No Outono de 1955 um jovem alferes da Força Aéra Portuguesa recorre à Farmácia da Cooperativa Militar, para os lados das Portas de Santo Antão, em Lisboa. É atendido por uma jovem e bonita ajudante técnica. Acompanhado de mais dois camaradas, os três há pouco chegados do Canadá após um curso de navegação aérea, trocam piadas cúmplices sobre qual dos três conseguirá arrastar a asa à simpática garota atrás do balcão. Vão à sua vida. O alferes desta história, contudo, guarda a jovem na memória e, passados dias, regressa à farmácia, onde trocam olhares entre o avio de Saridons, material de venda livre, pelo que não carecia de prescrição de facultativo.
No fim de tarde crepuscular de alguns dias depois a jovem ajudante técnica, dirigindo-se ao eléctrico que a levará à Estrada da Luz, apercebe-se de uma figura não totalmente desconhecida que a observa. É o alferes, plantado sob uma árvore no lugar em que a Praça dos Restauradores dá início à Avenida da Liberdade. Ela dirige-se ao eléctrico. O alferes entra igualmente, mantendo-se a alguma distância da jovem, não deixando de a fitar. Não trocam uma palavra e, chegada a sua paragem, a rapariga apeia-se. O alferes segue viagem.
Este ritual repetir-se-á ao longo de algumas semanas. Uma noite de Dezembro, quando o Inverno aproxima já os seus frios e o ar do fim de dia ressuma à humidade dos canteiros, o alferes, deixando o seu posto das últimas semanas entre os Restauradores e a Avenida da Liberdade, avança ao encontro da rapariga, que o vê dirigir-se a si e não vacila.
- Boa noite.
Esta troca de palavras simples, ocorrida na noite de 16 de Dezembro de 1955, leva a que me veja impedido de estar presente no jantar do blogue.
Creio que serei compreendido.
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