Foi numa manhã fria de Dezembro.
Saí de casa para ir reparar a “burra”, um furo que teimava em persistir, acho eu. Saí de casa, ufano, com a minha primeira nota de vinte “paus”, verdinha, quase nova, com o Santo António de ar beato. Era, de facto, a primeira vez que tinha podido ficar com o dinheiro que a minha avó me tinha dado, no Natal.
Logo na rua de baixo, encontrei o Zé Gordo que foi comigo e, juntos, deixamos a bicicleta no senhor Zé. Foi nessa altura que ele me perguntou: Que vamos fazer agora?
Já não sei quem foi tendo as ideias mas fizemos muitas coisas. Primeiro comprámos boleimas na padaria da esquina, e comemo-las todas. Depois fomos ao senhor Faustino comprar cromos do futebol e algumas pastilhas. Enquanto comprávamos algumas pastilhas, roubávamos muitas mais. Depois, fomos à tasca do Marmelo, e comprámos tabaco: ele comprou um maço de Kentuky e eu, um de Provisórios. Descemos a azinhaga e fomos para a tapada junto ao campo de futebol. À medida que fumávamos cigarros furiosamente, empoleirados nos muros de pedra e em árvores variadas, atirávamos pedradas às galinhas das redondezas.
Era meio-dia e estava despachada a manhã. Com ela, tinha ido todo o maço de tabaco e quinze dos meus preciosos vinte escudos. Ao chegar a casa, não comi quase nada ao almoço: estava enjoado de tanto cigarro e apavorado que me perguntassem pelo dinheiro!
Assim começou a minha aventurosa adolescência.
Passados anos fui estudar para Lisboa. O Zé Gordo arranjou um bando, assaltou casas e foi preso.
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