"Tudo o que não sabemos é espantoso.
Mais espantoso ainda, é o que passa por saber"
Philip Roth
"Assim é a cumplicidade dos irmãos: os fios do laço que nos une estão sempre amarrados à memória. Que saberás tu das noites sem lua, que saberás tu do amor sem fortuna. Creio que são versos de Lorca e nem sequer tenho a certeza de que se lhe possam atribuir literalmente e por esta ordem. Era a resposta que o papá nos dava quando, em pequenos, lhe perguntávamos qualquer coisa a que não queria responder.A mamã tinha outra frase favorita para as perguntas indiscretas, para a insolência, para os momentos em que nos atrevíamos a emitir opinião sobre aquilo que ignorávamos " Não metas o nariz onde não és chamado", dizia ela então.
Talvez eu o diga um dia. Sei que não dependerá da minha vontade. Sei que se for mãe, chegará o momento em que me sairão da boca palavras alheias, como se eu fosse uma daquelas antenas que só servem para emitir um sinal radiofónico. Se tiver este filho, converto-me em eco. Sei-o e resisto-lhe.
Penso em Li Pó. Quinto provérbio : "Nem tudo o que ignoramos é mentira"
Enrique de Hériz, "Mentira"
Só agora a larguei, porque o acabei. E com esta leitura revisitei emoções e memórias. As histórias das famílias não são assim tão diferentes. O que se diz. O que se oculta. O que se inventa.
"por exemplo um hipotético oitavo provérbio de Lin Po: " A verdade e a mentira são aparelhos de fortuna. Mantêm-nos à tona no naufrágio da vida". Não sei, julgo que Lin Po nunca viu o mar"
(assim termina o livro).
Comprem-no, leiam-no devagarinho, saboreiem. O meu exemplar já tem lista de espera de leitura. Nada como a descoberta de um novo grande autor, para alegrar a minha parte que gosta de ler.
Bom domingo:)
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