOS NÓS disse...

Admiráveis, o post e a obra!O comentário, nem por isso!

Miguel Gil disse...

J., apreciei o momento transcrito. As bibliotecas da rede pública estão a fazer um trabalho enorme pela leitura neste país. Estes momentos são muito gratificantes do vosso empenho, não são?

J. disse...

tenho pouca experiência com as bibliotecas publicas portuguesas. penso que tem havido grandes evoluções, mas ainda ouço muitas pessoas dizerem que os livros são caros e que por isso não lêem. para umas sera desculpa para muitas, falta de informação. as bibliotecas em portugal são inteiramente gratuitas, o que não acontece com as bibliotecas francesas. talvez ainda seja preciso fazer muita sensibilização neste sentido e sacudir a ideia que algumas pessoas têm das bibliotecas e dos bibliotecarios como lugares frios e pessoas austeras.

mas sigo algumas bibliotecas portuguesas e às vezes tenho arrepios com as ideias e com as propostas de animação ousadas de algumas, ha ideias muito boas e originais para chamarem as pessoas até elas ou simplesmente para fazerem chegar livros às pessoas. lembro-me de uma biblioteca que fez uma parceria com uma pizzaria em qe era possivel enconmendar a pizza e um livro da biblioteca e o senhor das entregas das pizzas trazia as duas coisas. quando ha reacção por parte dos utilizadores, sim, é muito gratificante. também é muito bom quando se aconselham livros aos leitores e eles depois vêm sempre ter connosco a pedir outros conselhos porque acham que vamos sempre proporcionar-lhes bons momentos de leitura. quando isso acontece com crianças que não gostam de ler é ainda melhor :)

teresa disse...

Curioso post que me pôs a pensar: quando vou à biblioteca por motivos de estudo as escolhas já vêm feitas de casa (o que é o mais comum) com pesquisa na base de dados... Sem ir a estes locais por motivos de leitura recreativa (os hábitos de juventude vão-se perdendo), dei comigo a pensar que quando o fazia regularmente (mesmo já com a modalidade das estantes móveis com os livros à espera de serem de novo arrumados), o gozo estava precisamente em andar a espiolhar todas as prateleiras à procura de alguma preciosidade rara... Insistimos em comprar livros (tantos ainda à espera de serem lidos), quando o inteligente - uma amiga de longa data faz isso - é precisamente ir buscá-los à biblioteca! Diz ela que já não tem espaço para livros e, como tal, põe a leitura em dia sem encher mais a casa, confesso que ainda não me consegui organizar desse modo, mas parece-me prático e inteligente;)

Luísa disse...

Eu sou daquelas que gosta de rabiscar os livros, dobrar os cantos e mais não sei o quê, por isso só vou (ia) à biblioteca a trabalho. Mas depois que vim morar para a Suíça comecei a ter vontade de ir às bibliotecas por lazer (quando ler em alemão de forma decente, vou lá). E isto porque as bibliotecas, ao contrário das de Portugal, são como imans. Atraem-nos muuuuito.
Sempre que regresso do trabalho espero em frente a uma biblioteca e delicio-me a ver a montra. De x em x tempo, as bibliotecárias mudam o tema das leituras, arranjam acessórios e fazem uma montra que parece de uma livraria. Por exemplo, colocaram umas malas em monte e ao lado colocaram romances de viagem, diários de viagem, relatos de viagem, guias de viagem, dvds de viagem e tudo o que possa ser emprestado por uma biblioteca em torno da temática de viagem. Não sei se se paga ou não, mas o que é certo é que aquilo está sempre cheio de gente e é só uma biblioteca de "bairro".
Já a biblioteca (edifíco novo, todo XPTO)da minha terrinha... que medo!!! Sempre que ia lá perguntar pelo livro x ou y (eu procurava primeiro) ficavam a olhar para mim como se eu tivesse duas anteninhas verdes na cabeça. Isso não cativa leitores!!!!

T disse...

Foi por causa duma dessas histórias de bibliotecas que te convidei para o dias:) Remember?

J. disse...

teresa,

quando se tem tempo é optimo passear pelas estantes. fazem-se magnificas descobertas assim :)

antes de trabalhar em bibliotecas trabalhava em livrarias e comprava muitas coisas (as vantagens que a empresa oferecia aos seus funcionarios ajudavam). gosto de estar no sofa, pensar num livro e tê-lo à disposição para abri-lo quando me apetece ver qualquer coisa. mas, como diz uma amiga minha, tenho muitos livros na estante que comprei para "quando estiver na reforma" ;). mas esses até acho que vale a pena termos na nossa biblioteca pessoal, são livros quase intemporais...

em todo o caso, não temos anos de vida suficientes para ler tudo o que é publicado e que nos interessa, muitos de nos também não terão essa possibilidade financeira e ha assuntos que nos interessam ler para sabermos o que querem dizer sem que tenham que fazer parte dos livros que queremos guardar para nos. as bibliotecas publicas podem proporcionar-nos isso, embora elas estejam também limitadas aos orçamentos anuais e à sua politica de aquisição acho que so temos a ganhar se nos increvermos numa biblioteca :) ... como dizes, também poupamos espaço e armazenamos conhecimento ;)

J. disse...

luisa,

acho que a missão dos bibliotecarios começa muito ai, na forma como recebemos as pessoas que vêm às bibliotecas.

embora as bibliotecas publicas sejam um serviço publico e não um comercio de livros, tendo portanto objectivos claramente diferentes, deviam aproveitar o que de bom ha no que uns e outros fazem. quase todas as bibliotecas se tornaram mediatecas dispondo de variadissimos documentos em diferentes suportes. fazer acções de animação na biblioteca é cumprir a missão de trazer leitores, é dar vida ao nosso fundo documental, é dar sentido ao nosso trabalho e dar sentido ao tempo de algumas pessoas, fazer chegar informação a todas, abrir horizontes. essa ideia das malas de viagem com todos os documentos relacionados com o assunto é muito interessante :) mas é certo que tem que haver uma vontade politica por parte da camara municipal da cidade onde se encontra a mediateca e se for uma câmara que atribua importância à biblioteca vai desbloquear fundos financeiros para que esta possa desenvolver animações. ha pouco tempo fui a uma biblioteca de uma vila no norte de portugal e também fiquei espantada. as luzes estavam apagadas na sala de leitura, os computadores desligados porque não havia ninguém e estava uma senhora sentada numa secretaria à porta com o olhar no vazio... é preciso acender as luzes, é preciso ligar os computadores, é preciso que as pessoas tenham vontade de entrar sem terem o sentimento de estarem a incomodar... e se houver uma bibliotecaria com brilho nos olhos ainda melhor! ;)

J. disse...

t.

foi por uma historia de bibliotecas? ;) qual era a historia, ainda te lembras?

T disse...

A do livro escrito pelo Poirot. Tu tens histórias muito giras, criativas e deliciosas:)

T disse...

A do livro escrito pelo Poirot. Tu tens histórias muito giras, criativas e deliciosas:)

teresa disse...

Concordo contigo, J., assumindo que essa de armazenar livros é a minha pequena excentricidade, à maneira de um tio Patinhas (não com as moedas onde mergulhava, mas com livros), já os meus pais faziam o mesmo (será hereditário?)... sem dúvida que é mais lógico ir à biblioteca (e mais económico, sobretudo nos dias de hoje). Só em férias e numa pequena localidade onde passo, por vezes, uns dias, vou com frequència à biblioteca da terra (por lá o ambiente muito tranquilo é propício a devorar livros, principalmente quando o calor é tanto que só se está bem em casa e a ler). No caso referido, não é um local moderno nem a recorrer às novas técnicas de apelo à leitura. Tirei no mês passado uma fotografia que ilustra o ambiente descrito, se arranjar um texto que 'cole' bem ainda a postarei por cá um destes dias.
E quanto a teres trabalhado numa livraria, antes de dar aulas era um dos meus sonhos, pensava eu (se calhar sem fundamento) que podia atender as pessoas e, ao mesmo tempo, ir lendo as 'novidades' :)

Helena disse...

adorei :)