4 de outubro de 2010

Redacção: «A crise»

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Todos os dias oiço em casa e na rua a palavra crise seja lá isso o que for e depois de descobrir redacções de uma menina famosa lembrei-me eu também de escrever um texto escolar porque agora a minha professora gosta de guardar os nossos trabalhos numa capa grande com um nome engraçado de portefólio . Disse-me a minha vizinha Marília a estudar coisas difíceis em Letras que essa palavra vem de uns estrangeiros que falam uma língua morta e se pespegaram por cá há bué de tempo ainda nem tinha nascido o tal Afonso na maternidade de Guimarães nem havia nação, nem república, nem nada e esses romanos também apareciam numa banda desenhada muito antiga e levavam tareia de um gorducho excêntrico de tranças loiras e roupa cómica. Mas já estou a fugir à tal de crise que na escola a professora Emília disse ter acontecido em 1383 e que um senhor jornalista de nome engraçado, o Fernão que ainda deve ser família do senhor Lopes da pastelaria onde vendem umas bolas de Berlim com muito creme e ovos Kinder surpresa se lembrou de publicar num diário ou semanário que já não sei como se chama. Esse Lopes de antigamente escreveu sobre uns inimigos que chegaram e se prantaram à volta da capital, não com «K» porque nessa só há guerras à sexta à noite disse-me o meu irmão mais velho que gosta de sair para o escuro nesse dia da semana e ainda não percebi bem porquê.
O tal Fernão escrevia e ainda nem havia o tal portefólio e nessa altura o inimigo fez uma roda à volta da cidade e nem sei bem porquê todos dentro da tal roda não podiam comer bifes com batatas fritas e ovo a cavalo e tinham de almoçar ervas que nasciam na rua porque os serviços camarários ainda não tinham o hábito de usar pesticidas para limparem os passeios e agora fico a pensar se a crise também é porque se puseram à nossa volta para que fizéssemos um regime alimentar diferente, deve ser por isso que só se ouve dizer «crise, crise!» na tv e na rádio. Ouvi dizer durante o jantar que este ano o Pai Natal também não vai chegar com as prendas do costume ou então tem nome de filósofo grego porque o meu pai disse que quem nos tinha dado prendas este ano era um senhor que não é filósofo mas tem nome igual a outro que envenenaram com uma erva parecida com a salsa. Se calhar o Pai Natal não pode vir porque a rena Rudolfo está em lista de espera no hospital para uma operação às cataratas e os medicamentos estão caros e em código de barras ou lá o que é e o D. Sebastião não chega porque vejo todas as manhãs nevoeiro junto à serra e não vejo ninguém de armadura e lança a galopar por montes e vales, mas isso também não é importante porque este ano o feno não foi muito, não vejo os fardos no campo e se calhar é isso mesmo que é a crise e é por isso que não aparece o rei.

4 comentários:

Felicidade disse...

Hilariante! Conseguiste entrar na pele de uma criança do 1º ciclo, julgo eu?Talvez 10 aninhos... muito humor e um retrato fiel do nosso estado actual de crise.Como disse o meu empreiteiro, e eles são entendidos no assunto:" isto está para durar aí mais uns 8 a 10 anos."Espero que ele, desta vez, esteja errado!

teresa disse...

Amiga, que o tal empreiteiro não esteja certo... pelo menos a tal crise de que nos deixa registo escrito Fernão Lopes durou "apenas" 2 anitos...:)

Luísa disse...

Muito bom, mesmo!!

teresa disse...

... é porque defendo que brincar com as palavras, com as ideias, não significa tornar 'light' a conjuntura, Luísa, pelo contrário...