6 de agosto de 2013

Agosto em notas soltas


Existem muitas formas de tentar juntar os proventos necessários para fazer face às despesas do quotidiano. Há quem recorra ao que sabe fazer, com maior ou menor mestria. Há ainda quem tenha começado a mudar os hábitos, fazendo-nos sentir alguma vergonha (é mesmo este o termo) ao ganhar coragem para pedir auxílio a quem passa. Apontamento primeiro: no parque de estacionamento de um supermercado, um homem de 77 anos, de roupa cuidada, embora humilde, pede auxílio para as despesas . Confessa a parca reforma, a renda da casa há dois meses por pagar, as 3 crianças a cargo e uma filha. Estranha-se a ousadia e, por momentos, emerge a desconfiança . O pai dos pequenitos encontra-se a cumprir pena num país estrangeiro, a filha cuida dos netos, o homem recebe cerca de 300 euros de pensão…


Apontamento segundo: fazer apelo aos turistas, numa cidade não muito distante, com ou sem arte. No primeiro caso, a música encanta, as caricaturas são apelativas; no segundo, alguns mimos surgem a despropósito – uma mulher vestida de sereia, em dourado, junto à catedral, os supostos 'Santiagos', em tom kitsch ou ainda uma jovem de pés sujos, a vender cartão prensado com rabiscos a negro. Uma turista compra-lhe uma suposta obra de arte. A mulher abraça-a e dá-lhe um beijo repenicado. Mal a compradora vira costas, beija o focinho de um cão, de pelo hirsuto, e, com um sorriso, guarda a nota na algibeira.

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