“Os Maias” é o meu livro preferido. Também amo o 1984 mas se pegar n’”Os Maias” e começar a lê-lo e a relembrar tudo aquilo e a entrar no espírito e a entrar naquelas personagens e o estilo da escrita e a linguagem... aiiiii!!!!!!! ADORO!!!! ... é, “Os Maias” é mesmo o meu livro preferido.
“Os Maias” é uma introdução excelente aos livros enquanto arte e enquanto género artístico específico. Um livro que é excelente pela sua história mas não apresenta nem uma linguagem especialmente cuidada nem sublime - não demonstra fazer parte de um género artístico específico. Fará parte do género artístico das artes narrativas, tal como o cinema e o teatro, mas não se autonomizará dentro deste género. Aquilo que é específico nos livros enquanto arte é a forma de contar histórias. Essa forma é feita com palavras. Portanto, é o estilo de escrita aquilo que é específico dos livros enquanto arte.
N’”Os Maias”, a história não é o mais importante. Haverá até milhares de pessoas que classificam o livro como chato, demasiado descritivo, não se passa nada, 682 páginas (na edição de bolso) ou 722 (na edição em papél de melhor qualidade e letra maiorzinha) que podiam ser resumidas a umas 180, talvez menos, acção muito lenta. Esses milhares de pessoas não sabem o que é a arte específica dos livros. Ou sabem mas não apreciam-na. A arte dos livros é a da escrita artística. “O Teatro são os actores” – dizia Meyerhold. Os livros são o estilo – digo eu. A história d’Os Maias até pode ser lenta, admitamos isso: o livro continua a ser genial pelo seu estilo. É a maneira como está escrito, mais do que o que é escrito, que é importante.
Mas reponhamos a verdade e afirmemos que, para além do estilo, o próprio conteúdo, a história e os quadros, bem como as personagens, tudo é genial n’”Os Maias”. Mas aquilo que mais fascina n’”Os Maias” e que melhor permite atrair as pessoas para o mundo dos livros enquanto arte específica é mesmo o estilo.
E é por causa do estilo que há livros, como “Os Maias”, que não podem ser passados para cinema: a história é traduzida para o filme, mas perde-se o estilo, ou seja, aquilo que é artisticamente específico dos livros. Seria impossível passar os livros de Mia Couto a cinema. Podiam ser passadas as histórias, mas ficava o mais específico dos livros: a linguagem, o estilo. Por outro lado, um livro com uma boa história mas sem estilo até ganha em ser passado para filme e o filme até será artisticamente mais rico se o realizador imprimir estilo ao texto filmado.
Para mim, o mais elevado na actividade artística dos escritores não é a concepção das histórias mas a forma de transformá-las em palavras. Conceber boas histórias não é específico dos livros, é a característica comum àquilo que eu chamo de artes narrativas: os livros, o cinema e o teatro. O estilo é a especificidade artística dos livros e é a característica destes que mais aprecio.
Sem comentários:
Enviar um comentário