31 de agosto de 2011
Campestre mais campestre não há!
Este local a T. provavelmente já conhece: sítio do Alto, coladinho ao Alferce.
Achei delicioso o senhor a transportar as cebolas no carrinho de mão.
E tenho pena que as fotografias não tenham cheiro; talvez muitos não o achassem propriamente agradavel, mas era tão autêntico..
Numa casa portuguesa fica bem...
Nas redondezas há dois aspetos merecedores de destaque: o nome das ruas e a diversidade de épocas a marcar as construções.
A imagem prende-se com o segundo fator : uma pequena artéria das imediações apresenta diversas moradias da década de cinquenta. Algumas deixaram de respeitar a traça original, tendo sido – por motivos alheios à estética – adulteradas com janelas de caixilharia em alumínio que nem sequer simulam as antigas, de madeira, ostentando hoje a triste tonalidade do material utilizado.
A frontaria fotografada constitui exceção: uma habitação bem cuidada, a conservar o painel com rimas populares idênticas às encontradas nos pratos ornamentais de Alcobaça. Espreitando imagens da referida cerâmica, confirma-se que quase todas as quadras fazem menção à hospitalidade e modéstia nacionais ou ainda à figura primordial da mãe, quase sacralizada. Fica-se a pensar se a temática escolhida não será um bilhete de identidade (ou cartão do cidadão, para acompanharmos os tempos) a esboçar genericamente os nossos traços ou se, pelo contrário, longe vão os tempos de «quatro paredes caiadas e um cheirinho a alecrim».
Observação: não se procedeu a investigação para apurar se a grafia do vocábulo «braza» presente no painel teria sido, mais tarde, retificada por decreto ; tendo de começar por diretivas legais e profissionais a utilizar o novo acordo ortográfico a partir de amanhã e não pretendendo encabeçar uma quixotesca rebelião, tentarei aplicá-lo também aqui, independentemente do parecer pessoal sobre a matéria : dura lex, sed lex.
30 de agosto de 2011
Elegante
Outra imagem da Revista Eva (número de Natal) 1943. Representa uma elegante desse mesmo ano, 1943. Quem desenhou? E acrescento, apesar de estar identificado, não tenho a certeza absoluta de quem foi o autor.
Garçonne
A Revista Eva em 1943 propunha a quatro grandes artistas portugueses ilustrar a imagem da mulher em determinada época. Esta é a garçonne, anos 20, desenhada por....?
28 de agosto de 2011
Mar de abóboras
Já por aqui se tem dedicado algumas linhas a esta espécie vegetal.
Manjar dos deuses, uma das suas aplicações culinárias, entre tantas, é o doce que pode ser gulosamente enriquecido com nozes ou pinhões. A receita tem vindo a ser objecto de experiências intercontinentais, como a de se lhe juntar raspa de lima ganhando, deste modo, tropical sabor a evocar a caipirinha. Há quem eleja como sobremesa favorita o requeijão artesanal a acompanhar esta iguaria. Os mais ousados experimentam-na como entrada não reclamando de um paladar que fica bem em qualquer circunstância.
Por aqui, junto à serra e com o mar como enquadramento, aproxima-se a época do ano em que as abóboras enfeitam em profusão os telhados das casas térreas. De momento, estendem-se pelos campos, mesmo em locais de difícil acesso, o que nos leva a elogiar a persistência dos agricultores locais. De passeio e a aproveitar o sol que, nas proximidades, tem teimado em aparecer, fica o apontamento de um pequeno mar de abóboras, de quando em vez animado pelo voo raso de bandos de perdizes que, desconhecendo as intenções de quem passa, não se deixam apanhar na fotografia.
Pechinchas
Sou uma leitora compulsiva. Com as reduções orçamentais torna-se complicado muitas vezes satisfazer este gosto. Por isso, recorro a alfarrabistas e não tenho vergonha de pedir emprestado um livro a um amigo, porque os devolvo sempre. Mostro-vos aqui a minha compra por cinco euros ontem, no total. Um euro por cada um.
26 de agosto de 2011
25 de agosto de 2011
25 de Agosto de 1988
As vidas devastadas pelo incêndio do Chiado.
Revista Sábado, Agosto de 1988.
Para saber mais, ver aqui
Clicar na imagem para ampliar.
Revista Sábado, Agosto de 1988.
Para saber mais, ver aqui
Clicar na imagem para ampliar.
Um carocha dos diabos
(fotografia de Judah Benoliel)
Quem pertence à geração do filme Herbie e vive em Portugal, quer goste ou não das produções Disney fica a pensar que, por diversas vezes, a realidade se sobrepõe à ficção. Este automóvel, carinhosamente apelidado de carocha, encontra-se hoje modernizado. As linhas são mais leves, o preço mais elevado – coisas dos tempos – embora o modelo clássico perdure no imaginário colectivo.
Na família houve quem, ao longo de décadas, não o tivesse dispensado: sempre que um destes utilitários se encontrava estafado, era trocado por um exemplar da mesma marca e modelo, mudando-se a opção da cor como fuga à monotonia. Sólidos e resistentes, duravam uma vida. Ainda hoje encontramos alguns da época em bom estado de conservação e a circular pelas nossas estradas ostentando, com orgulho, os reluzentes cromados.
A tia S, recém-chegada de outro continente desafiou-me, na infância, para um passeio pelos arredores em companhia dos meus primos. A certa altura – longe estavam os tempos das inúmeras auto-estradas e IPs - começou a elogiar com veemência o bom estado da via em que circulávamos. Inesperadamente, fomos estancados por um pequeno jeep militar ao mesmo tempo que um foco de luz nos encandeava: nos idos 60, circulávamos inadvertidamente pela pista de aviões da base aérea mais próxima.
Mais tarde e em exílio francês (hoje tornado “lar, doce lar”), verifiquei que os meus tios, durante alguns anos, continuaram entusiastas do carocha.
Apontaria, pois, dois factores para a realidade se sobrepor à imaginação: o périplo familiar pela pista de aterragem num passado em que não havia barreiras de acesso à mesma e a frota presente na imagem que, certamente, conseguirão associar a uma tradição alfacinha ainda hoje em vigor. Não duvido de que a consigam identificar sem dificuldade.
24 de agosto de 2011
Olha o Rajá fresquinho
Exposição Colonial Portuguesa em Paris
Quem escreveu?
"Sabia já, por carta amiga, que eles estavam a chegar por via marítima, em grupo, para erguer, montar e o pavilhão português da Feira Mundial, a ser inaugurada em breve. Ausente havia cinco anos, e num estado de nervos que lhe exacerbava todos os afectos, a notícia trazia-o alvoroçado e impaciente: Se eles queriam vê-lo? E como o acolheriam se...? Por isso, naquela tarde, o telefonema, sem o surpreender, foi uma surpresa: pela coragem do alto funcionário que ousava infringir a regra do ostracismo. «Já cá estão! — disse ele. — Venha vê-los esta noite ao Martinique!» (hotel algo suspeito, mas tal fora a decisão oficial...). Correu a procurá--los logo depois de jantar. O encontro foi eufórico. Receberam-no rindo, de braços abertos, como amigos velhos. O Bernardo e a Ofélia, o Fred e a Astrid, o Zé Rocha e a Selma enfim unidos, o Carlos (sem a Dona Brites, que pena!), e além deles Anahory, celibatário. Estavam os mesmos, pareciam felizes, e o Ontem fez-se Hoje de repente. Só faltava o Arquitecto, que seguia à risca as instruções do Chefe. Este, ainda a bordo, reunira-os e falara assim: «Eu sei que vocês são todos amigos do Expatriado, e hão-de querer encontrar-se com ele. Mas, pelo amor de Deus, façam-no discretamente, onde isso não dê nas vistas! Eu admiro-o muito, mas o sorriso dele, o nariz bicudo, bastam para o tornar subversivo!» E a primeira coisa que eles faziam, queridos, era chamá-lo. Ainda mais enternecido ficou ao sabê-lo. Tomaram uns drinks, ele bebeu com sofreguidão as impressões da Pátria, depois subiram aos quartos, no décimo quinto andar. O Bernardo, ao ver da varanda corrida as ruas desertas àquela hora, empalideceu: «Que silêncio!» "
José Rodrigues Migueis, A Amargura dos Contrastes, Edição O Independente
José Rodrigues Migueis, A Amargura dos Contrastes, Edição O Independente
23 de agosto de 2011
Soube-me pela vida! A Bola de Berlim comida na praia tem um sabor que o mesmo bolo comido na melhor pastelaria de Lisboa não tem, não pode ter, porque não tem "Boliiiiinhass!!!" a anunciá-la, nem o calor a fazer suspeitar da qualidade do creme (mas que se lixe!), nem a areia a querer entrar para a boca...Posso parecer uma alma simples demais, mas até agora foi do que melhor me soube nestas férias.
Ao mesmo tempo fico um bocado nostálgica: recordo-me sempre do mesmo bolo comido na praia da minha infância, e atrás vêm outros sabores da mesma época. Nunca mais comerei favas iguais às que a avó fazia, nem o arroz doce da mãe...só de pensar no cheiro, sinto-me em festa .
Faço parte do que também não acreditam que não devemos voltar aos locais em que fomos felizes, e há tempos agarrei no cara-metade e disse-lhe que ia provar os melhores gelados de Lisboa. Levei-o então a uma casa de esquina, na Rua Actor Vale, frente à escola primária onde andei, e que era de um casal na altura já idoso. Vendiam gelados feitos por eles, e Bolas de Berlim sempre quentinhas, que iam fazendo ao longo do dia. Quando ia buscar-me, no fim das aulas, a minha avó comprava-me muitas vezes um gelado ou um bolo, e parece que ainda estou a ver os rostos sorridentes do casal, tão simpático...
Foi pura desilusão, os gelados tinham-se tornado numa coisa intragável.
Fica a recordação boa daquele casal de sorriso tão doce quanto o que vendiam.
No fim, um aviso: as Bolas de Berlim da praia de Ferragudo recomendam-se, e bem!
Ao mesmo tempo fico um bocado nostálgica: recordo-me sempre do mesmo bolo comido na praia da minha infância, e atrás vêm outros sabores da mesma época. Nunca mais comerei favas iguais às que a avó fazia, nem o arroz doce da mãe...só de pensar no cheiro, sinto-me em festa .
Faço parte do que também não acreditam que não devemos voltar aos locais em que fomos felizes, e há tempos agarrei no cara-metade e disse-lhe que ia provar os melhores gelados de Lisboa. Levei-o então a uma casa de esquina, na Rua Actor Vale, frente à escola primária onde andei, e que era de um casal na altura já idoso. Vendiam gelados feitos por eles, e Bolas de Berlim sempre quentinhas, que iam fazendo ao longo do dia. Quando ia buscar-me, no fim das aulas, a minha avó comprava-me muitas vezes um gelado ou um bolo, e parece que ainda estou a ver os rostos sorridentes do casal, tão simpático...
Foi pura desilusão, os gelados tinham-se tornado numa coisa intragável.
Fica a recordação boa daquele casal de sorriso tão doce quanto o que vendiam.
No fim, um aviso: as Bolas de Berlim da praia de Ferragudo recomendam-se, e bem!
Crepúsculo em Alfama
(fotografia: crepúsculo em Alfama; autor: Stoessel Henriques Alves)
Paira pelas vielas o odor acre a tinto da pipa, enquanto o sol crepuscular polvilha a calçada de uma luminosidade impossível de transpor para qualquer película.
Passando a porta da mercearia de bairro, fica na memória olfactiva um perfume a pêssegos rosa. Da janelinha de rés-do-chão de caixilhos remendados ouve-se através da voz roufenha de um transistor, um fado a contar histórias de vinganças e amores infelizes.
Vislumbra-se através do engordurado vidro da tasca, negras frigideiras de ferro pendentes do tecto. O proprietário, a fazer tempo para os costumeiros do jantar, assenta os cotovelos na mesa cambada espicaçando, distraído, escombros de uns ovos com chouriço.
Aproxima-se um rapazito de calções remendados a apregoar os vespertinos do dia. Ninguém parece prestar-lhe atenção. Abancadas na soleira carcomida, duas mulheres sem idade conversam numa atenção falsamente alheada do espaço envolvente como se tentassem, em desespero de vésperas apocalípticas, enterrar vivos e desenterrar finados.
O enorme gato malhado espreguiça-se na varandinha de sardinheiras sequiosas, olhando atentamente a chegada de uma qualquer andorinha vinda das bandas do Tejo. Todos estão de tal modo cientes de si que a observadora poderia ter presenciado o quadro num qualquer museu de uma cidade irreal virada ao rio.
22 de agosto de 2011
20 de agosto de 2011
As cidades também têm um coração
(imagem: Uma tarde no Rossio, Dr. Marjay)
Viajando através de imagens de diversas épocas a representar esta praça no coração da cidade, interrogo-me se serão os locais a assistir à passagem do tempo ou se este último, impávido e sereno, se limita a assistir a variadas transformações.
E como a mudança também abrange as ligações sociais entre os diversos actores acabo por escolher, entre várias possibilidades, um registo dos anos 60. Recorrendo à memória que, até hoje, tem sido amiga inseparável, viajo no tempo até à recuada infância através desta fotografia a preto e branco. Recordo a visita à pastelaria Suiça (então «Suissa») segura e confiante, apoiada na mão materna. No local, reparo que os empregados se dirigem a minha mãe num código estranho para os ouvidos de uma miúda de cinco anos. Percebo algo como «vossa excelência», expressão insólita que, mal deixo o local, não descanso enquanto não é totalmente clarificada.
Western
Índios e cowboys, um cromo muito desbotado encontrado dentro dum livro dos anos 30 do século passado.
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