Couves e abóboras : século XIX

DOROTHY WORDSWORTH (1804-1847) é a segunda filha do grande poeta romântico William Wordsworth, normalmente conhecida por Dora:
Em 1841 casou com Edward Quillian, um dos tradutores de Os Lusíadas. Devido à fraca saúde de Mrs. Quillian, o marido, que tinha nascido no Porto, trouxe-a para Portugal, onde Dora Wordsworth veio a falecer em 1847.
Mrs. Quillian escreveu Journal of a few months residence in Portugal and glimpses of the South of Spain. Esta obra só foi publicada em 1895.
Segue um pequeno excerto da autora:

Alimentação
… A menos que tenham a quantidade certa de carne de vaca cozida (mas não desfeita como a Gouilli francesa), não ficam satisfeitos. No entanto, estes mesmos homens ao voltarem para casa, jantam com satisfação um pedaço de peixe salgado, seco e duro como sola . Nos dias de jejum alimentam-se apenas com sopa de legumes; a abóbora e a abóbora-menina fazem uma óptima «soupe maigre» para os mais pobres.
Vêem-se acres de terra cobertos com estas plantas. No Outono e no fim do Inverno parei muitas vezes para admirar os tons de verde e dourado deste magnífico fruto-legume, que estava alinhado à volta dos muros baixos das eiras ou nos telhados das casas.
Para os Portugueses as couves são um alimento tão importante como para os Escoceses e Alemães. Todos os casebres têm o seu jardim de couves – mas que couves! Vi-as vezes sem conta, altas e imponentes, com pelo menos 10 pés de altura. As batatas, segundo compreendi, são pouco usadas pelos Portugueses pobres.
Os ordenados dos pobres são, na verdade, pequenos, mas felizmente as suas necessidades também são pequenas e tanto quanto pude ver, não há aqui pobreza total de morrer à fome, como em Inglaterra.

Maria Laura Bettencourt Pires, Portugal Visto Pelos Ingleses