ontem estive lá
rodeado de espanhóis
não tenho bandeiras na varanda (não tenho varanda)
não tenho bandeira no carro
não levei nenhum enfeite para o pescoço, nem para a cabeça. nem para coisa nenhuma.
não sou o típico espectador de futebol (vi mais jogos a semana passada que nos últimos 2 anos... 3-2, para ser rigoroso)
não vim para a rua depois do jogo a tocar a buzina (os meus carros podiam vir sem buzina que eu demoraria muito tempo a dar por isso..)
cresci numa época em que aquela bandeira e aquele hino eram coisas a evitar...
como em todas as coisas, o que nos acompanha no crescimento é determinante.
ainda hoje convivo mal com o hino ou a bandeira.
não tenho nada contra... mas não esperem que eu o cante... ou que a desfralde.
ontem á tarde fui fazer tempo para telheiras antes do jogo
estava sentado numa esplanada quando, de repente, do modo mais expontâneo possível, um grupo de pessoas começou a cantar o hino.
de repente toda a rua o cantava.
dei por mim emocionado.
um nó na garganta
olhar para aquela gente, maioritariamente muito nova, a cantar um uníssono um símbolo de identidade colectiva é arrepiante.
se as bandeiras nas janelas podem ser por 'o vizinho tem eu também vou por para que não me olhem de lado...', ali era uma identificação colectiva.
ali era imediato
era a vontade
era um sentimento comum de gente que nunca se tinha visto.
é-me irrelevante saber se era por um jogo de futebol (até gosto mais de basquetebol.. foi com esse que cresci), é-me irrelevante saber que se portugal perdesse eramos todos maus ou péssimos.
aquele momento, como muitos outros que em todo o lado se repetiram antes do jogo são os que me fazem ficar de lábrima ao canto do olho.
não é a vitória depois.
é a vontade antes
é o desejo e a força de conseguir
o futebol é apenas um jogo e aquele jogo foi apenas um desafio.
no próximo ano ninguém se vai lembrar daqueles momentos.
mas aquela sensação, aquele sentir de identificação por uma causa (como aconteceu há tempos por timor) fazem-me sentir que temos salvação:
conseguimos acreditar antes
e mostrar que acreditamos
o resto é perfumaria (como diria o zeca baleiro...)
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