31 de julho de 2010

Paraíso III - A caneta




Os dias começavam-me bem sempre que ouvia, ainda ao longe, vindo da porta da Paraíso, o pregão:
- É só uma nota!
Apressava um pouco o passo e crescia o entusiasmo, como respondendo antecipadamente à continuação do pregão:
- Aproximem-se meu povo! É novidade! É só uma nota!
Não sei bem porquê mas devia ser Domingo de manhã.
A minha curiosidade nesse dia advinha de verificar se a “novidade” anunciada não o era, pois ansiava pela repetição da “novidade” do mês passado, a caneta de tinta permanente com enchimento por ‘patilha’ lateral.
- É produto da maior necessidade! É qualidade garantida! E só paga uma nota destas (e exibia a nota na mão levantada).
Sinceramente já não me lembro de que nota se tratava em concreto. Havia notas de 20$00, 50$00 e 100$00 como possíveis para este tipo de negócio. [Excluo assim as notas de 500$00 e 1 000$00, mais usadas para compras maiores. Já é tão difícil encontrar a tecla do escudos, mas dá gosto voltar a escrever $s].
A nota de 20$00 parece-me ser, para as minhas possibilidades da altura, 1972 ou 1973, a mais viável, contudo penso que seria pouco para pagar aquela hipótese de compra. A nota de 100$00, pelo contrário, estava muito acima das minhas posses, não vendo qualquer viabilidade de dispor de tão avultada maquia, para esta compra ou para qualquer outra. Assim, analisando 4 décadas depois, a nota de 50$00 parece-me ser a mais provável.
Debaixo da pala de esplanada da Pastelaria Paraíso [não me recordo de ver a esplanada alguma vez montada] rapidamente se juntava, em semicírculo à volta do vendedor, um grupo de curiosos, constituído só por homens. Não sabia, à época, o porquê das mulheres não se juntarem também. As mulheres aproximavam-se, olhavam, matavam a curiosidade e afastavam-se.
Não tenho a imagem completa de como era a banca do vendedor, mas três coisas são certas: A banca tinhas pés de tesoura, o que lhe permitia abrir e fechar a banca; tinha uma mala onde guardava o stock e alguns apetrechos; em cima, a fazer de tampo, colocava um tabuleiro forrado a feltro verde, onde exponha os produtos a vender.
Havia, igualmente, três apetrechos fundamentais e desses lembro-me bem: Um pano de pó cor-de-laranja, onde limpava os excessos de tinta; um caderno pautado tamanho almaço, onde demonstrava o tipo de escrita das canetas e esferográficas; e um insólito pedaço de madeira, onde espetava as canetas pelo bico, num gesto em tudo idêntico ao do lançamento de um dardo ao alvo.
- Acontece deixarmos cair uma caneta ao chão. Se estiver fechada nenhuma tem problema, mas se estiver aberta … Reparem!
E lá espetava mais uma caneta no pedaço de madeira. E continuava a sua lição:
- Esta não é uma Parker, mas mesmo depois de lhe espetarmos o bico continua a escrever.
E demonstrava-lo passeando a caneta pelas folhas do caderno pautado:
- É só uma nota de cinquenta. E não fica por aqui! Quem apresentar uma nota destas (mostrava a nota) leva a caneta e também esta magnifica esferográfica, em aço, que escreve a preto, vermelho, azul e verde. Basta escolher com que cor quer escrever!
Ia manobrando os selectores da esferográfica e demonstrando a escrita no caderno. Eram umas esferográficas muito em voga na época, com quatro cargas e quatro cursores de selecção. Actuando sobre um fazia recolher a carga anterior e surgia o bico da cor seleccionada:
-Mas leva também esta e mais esta e, como hoje estou um mãos-largas, leva ainda mais esta.
Elevava um pouco a mão tendo a caneta e as esferográficas espetadas entre os dedos, não deixando de exibir na outra mão a nota de cinquenta.
- É só uma nota e leva isto tudo! Leva este magnífico conjunto (…).

O dia começara mesmo bem.
O vendedor tinha reaparecido com a caneta que eu tanto queria e tinha no bolso a tão apregoada nota de cinquenta escudos.
A minha ânsia ia acalmar, mas o meu entusiasmo ia em crescendo.
- Quero uma!
Agora era eu que exibia a nota de cinquenta escudos.
- Aqui tem o conjunto completo. Reparem que para encher a caneta é só fazer assim!
E num gesto de simpatia encheu-me a caneta de tinta. Mergulhou a canta no tinteiro, manobrou a ‘patilha’ lateral para cima e para baixo, limpou a caneta no pano de pó cor-de-laranja, fechou a caneta e deu-ma.
Como era linda a minha caneta.
[Estas canetas tinham uma pequena alavanca lateral que movia o êmbolo de enchimento do depósito de tinta da caneta].

Sabia que os meus irmãos Zé e João já estavam a tomar a café. Com o ar próprio de recente proprietário de uma caneta entrei triunfante na Paraíso:
- Vejam! Acabei de comprar. É mesmo muito porreira a escrever. E vejam como é para encher. É muito fácil, basta mexer esta alavanca aqui!
Ainda de pé, fiz o movimento explicativo de como se enchia a caneta.
Bom, assim que levantei a alavanca, pelo bico espirrou um jacto de tinta que foi directo ao homem que estava sentado de costas na mesa ao lado, a ler o Diário de Notícias, que ficou todo borrifado de tinta azul.
Penso que por ter escutado a minha alegria, atirando um olhar por cima do ombro, só refilou:
- Para a próxima tenha mais cuidado.
Voltou a folha do jornal e continuou a ler.
Incrédulos, em silêncio os três entreolhámo-nos e voltámos a focar os olhos no homem sentado na mesa do lado. O sobretudo creme que vestia estava manchado em toda a sua dimensão, tal como se fosse a pele de um dálmata.
Voltámo-nos a entreolhar e, sem mais palavras, de mansinho e muito apressados saímos da Paraíso.



28 maravilhosos segundos de exerto de um filme super8, caseiro e particular, dos anos 70

Gatos atarefados

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O verso e o reverso


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 Comprado hoje na loja do Zé e da Nélia. O Zé irradiava felicidade, vão ser pais de novo:)

Este cromo estava  numa caixinha cheia de preciosidades de papel que pertenceu a uma menina Maria Helena em 1926.Ora vejam.

30 de julho de 2010

Nunca o vamos esquecer

É a minha primeira imagem de António Feio no Gente Nova. Todas as pequenitas como eu o adorávamos e por ele tivemos a primeira paixoneta..
Enquanto estivermos vivas, certamente ele nunca será esquecido. Porque foi sempre um homem íntegro e gostável.Ele saberá disso. Tenho a certeza.


respondendo ao desafio...

me voici, na unica fotografia minha que conseguir encontrar de quando era pequena... adorava este lenço, acho que ainda andam pela casa de lisboa farrapos dele...

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Palavras para quê?

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Palavras para quê?
? Revista Banquete, 1973

7 anos


Foram sete anos que passaram num instante, parece que foi ontem. Sou veterana aqui, acompanho este blog quase desde o início.
Gosto muito de vir ver o que se escreve por aqui e gosto de comentar, embora escreva pouco porque me faltam os temas e, sinceramente, nem sempre me parece que o que escrevo seja interessante para os outros...
Obrigada por existirem, por escreverem, por opinarem. Eu continuarei por cá :)
E em resposta ao desafio, cá vai uma foto minha aos 5 meses. Linda, não era?

29 de julho de 2010

7 anos são, de facto, alguns (muitos) anos

para mim são 'só' seis, que apanhei a carruagem em andamento..

o dias é como uma família.
são os textos, são os almoços ou jantares, são as conversas mais ou menos acesas, são as enormes discussões e as polémicas a elas associadas.
é uma enorme amizade.
há seis anos que estou nesta casa.
os dias voam, pelo que se vê. mas a base constituinte mantém-se: um espaço onde cada um escreve sobre o que gosta e o que não gosta; um lugar onde a liberdade de cada um é um espaço sagrado.
esta casa faz-nos bem.
a todos os 'daqui'.
e espero, e desejo, que a todos os 'daí'


p.s. o tempo em fajão continua de ananases, com água tépida na piscina e cheiro a fogo no ar.
e eu prometo regressar a tempo do repasto aniversariante

O Colorido das Varandas desta Rua

Sempre gostei muito de me deixar percorrer ‘pelas ruas da nossa cividade’, observar as suas gentes e as suas formas de conviver.
Há poucos dias cheguei a esta rua e apaixonei-me pelo encanto dos seus recantos, senti o calor e acolhimento das suas gentes, alegrei-me com o colorido das suas conversas, agradou-me a disponibilidade opinativa de cada um e o respeito pela forma de pensar de cada um. Em cada varanda desta rua há uma linda sardinheira, muito própria, que embelezam e dão sentido aos dias desta rua.
Encantado, reconfortado pelo acolhimento, fui ficando e cada vez mais me sinto morador desta Rua dos Dias que Voam.
Teresa, bem haja por teres iniciado, há sete anos, este blog e sobretudo por o teres mantido assim, tão acolhedor, dando-lhe a hipótese de crescer saudável, criativo e interventivo. Parabéns a todos os moradores e visitantes desta rua tão especial. Vamos manter o colorido das sardinheiras da nossa rua.

7 anos merecem macarrões...

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7 anos de dias que voam merecem macarrões, por isso, hoje estarei a comemorar o aniversario comendo estas verdadeiras delicias. comerei um por cada colaborador (eu não conto) e terei que comprar mais uns quantos e comer um por cada leitor, porque afinal eles também fazem parte dos nossos dias...
parabéns a todos os colaboradores e leitores que moram nesta rua e que fazem com que os dias voem e viva a t. fantastica anfitriã deste espaço...

O Almanaque Alentejano de 1959

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Capa e contracapa.

Sete anos é muito tempo

Foi há sete anos, que tive a ideia de criar um blogue, sem saber nada do assunto e sem me preocupar em delinear objectivos ou estratégias. A este projecto se juntaram muitas outras pessoas, que contribuíram de uma forma ou outra para fazer este espaço. Discussões, risos, amizades, partilhas e também afastamentos passaram pela Rua dos Dias que Voam.  Antes assim. É um espaço vivo. Aqui vivemos nascimentos, casamentos, lutos e de uma forma ou outra fomos solidários uns com os outros. Temos um núcleo duro sólido.
Num contexto em que a convivencialidade se transfere cada vez mais para o Facebook,  ferramenta muito mais apelativa e de fácil consulta, continuaremos a caminhar por esta rua.
A todos os fazedores deste lugar, muito obrigada. E para a semana almoço!
...e viva a Tzinha que o inventou!

A lição de Salazar

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Hoje, 27 de Julho de 2010, faz 40 anos que morreu Salazar.
Mantém-se um silêncio hipócrita sobre o que representou o Estado Novo para a sociedade portuguesa.
A sociedade portuguesa não fez a necessária catarse sobre este período histórico marcado pelo colonialismo, o fascismo, a guerra, o obscurantismo cultural.
São 4 décadas de regime ditatorial ao serviço de interesses económicos, de ilegalidades, de corrupção, de jogos de influência, de assassinatos, de medo, de imprensa controlada, de inúmeras situações que, à imagem dos dias de hoje, se mantêm impunes, por julgar ou simplesmente por analisar. Falta fazer a análise histórica da criação do capital financeiro actuante em Portugal e a sua reminiscência aos interesses económicos do Estado Novo.
Inquieta-me verificar a impunidade reinante nos dias de hoje para as mesmas situações de corrupção, de jogos de influência, de diversas ilegalidades, da imprensa controlada. E mais me inquieta ver o regime em crescente devoção aos interesses financeiros e económicos instalados.

Imagem retirada em http://sol.sapo.pt/photos/olindagil1/images/636069/489x375.aspx

28 de julho de 2010

Amanhã faz sete anos que ...

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Respondendo ao desafio dos Carlos Caria, publico a minha primeira imagem, a foto do meu baptismo.
Se chorei só pode ter sido devido à tão pouca água derramada sobre a minha cabeça. Continuo a gostar de dar uns belos mergulhos no mar e nestas 'amenas águas' do Dias que Voam.
Nesta foto, de 1958, estou bem acompanhado pelos meus padrinhos (e também primos), pela minha mãe e pela tia paterna, todos vestidos a rigor para a cerimónia.

Maquiavel e a Dama

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Plus ça change, plus c´est la même chose
Capa de Bernardo Marques.

As caixas de fósforos

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Delas todas temos lembranças e marcam o nosso imaginário. Sempre adorei fósforos desde miúda, gosto sempre reprimido pela minha mãe.  É da sua  colecção pessoal, herdada de uma familiar, que a  nossa leitora e comentadora Cduxa nos manda fotos de alguns exemplares.
Giras não são?

ceci est une courgette...

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no trabalho sou das poucas pessoas que não tem quintal. quando chega o verão as minhas colegas começam a falar de cebolas, curgetes, alfaces, tomates-cereja, que “crescem muito e depressa”, que “este ano ha muitos” etc... e como a produção é maior do que o consumo caseiro a dada altura perguntam-me se eu não quero isto ou aquilo.

esta manhã, quando cheguei tinha, em cima da secretaira, um saco com uma enorme alface, varias curgetes de cores e formas que desconhecia, uma curgete GIGANTE e um frasco de doce de melão para experimentar...

Amanhã faz sete anos que...

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Cumprindo o desafio do Carlos Caria, segue foto dos anos 60, na Póvoa ainda, feliz com uma boneca no quintal de uma casa que amei muito e que já foi demolida. O traje era o bibe de brincar e sandália clássica. Pose politicamente incorrecta e de cabeça semi-cortada mas gosto desta fotografia, nem sei bem porquê. Talvez por causa da pá de lixo vintage...

Demasiado...

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Almanaque Bertrand, 1905

O primo

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Beijos, Almanaque Bertrand 1905

27 de julho de 2010

O voto feminino

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Assim era apresentado, a nível mundial, o direito das mulheres ao voto .
Almanaque Lelllo em 1936.

Pastagens do Céu

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"Todos os animais que Tulacerito já vira, aí se encontravam; por cima deles, voavam as aves da colina. Uma pequena serpente rastejante atrás de um bezerro; um coiote, com a cauda levantada orgulhosamente, perseguia um porco. Havia ainda gatos, cabras, cágados e ratos do mato, todos eles desenhados com uma veracidade e uma copia de pormenores admiráveis."
John Steinbeck

26 de julho de 2010

Alguns ofícios de ontem e de hoje

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Os ofícios desaparecidos e os restavam ainda. O aguadeiro, o vendedor de cães, o vendedor de bananas, o azeiteiro...
Almanaque Lello, 1934

Sete anos

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Em jeito de desafio aos bloguistas do Dias e em período de Aniversário, deixo aqui uma foto minha - que pode ser publicada sem bolinha - para que cada um publique uma foto sua dos primeiros anos de vida, para se ver o evoluir da forma de fotografar e até as indumentárias que se vestiam aos bébés.
Creio que vai ser uma agradável surpresa.
Carlos Caria

Estou à vossa disposição para publicar as fotos:)
T

Aniversário

Daqui a três dias, fazemos sete anos!

23 de julho de 2010

a vila ventura vai fazer 100 anos

benfica foi um bairro cheio de quintas, vilas, bairros dentro da cidade.
era uma espécie de outra cidade na periferia, antes de existir a nova periferia feita de outras terras.

com o tempo, as quintas transformaram-se em grandes empreendimentos, as azinhagas em ruas e o campo dentro da cidade em mais cidade.
pouco resta dessa benfica.

uma das poucas coisas são duas vilas lado a lado, uma delas a fazer 100 anos no dia 30 (a outra é mais antiga).
o destino delas é mais um prédio.



Nota: a pedido retirou-se a parte final do post.

o juiz não morreu...

...mas viva o pascoal !!!



(quadro de guilherme filipe, no ´pascoal')

o juiz de fajão e pascoal fernandes são as figuras centrais dos contos de fajão.
o humor do juiz é muito do humor das pessoas de fajão (dizem-no de mim).
arrevesado e com voltas e travessas.
o pascoal era mais o homem da luta popular. pelo menos a atestar a sua fama de ter encabeçado a luta pela aplicação dos privilégios de isenções aquando da passagem do domínio de fajão do mosteiro de folques para o de santa cruz, em coimbra pouco condizente com o que lhe é igualmente atribuído séculos mais tarde.
mal ao pascoal são-lhe atribuídos todos os feitos dos da terra.
é uma espécie de alter-ego colectivo dos fajaenses.

'fechou' o juiz de fajão, seguramente o restaurante mais famoso da serra do açor.
fechou, ou melhor dito, passou a, como dizem os anglófonos, ter o papel de 'supporting actor' na restauração fajaense.
e o papel principal passou, a partir de ontem para o 'pascoal', mesmo na esquina em frente.
se o pascoal já servia para quando o juiz estava cheio, agora vai passar a servir o juiz para quando o pascoal estiver a rebentar pelas costuras.

és estranho passar pela porta do juiz e vê-la fechada.
existe uma espécie de sentimento de orfandade na terra.
na verdade, desde os tempos do zé maria (uma 'personagem' completamente ao nível do pascoal) que aquele era o centro de fajão.
agora passa a ser o passadiço, bem mais perto da minha casa...


'morreu' o juiz?
viva o pascoal !!

degustando...

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Domingo em passeata por outras montanhas a 10 km da nossa casa. Estacionamos, passeamos, bebemos um café numa esplanada à sombra e compramos queijos feitos com o leite das cabras que tinham acabado de passar por nós. a loja minuscula vendia deliciosas especialidades e contra todas as regras de uma ASAE que não existe (ou se existe, nesta aldeia ninguém quis saber) vendiam à unidade, ovos das galinhas que se “pavoneavam” mais à frente...

O dia a dia de uma senhora dos anos 60

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Eram nestas agendas que se anotavam as despesas da casa. E onde também se contava a vida. Tropecei por acaso nesta, datada de 1966, que acompanha o quotidiano de uma senhora nesse ano.
Que sabemos dela? A vida não era desafogada economicamente, os seus luxos eram as revistas, (Crónica Feminina, Flama, Banquete  e Século), os lanches no Majestic, as idas ao cinema, muita fruta e guloseimas. O marido está fora, provavelmente no Ultramar. Chama-se Carlos, dela nunca saberemos o nome. Escrevem-se com frequência. Tem um filho chamado Nené, que anda no liceu e tem uma explicadora.. Volta e meia uma nota pessoal "Começaram os dias bonitos". Noutras vezes o pragmatismo: contaram a luz,  contaram a água, há o telefone para pagar. Tem uma letra bonita  e ágil, não se atrapalha a fazer contas. Escreve vagens, como eu escrevo. Compra papel de carta de avião para escrever ao marido. Nos anos ele envia-lhe um telegrama. Compra gelo, Martini e vinho branco. Cigarros frequentemente. Para o marido? A empregada chama-se Conceição e recebe à semana. Vai ao sapateiro  e manda arranjar as meias. Gosta de experimentar as receitas incluídas na agenda e qualifica-as de bom a muito bom. Tem uma modista.  Dá esmolas. Pão e leite nunca faltam em casa. Que lhe terá sucedido? Provavelmente morava no Porto. Fiquemos por aqui.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                              

António e Joaquina

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O amor já não é o que era...
Almanaque Bertrand 1905




Modernidade

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O pinto pensante
Almanaque Bertrand 1905

22 de julho de 2010

A sobreviver ao desgaste do tempo

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No rasto de locais do passado nem sempre é possível o reencontro. Restam-nos, pois, memórias mais ou menos nítidas… É no entanto curioso verificar-se que, tendo desaparecido algumas referências de juventude, outras acenam-nos agradavelmente de inesperados recantos da cidade. E assim somos transportados para épocas em que, de regresso a casa com a satisfação de ter conhecido figuras e momentos inesquecíveis (hoje referências marcantes por terem cessado a sua existência neste exíguo planeta) alguém, no paredão junto à praia, toca trompete sob uma noite clara, fazendo com que perdure um tema sem tempo. A conjugação do trompetista (quem sabe se inspirado pelo evento há pouco terminado) com a natureza envolvente: uma noite clara que nem parece de Novembro, surdo desfazer de ondas disciplinadas a poucos metros do local onde se encontra - um quadro que o revela a quem passa para o último comboio, como alguém a tocar exclusivamente para a praia e para a noite… lúcida e teimosa lembrança a sobreviver ao desgaste do tempo.

E o tempo parou por um momento...

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Parece ter-se detido aqui o curso do tempo… subitamente, chegam ao pensamento livros de capa amarelada a transportar para cenários que só a leitura consegue no presente definir… consegue-se imaginar a orquestra a tocar em abafadas noites de Verão . Senhoras de elegante vestido de organdi rodando ao som de uma previsível valsa de Strauss com cavalheiros de casaca e penteado irrepreensível a exalar a brilhantina… Em que local terão sido captadas estas imagens?

É o Casino do Luso e acertou o ABS.

O medo

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Miau, miau
Almanaque Bertrand 1905

Belos objectos

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Acho que serviam para recortar a massa, mas não tenho a certeza. Recordam-se deles?
Revista Banquete 1973

Pensamento reservado

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O futuro...
Almanaque Bertrand, 1905

O beijo

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Esposa Exemplar,
Almanaque Bertrand 1905

A Pompadour

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A Pompadour em 1933
Almanaque Lello

O Blondex e o Brunitrex,

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Assim eram os cabelos em 1949:

O Blondex e o Brunitrex.

21 de julho de 2010

Depoimentos do exterior: ser professora ao longo de 40 anos

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40 anos mais tarde, ensinar continua demasiado apelativo para pensar na reforma…

Emily Farrell
Professora na Strat Haven High School, Delaware.


Em 1970 levantava-me diariamente às 5h rumo à primeira escola onde trabalhei no Michigan. A localidade, Hartland, tinha uma única rua. Havia 3 turnos horários e eu leccionava desde o início da manhã até ao meio-dia. Horário de 6 turmas com quinze minutos de intervalo entre cada uma. O ordenado era na época satisfatório: 8.000 dólares anuais. Os alunos não possuíam livros e eu ensinava Inglês…
Um ano mais tarde, fui colocada num verdadeiro paraíso, a Nether Providence High School. Não faltavam por lá livros. Os pais valorizavam hábitos de leitura.
Os anos 60 tinham chegado ao fim, mas uma certa cultura ‘hippie’ vigorava na escola... e não me refiro ao fascínio pelos romances de Herman Hesse, mas sim ao consumo de marijuana.
No início de 70, esta escola tinha um ‘campus’, podendo os estudantes sair para o almoço. As saídas originavam problemas. Na época, um professor podia questionar um aluno sobre o olhar vidrado ou o cambalear. Hoje não. Perguntem a um jovem se está ‘pedrado’ e sujeitam-se a um processo…
Apesar da liberdade, que razões encontrariam os adolescentes para sair do ‘campus’? No local existia uma área para fumadores a fim de se acabar com o fumo nas casas de banho ou em restantes espaços fechados.
Agora poucos estudantes fumam, as instalações sanitárias são áreas despoluídas e os pavilhões têm as portas fechadas à chave fora do período das aulas. Os visitantes têm de se identificar para lhes ser autorizado o acesso e qualquer um apanhado a fumar dentro de muros – jovens ou adultos – acaba no gabinete do director, sendo-lhe aplicada uma multa dissuasora.
Consumo de drogas? Temos pessoal de apoio, psicólogos e assistentes sociais que auxiliam/alertam os prevaricadores. Torna-se mais difícil frequentar a escola sob efeito de substâncias ilícitas.
Quando comecei a leccionar, os pais trabalhavam e as mães, muitas com consideráveis habilitações académicas, ficavam em casa, o que trazia vantagens e desvantagens. Uma mulher cuja carreira exclusiva é a maternidade, tanto pode ser a melhor advogada de um professor como se pode converter numa fera, queixando-se ao director, ao ministério ou a Deus, caso Ele tenha disponibilidade para lhe responder. Pode atacar violentamente ao primeiro sinal de uma positiva mais baixa…
Hoje todos têm de trabalhar, encontrando-se os pais exaustos para – pelo menos presencialmente - apresentarem queixas.
Bem-vindos ao e-mail. À semelhança de alguns adolescentes que divulgam fotos no Facebook após consumo desenfreado de álcool e livres de consequências, os pais podem enviar mensagens de correio electrónico não raramente impulsivas. Os professores devem responder-lhes cautelosamente: encarregados de educação não têm tempo para se queixarem na escola, mas o processo judicial é prática corrente…
Outra mudança é o mundo da educação especial. Há alguns anos, a nossa escola tinha dois professores de educação especial, o distrito tem hoje tantos professores de educação especial como de Matemática. Vinte por cento dos nossos alunos encontram-se sinalizados. O que era considerado “pequeno obstáculo” na geração anterior é actualmente rotulado como “problema focalizado”. Uma criança menos concentrada é “incapaz de processar”. Estudantes outrora encarados rudes ou agressivos, a necessitar de penalização, precisam hoje de “reforços emocionais”.
Ciente de me encontrar a ironizar sobre o novo mundo das etiquetas, não duvido que o nosso entendimento sobre alguns problemas subtis de aprendizagem terá dado lugar a uma panóplia de actuações alicerçadas no facilitismo.
Quando comecei a profissão, as maiores distracções domésticas eram a tv e o telefone. Confiscar, na aula, um bilhete de namorados, não era complicado como actualmente. Existem os telemóveis, excelente apelo para se ignorar o trabalho escolar. E que o professor se livre de tentar ler as sms quando apreende um destes aparelhos. É ilegal. Deixei de reparar nas fotos enviadas, mostrando grandes planos (muito detalhados) de jovens em beijos cinematográficos... Já estou curada.
Associem ainda os telemóveis às fraudes escolares: durante um teste de soletrar (sim, ainda existem), reparei num rapaz com o telemóvel ligado. Estaria a receber uma mensagem do pai, tal como me informou, ou a utilizar o seu dicionário online? Adivinhem…
Sim, o mundo mudou para esta professora de 62 anos que pensa na reforma, mas não consegue largar a escola enquanto ainda gosta do que faz. Os meus alunos alegram-me todos os dias, parecendo apreciar o que lhes ensino.
Em 2010 acordo às 6h para a aula de escrita criativa com início às 7.30. Ensino 3 diferentes cursos por semestre e a duração de cada sessão é de 80 minutos. Os estudantes começam por ligar os laptops para construção de poemas destinados ao concurso de escrita. Às 15.30 chego a casa , ficando a aguardar os textos feitos na aula para ,logo de seguida, os enviar para a Califórnia. Enquanto espero, preparo um mail dirigido ao director de uma universidade por causa de um candidato. Nessa mesma noite, recebo uma mensagem electrónica bastante motivadora, enviada por um pai e auxilio um aluno a concluir ensaios académicos 'na hora'.
Sem dúvida que o ensino mudou.


Tradução livre do Philadelphia Inquirer de 6/6/2010
Foto de Emily Farrell , legenda: «Emily no ano lectivo de 74/75 antes do e-mail, dos sms e dos “problemas focalizados” ».

(agradecimentos ao V pelo recorte enviado)