antes de eu ir para a escola primaria, na rua das trinas, passava os dias inteiros com a minha avo. mas no ano antes de entrar para a escola primária, os meus pais resolveram pôr-me na infantil, no último ano da infantil, para eu me ir habituando. tenho poucas recordações de como se terá passado o meu primeiro dia de escola. estou certa que, em casa, no dia anterior a esse grande dia, devem-me ter dado só boas razões para eu ficar contente e ir para a escola de coração leve. o que eu gostava era de passear com a minha avo, conversar com ela, ouvir a rádio com ela, ver a avo tina fazer os croquetes de manhã, andar de triciclo no corredor de casa… porque razão me queriam pôr agora na escola?
de manhã, a minha mãe levava-me de carro até à casa da minha avo, na altura em que não havia obrigatoriedade do cinto de segurança. lembro-me que vinha deitada no banco de trás, nos dias mais sonhadores, ou de joelhos entre os dois bancos, nos dias observadores. na manhã do primeiro dia de escola vinha deitada no banco de trás a ouvir a minha mãe falar-me das vantagens de andar na escola. penso que era um dia de chuva e penso que era outubro porque, embora eu não soubesse o que queria dizer o 5 de outubro, sabia que dali a poucos dias era dia de não-escola. nessa manhã lá foi a minha avo levar-me, desta vez no sentido oposto ao da escola na rua das trinas. fomos por ali abaixo. eu, de impermeável de plástico e de galochas (antes de aparecerem as colibri) estava em dia de poucas conversas. como toda a gente, a minha avo falava-me das vantagens de andar na escola e lembro-me que me contava também que a escola ficava muito perto da casa do herman josé.
tenho memória do recreio, da sala de aula do corredor que tinha uma lojinha fechada e que às sextas-feiras se abria de forma magica e ali vendiam gomas e chocolates… nunca me tinham dito que uma escola podia vender gomas e chocolates… e lembro-me que nesta escola também aprendíamos inglês. não sei como se passou o primeiro dia, mas talvez não tivesse o coração tão pesado porque sabia que, dali a poucas horas, a minha avo vinha buscar-me para almoçar. o que me marcou desta escola foi, sem duvida, a loja das guloseimas que abria as portas, ou se desmontava ou se transformava em loja magica às sextas-feiras e que podíamos pedir aos nossos pais para nos darem umas moedas para comprarmos uma guloseima. na verdade, penso que esta foi a principal vantagem que vi em ir para a escola "antes do tempo". e na sexta-feira seguinte a minha avo pôs-me na “algibeira” umas quantas moedas pretas grandes, penso que fosse de cinquenta centavos para eu poder comprar umas guloseimas...
... e à saída da escola voltei a ter coisas para contar e a minha avó suspirou de alívio...
imagem daqui
1 comentário:
Mais um ‘doce de história vivida’, contada e passada com a J., a sua avó e a escola.
J., de facto uma escola não deve vender guloseimas. A escola deve vender sonhos, e neste caso até era numa loja mágica, que curiosamente abria às sextas-feiras! :)
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