11 de maio de 2010

«Pensar é estar doente dos olhos»...

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(imagem: cronicasdeumvagamundo, peça de artesanato angolano)

Há perguntas que ficam a ecoar naquilo a que se chama neurónios ou lá o que é e para as quais não se encontra resposta, mas isso acontece quando se tem a mania de pensar que, como escreveu o poeta, «é estar doente dos olhos»… mas que hábito cansativo! Não dará uma serenidade zen não pensar, viver a voragem dos dias a contar quantos faltam para o fim-de-semana, para as férias de Verão (com ou sem subsídio), para a reforma e enquanto nos projectamos em prazos sempre nos entretemos, já que nunca houve vocação pessoal para rendas e bordados...
Recuando a 1910, convicções à parte e com todo o respeito que as mesmas merecem (começando com as da própria para com a própria, religiosas incluídas), lá vem a lembrança reavivada pelos ‘buques’ (como dizia o progenitor: ‘agarrem-se aos buques, não quero cá raposas! Se me apareces cá de casaco de peles, vais trabalhar para a loja de um amigo meu… e garanto que não era por motivos ambientalistas!) de ter havido na I República a preocupação de demonstrar que o Estado era verdadeiramente laico, passando as escolas públicas a não ostentar símbolos religiosos, ficando de rajada um primeiro apontamento de paradoxo , cem anos decorridos.
Como segundo apontamento, este de índole mais restrita, ao olhar as notícias, verifiquei que uma escola centenária está prestes a fechar em nome do «progresso ferroviário» seja isso o que for… é que há menos de um ano apercebi-me de que havia uma equipa de estudiosos a investigar as causas de o referido estabelecimento apresentar excelentes resultados , sendo conhecido – como agora se tornou designação - por «escola de boas práticas», com direito a um olhar de especialistas a fim de se poder alargar o exemplo a locais onde começa a delinquência a grassar… isto para não mencionar as verbas dispendidas lá no sítio em nome do «choque tecnológico»… ele foi quadros interactivos, ele foi computadores, ele foi pontos de acesso sem fios, ele foi … enfim, um ror de modernices!
Pensando que há cerca de um ano gastei 20 euritos numa passagem Madrid – Lisboa numa destas companhias aéreas de ‘low cost’, exemplo extensivo a amigos e familiares que fazem a mesma viagem no mínimo mensalmente, penso que será melhor deixar-me destas manias de me dar ao trabalho de questionar, ainda para mais quando há tantas tarefas domésticas à minha espera, devendo focalizar-me na contagem para o fim de semana, para as férias de Verão e ainda... para a reforma (quanto a esta última, ‘I’m a believer’)…

4 comentários:

José Quintela Soares disse...

Agostinho da Silva dizia que pensar era como fazer limpeza a uma casa, para que nos possamos sentir bem dentro dela.
Mas que o pó volta, a limpeza repete-se, tal como o acto de pensar, que vai modificando os temas.

teresa disse...

A arte de dizer o essencial com simplicidade (ou a simplicidade personificada, algo 'quase' invejável para os não invejosos...). Agostinho da Silva terá conseguido levar a bem 'a sua passagem', nunca se arvorando em mestre (daí ter sido um mestre com maiúscula) . Bela lembrança, José Quintela Soares.
Tem sido lembrado por alguns de nós... a mim deu-me particular gosto ter deixado este simples 'post' sobre o filósofo, os gatos e a BD de Calvin que tanto apreciava:
http://diasquevoam.blogspot.com/2009/02/criancas-gatos-e-calvinlembrando.html

Fernando Manuel de Almeida Pereira disse...

Teresa
Durante tempos o dogma sobre o pensador tchokwe, impedia que alguns de nós nos aventurassemos a por em dúvida a "angolanidade" do simbolo da cultura angolana. Acho que hoje já nos vão deixando ter as duvidas que já tinhamos nesse tempo...Mas disso sei pouco, e prefiro dizer que acho que não há tanta angolanidade no "pensador" como nos quiseram fazer crer.
Fernando (cidadão angolano de papel passado desde sempre)

teresa disse...

Boa reflexão, Fernando.

Independentemente das ideias que se lhe possa associar, um bonito símbolo que não hesitei colocar por aqui (havendo outros 'pensadores' mais conhecidos universalmente), essencialmente por padrões estéticos... e lembro-me frequentemente desta representação por figurar em capas da revista Lavra e Oficina, religiosamente guardadas.