Em cada cem pessoas:
Sabendo tudo mais que os outros:
- cinquenta e duas,
inseguras de cada passo:
- quase todas as outras,
prontas a ajudar
desde que isso lhes não tome muito tempo:
- quarenta e nove, o que já não é mau,
sempre boas porque incapazes de ser outro modo:
- quatro; enfim, talvez cinco,
prontas a admirar sem inveja:
- dezoito,
induzidas em erro
por uma juventude, afinal tão efémera:
- mais ou menos sessenta,
com quem não se brinca:
- quarenta e quatro,
vivendo sempre angustiadas
em relação a alguém ou a qualquer coisa
- setenta e sete,
dotadas para serem felizes:
- no máximo vinte e tal,
inofensivas quando sozinhas,
mas selvagens quando em multidão:
- isso, o melhor é não tentar saber mesmo aproximadamente,
prudentes depois do mal estar feito:
- não mais do que antes,
não pedindo nada da vida excepto coisas:
- trinta, mas preferia estar enganado,
encurvadas, sofridas,
sem uma lanterna que lhes ilumine as trevas
- mais tarde ou mais cedo, oitenta e três,
justas
- pelo menos trinta e cinco, o que já não é mau,
mas se a isso juntamos o esforço de compreender
- três,
dignas de compaixão:
- noventa e nove,
mortais:
- cem por cento,
número que, de momento, não é possível mudar.
Wislawa Szymborska
(Com reconhecimento ao Professor João Lobo Antunes por chamar a atenção para este poema, e por este texto).
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