24 de fevereiro de 2006

Memória de elefante


É o que o Carlos tem e felizmente para nós. Agita-nos as ideias.

Por causa de ler o texto dele sobre o Zeca, recordei muitos momentos do pós 25 de Abril, que penso serem impossíveis de repetir agora.

O primeiro canto livre, como se chamavam, que fui ver. Era um plantel de luxo: O Zéca Afonso, o Fanhais,o Adriano, O Fausto, o Paredes e o Alvim, Sérgio Godinho e muitos outros. Penso que o Zé Mário não estava lá. Depois de um emocionante, mas de chorar mesmo muito, concerto em que todos cantavam, subi ao palco no fim, muito despachada a pedir autógrafos num papelinho que guardo tão religiosamente, que terei de o ir procurar para o postar aqui. Lembro dois abraços muito apertados. O que o Zéca me deu, com aquele ar meio tímido e o do Paredes, que brilhava de alegria.
Vim tão mas tão feliz para casa. Era o meu plantel de heróis e eu tinha 15 anos. Era melhor do que quase do que tudo no mundo tê-los visto.

Mais tarde, estive em outros momentos que igualmente foram importantes: a célebre reconciliação entre o Sérgio e o Zé Mário, selada por um abraço num concerto a favor da liberdade do povo maubere,na velhinha sala da Voz de Operário. Quase que se partiam no abraço e todos nós aplaudíamos. Eu confesso que o Zé mário era para mim uma verdadeira paixão.

Quando fui ao Ser Solidário no Teatro Aberto tive outro privilégio. Estava presente o Zeca na plateia, perto de mim até, e o Zé Mário chama-o e é a apoteose geral. Acho que deitei umas furtivas lágrimas de o ver, porque o vi debilitado e fiquei como que um nó na garganta. Depois o Zé Branco lançou-se no seu belissimo FMI e eu esqueci tudo o resto.

Foram momentos que tive sorte em viver. Também ouvi a mulher do Arnaldo Matos a tocar piano, mas isso era diferente. Até devo ter ouvido o carlos a cantar nos concertos do MRPP, a que ia com os meus irmãos.

Às vezes dou por mim a ter saudades da imensa criatividade e qualidade destes cantores e músicos neste período. Gostaria de ouvir mais o Zé Mário. Que abriu para mim o mundo, com os sons da gare de Austerlitz. E de voltar a ouvir pela primeira vez o Cantigas de Maio.

"Ergue-te ó Sol de Verão
Somos nós os teus cantores
Da matinal canção
Ouvem-se já os rumores
Ouvem-se já os clamores
Ouvem-se já os tambores"
Não o Zeca não morreu....E fiquei feliz de ver isso ontem neste blog.


(ops encontrei o papelinho muito amarrotado.Porque é que me esqueço sempre do Vitorino? Deve ser por não gostar nada dele:)

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