este post era para ser um comentário, mas acabou por ser demasiado extenso, como normalmente acontece comigo.
garanto que procurei resumir a minha resposta às questões colocadas pelo 'pirata vermelho.
se eu soubesse, resumia melhor, assim respondo longo, chato e embrulhado.
peço desculpas antecipadas.
caro pirata,
vamos tentar sistematizar as questões que me coloca por forma a tentar responder integralmente às mesmas:
1.
quanto ao título e às palavras em língua estrangeira que lá estão (pitt broken), identificam o agrupamento musical que gravou aquela música e que no vídeo em questão a está a tocar.
sobre a origem do nome, poderá perguntar aos próprios através da sua página no facebook (livro de caras, em português), sabendo eu que tem a ver com algumas das suas influências culturais musicais,
2.
quanto ao vocábulo 'cover' que, na linguagem musical da música popular urbana costuma significar 'versão', significa que aquela canção, que em português se poderia chamar mau romance, é da autoria de um outro compositor e autor que não aqueles que a estão a cantar, neste caso uma senhora, cidadã dos estados unidos, chamada stefani germanotta, que utiliza o nome artísitico de lady gaga (as razões desta escolha deverá perguntar igualmente à própria).
penso que estão respondidas as questões relativas a pitt, broken, cover, bad, romance, lady e ga (que presumo ser abreviatura de gaga)
vamos agora a mais umas questões:
1.
pergunta-me se a canção é de natureza espiritual ou política.
presumo que sinta que existem mais opções para além dessas duas, mas deve ter querido apenas saber se esta encaixa numa destas, deixando de fora todas as outras possíveis.
eu, como materialista, diria que nenhuma canção é espiritual, mas adiante.
2.
nesta canção como em milhões de outras, se pesquisar no google (como penso que tem exclusividade de preferência pelo português, poderá fazê-lo no sapo) ou noutro motor de busca com o nome da canção e a palavra letra (bad romance letra), a mesma deve aparecer quase instantaneamente.
para a traduzir, utilize um tradutor automático disponível em muitos motores de busca, nomeadamente no google.
a questão quanto ao conteúdo da canção poderá avaliá-la por si. eu classificaria como uma canção de amor, mesmo que pouco convencional, com gente feia a amar-se (feia por fora, que por dentro não há ninguém bonito. somos todos tripas, gorduras, sangue, músculos....)
3.
quanto à natureza do que chamo o filão de braga e arredores (mão morta, peixe avião, partizan seed, la la la ressonance, at fredy’s house, mundo cão…) tem a ver com um movimento cultural musical extremamente activo e diversificado que, numa pequena área geográfica, tem um produção não existente noutras zonas mais populosas.
finalmente, a questão das qualidades vocais e instrumentais do ‘rapazito’.
1.
a qualidade de voz é uma coisa tão discutível como qualquer outra, do mesmo modo a questão da simplicidade da execução de um qualquer tema.
woody guthry (o nome é mesmo assim, em estrangeiro) dizia que alguém que soubesse dois acordes tinha a obrigação de os utilizar como uma arma; johnny cash, assumia abertamente que nos primeiros anos da sua carreira apenas sabia 3 acordes (coisa facilmente audível nas suas músicas); josé afonso escolheu o rui pato para o acompanhar nas primeiras gravações, não seguramente por ele, ao tempo ser um bom executante (foi mais porque não tinha outro disponível na altura da gravação), mas porque era o mais útil para aquela tarefa naquele momento.
a voz de bob dylan, leonard cohen, tom waits, neil young ou alfredo marceneiro, estão a léguas que cumprirem alguns dos requisitos para aquilo que se pode identificar como uma ‘boa’ voz.
uma voz numa canção tem uma utilidade e é dessa utilidade que eu me ocupo quando analiso se gosto de uma voz ou de uma interpretação.
quero cantores que me digam o que estão a cantar e que me façam sentir o que cantam.
a celine dion tem uma enorme extensão vocal e é muito afinada. que bom para ela...
no caso da canção bad romance, prefiro claramente a versão simplista e ‘feia’ dos pitt broken, à versão pirotécnica da lady gaga, porque está muito mais de acordo com o que a canção me diz.
dando alguns exemplos do que para mim é a utilidade da utilização de uma voz ou forma de cantar em diferentes estilos de música:
o pavarotti era excelente no canto lírico e absolutamente horroroso e assassino a cantar música pop; os cantores de tuva são excelentes nos cantos guturais mas execráveis a cantar versões de pop/rock; a mezzo-soprano anne sophie von otter é deslumbrante no canto lírico (especialmente no barroco, digo eu) e deslumbrante a cantar música pop, porque sabe utilizar registos diferentes para canções diferentes.
os fadistas, cheios de 'portamentos' arrastados, estariam a léguas da 'qualidade técnica', não fora o facto de o fado ficar melhor com aquele arrastar sofrido da voz entre as notas.
canções diferentes necessitam de vozes diferentes e técnicas de canto diferentes.
a ‘boa’ voz é uma coisa tão discutível como qualquer outra e uma boa voz para uma coisa não quer dizer que seja uma boa voz para outra.
os quadros de excel são bons para mentes quadradas, como o nosso ministro gaspar que acha que o mundo é assim. mas não se aplicam nem no mundo, nem na música.
o que eu questiono numa canção, e neste caso concreto, é se aquela voz ajuda a perceber e gostar daquela canção.
para mim a resposta é sim.
se gostava de ouvir o ‘rapazito’ a cantar palestrina? a resposta é não.
2.
a questão da simplicidade musical.
no geral, é mais fácil fazer complicado do que simples.
a simplicidade custa porque se torna mais visível, e não tem nada a esconder.
a complexidade ajuda a esconder fragilidades no meio do aparato.
mas música não é melhor nem pior por ser mais ou menos complexa.
é difícil existir uma música mais ‘quadrada’ do que uma valsa e no entanto o richard strauss não é um compositor menor.
na música contemporânea, os minimal repetitivos não são compositores menores por serem minimais e repetitivos, e não escolheram aquela via expressiva por não saberem compor uma melodia.
a qualidade de uma música vem da percepção que dela têm os que a ouvem.
independentemente de os outros gostarem dela ou não; tem a ver com a função e utilização; tem a ver com a utilidade, seja essa utilidade a agit-prop, a dança ou o ruído de fundo num elevador.
espero ter sido esclarecedor, já que não fui sucinto.
6 comentários:
Caro Carlos,
de tudo o que disse (mesmo em estrangeiro) ressalvo, por ero meu acordo o seguinte
"(...)para mim é a utilidade da utilização de uma voz ou forma de cantar em diferentes estilos de música: o pavarotti era excelente no canto lírico e absolutamente horroroso e assassino a cantar música pop; os cantores de tuva são excelentes nos cantos guturais mas execráveis a cantar versões de pop/rock; a mezzo-soprano anne sophie von otter é deslumbrante no canto lírico (especialmente no barroco, digo eu) e deslumbrante a cantar música pop, porque sabe utilizar registos diferentes para canções diferentes.
os fadistas, cheios de 'portamentos' arrastados, estariam a léguas da 'qualidade técnica', não fora o facto de o fado ficar melhor com aquele arrastar sofrido da voz entre as notas.
canções diferentes necessitam de vozes diferentes e técnicas de canto diferentes.
a ‘boa’ voz é uma coisa tão discutível como qualquer outra e uma boa voz para uma coisa não quer dizer que seja uma boa voz para outra.
os quadros de excel são bons para mentes quadradas, como o nosso ministro gaspar que acha que o mundo é assim. mas não se aplicam nem no mundo, nem na música.
o que eu questiono numa canção, e neste caso concreto, é se aquela voz ajuda a perceber e gostar daquela canção.
para mim a resposta é sim.
se gostava de ouvir o ‘rapazito’ a cantar palestrina? a resposta é não(...)"
Quanto ao resto gabo-lhe a paciência mas! ressalto a boa vontade, embora algumas comparações abonatórias que vai fazendo, do broken- não-sei-quê, pudessem dar discussão, fora eu sabedor e habilitado.
desculpe, caro pirata,
gaba-me a paciência porquê?
por lhe responder?
por ignorar o estilo 'provocação' e mesmo assim achar que merece resposta?
por me dar ao trabalho de responder?
não é paciência, é da educação que me deram: respondo às perguntas.
caro pirata,
preciso de muito mais paciência para coisas mais mais importantes do que responder a questões que tem todo o direito a colocar e sobre coisas que tem todo o direito a não gostar.
se fosse para não responder, bloqueava comentários.
...e fica bem essa educação que será idêntica à minha e cada vez mais ausente
mas!
a pergunta subtensa não é aquela(s) a que respondeu, como bem sabe
e
uma vez que este diálogo é público, de sentido social e pedagógico, portanto, permita quedestaque o facto-ironia de a questão residir no uso de lingurejar estrangeiro como se fosse nosso, em detrimento doloso da cultura (língua!) portuguesa.
Por amor de quem é que uns rapazitos do 'norte remoto' se haviam de apelidar 'broken'?
E por amor de quê havia você de veicular ideias en inglês (amaricano, claro...) como 'bad- não-sei-quê'?
Pois, 'tá bem... o lied e a passacaglia, não é?
Pois, 'tá bem mas trata-se de outroa tradição e de outra notação, não deixando de ter sido colonização - há todavia que distinguir as formas de colonização (e esta é uma discussão impraticável 'aqui', desculpe).
Como já solicitei, indiciei, não vale a pena argumentar por comparação (não é amostragem e falharia por isso) e se a usei logo aqui acima foi para antecipar uma forma que já vi em si antes.
Poupemo-nos, par conséquent.
(français!...)
Muito agradeço o cuidado posto nas respostas
mas
que não lhe escape a ironia - é decisiva na distinção!
caro pirata,
é com saber que existem pessoas que nos anotam a contabilizam formas.
permita-me discordar desse patriotismo nas referências culturais (nas outras também, mas não foram aqui chamadas)
os patriotismos radicais que acusam cada referência a culturas ou vocábulos estrangeirados como uma ameaça de lesa cultura pátria provocam-se uma alergia instantânea.
sabe, foram muito anos disso na minha vida.
para esse peditório já dei demasiado tempo.
os rapazitos do norte remoto têm tanto direito a chamarem-se o que lhes apetecer como os do sul moderno.
e o amor que me leva a veicular ideias em inglês é o mesmo que me leva a veicular ideias em português, castelhano, francês ou noutra língua qualquer: é o amor à cultura. seja ele de onde for, praticada por quem quer se seja.
mas esteja descansado, nem lhe faço comparações nem dissertações.
como me pede, e respeito-o, poupo-o a isso, como igualmente me pede.
pode vir aqui sempre comentar as vezes que entender, da forma que entender.
eu entenderei como 'bocas', que não necessitam, não pedem e, principalmente, não querem resposta.
assim será.
fique bem caro pirata
Curiosamente nunca o vi referenciar em espanhol ou em russo...
talvez por estar para além do 'paradigma', who knows?
Berlin ou Roma estão muito mais perto, sabe? Mas para tal seria, ser-lhe-ia, necessária a capacidade íntima de 'falar' uma língua europeia vernácula.
Eu falo cinco(*), sem contar com a da ilha, mas não sou de modas - daí o nosso diálogo de surdos e nunca conseguirei admitir o répe ou roque do nort à vista de Verdi ou de Chostakoski.
Mais, a música de compasso binário não será tão quadrada como o seu dizer da valsa mas é bem mais martelada, ruidosa, tosca... tendencialmente grosseira
(desculpe o desabafo mas puxou-me p'a língua e terá que aguentar)
Caro Carlos, durma também bem se tiver com quem.
____________
(*)'Russkîi' pas si bien en tout cas mieux que vous.
e por nunca me ter visto referenciar acha que nunca o fiz.
é o que chamo mentalidade pré-copernica.
lamento informa-lo mas o mundo não se resume ao que está à sua volta e os seus olhos alcançam.
ainda na semana passada, aqui postei uma canção com música de espanhol de valencia, com poema de um espanhol de cadiz e cantada numa versão duns argentinos da argentina.
mas se não viu, não existiu...
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