19 de dezembro de 2009
Alexandre O'Neill nasceu há 85 anos
(foto: blogs sapo)
Tenho a grata memória de me ter cruzado, pelas ruas da cidade, com alguns destes nomes da literatura portuguesa do século passado: lembro Abelaira e Gomes Ferreira, tantas vezes encontrados nos transportes públicos, com as suas lindas cabeleiras brancas, José Cardoso Pires a jantar no Solar dos Presuntos e Alexandre O'Neill, voz tão lúcida da nossa poesia, no extinto Monte Carlo, hoje transformado numa loja indistinta, dessas espalhadas pelo mundo fora. Aqui fica uma pequena homenagem ao poeta que, a permanecer vivo (a sua imortalidade ficará nos versos que nos deixa), completaria hoje 85 anos de idade:
E de novo, Lisboa, te remancho,
numa deriva de quem tudo olha
de viés: esvaído, o boi no gancho,
ou o outro vermelho que te molha.
Sangue na serradura ou na calçada,
que mais faz se é de homem ou de boi?
O sangue é sempre uma papoila errada,
cerceado do coração que foi.
Groselha, na esplanada, bebe a velha,
e um cartaz, da parede, nos convida
a dar o sangue. Franzo a sobrancelha:
dizem que o sangue é vida; mas que vida?
Que fazemos, Lisboa, os dois, aqui,
na terra onde nasceste e eu nasci?
Alexandre O'Neill
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2 comentários:
A patriazinha iletrada continua a não saber nada dele. No entanto é das personalidades mais interessantes da nossa literatura.
Deixou uma dos mais belos poemas de amor “Um Adeus Português”, outros belíssimos poemas e meia dúzia de frases publicitárias que fazem história: “Gascidla na cozinha é um descanso”, “Com colchões Lusospuma você dá duas que parecem uma”, ou noutra versão “Com Lisospuma dá-se cada uma.”.
Dormia no cinema. Perguntavam-lhe pelo filme: “uma merda!”. Mas dormiste o filme inteiro como podes dizer isso?. “Se não fosse não tinha dormido”. Na terra dos três efes (fado, futebol, Fátima), a irmã dizia que ele era o homem dos três cês: “Cama, copos e conversa”.
Votava PS e inventou um slogan que exprimia o que pensava do partido.: “Ele não merece mas vota PS”. Definiu a vida como “raros bons momentos intercalados duma grande chatice, disse, também, que a solidão era boa quando procurada, chata se involuntária.
“Quando se está com panne cardíaca o universo mingua e um sujeito “desliga”.
Morreu cedo mas com uma vida plenamente vivida.
Foi para o que lhe deu, quando neste domingo de chuva, sem desenho de gaivota no céu de Lisboa, viu a efeméride colocada pela Teresa.
Os elementos rebuscou-os numa interessante biografia literária publicada em livro pela D. Quixote e da autoria de Maria Antónia Oliveira.
Está lá quase tudo, Depois é só ler a obra...
Grata pela referência bibliográrica, Gin.
A expressão que sempre me ocorre para caracterizar O'Neill é: «sarcasmo lúcido».
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