6 de junho de 2009

TEXTO EM BUSCA DE IMAGEM OU VICE-VERSA

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“Terei de dizer uma vez mais, hei-de dizê-lo sempre, que nenhum partido de Esquerda percebeu (ou terá querido perceber), para além dos discursos, dos comícios, das entrevistas à Imprensa, não me interessa isso agora, que uma nação secularmente mergulhada na mais completa ignorância das suas próprias carências (que não são só pão e casa, e mesmo para ter o pão, para ter casa) exigia, antes de tudo, sabem o quê? Ensino, no sentido mais vasto e profundo da palavra. Tão vasto e tão profundo que a tarefa imensa de pôr milhões a saber ler e escrever (mas que é ler?, mas que é escrever?) mais não seria que um ponto de partida. Em todas as idades. Em todos os recantos desta terra de milagres, crenças e crendices, de faz como vires fazer. Ensino para que se aprenda a ver com os próprios olhos, a intervir com as próprias mãos, a entender também que nunca é por acaso que se volta a falar, com redobrada insistência, nas suas glórias passadas – no largo Oceano ou nos palcos de revista -, como manda a receita dos bons tempos. Que os funâmbulos estão aí. À espera. Às ordens. Não é outra a sua profissão.”

Mário Dionísio em “Autobiografia”

3 comentários:

teresa disse...

E curiosamente fomos dos primeiros da Europa (penso que já aqui o referi) a erradicar o analfabetismo por decreto-lei, aliás, em leis somos mesmo "muito à frente", mas isso é no papel pois, como canta o SG: "é só assinar despachos e decretos/ para dar a ler a nós, analfabetos":(

carlos disse...

este ano a minha filha comprou o 'meu' e dos meus irmãos, livro da 4ª classe.

é agoniantemente fascista...
a minha filha percebeu muito melhor ccomo se formatavam as cabeças em portugal.

o livro é simplesmente nojento

gin-tonic disse...

Há um trabalho notável, publicado, em 1975, numa colecção da "Seara Nova" pela Maria Velho da Costa, "Ensino Primário e Ideologia", onde são analisados os conteúdos dos manuais de leitura do Ensino Primário Está lá tudo: Deus, Pátria, Autoridade.
Foram quarenta e oito. Se tanto demorou aquela ditadura de pacotilha, à mentalidade expressa nestes livros se deve. Foram pouco os que conseguiram saltar para a outra margem.

"- Mãezinha, quem fez as árvores?
Quem pintou o azul dos céus?
Quem fez as serras e os montes?
Quem fez os rios e as fontes?
-Meu amorzinho, foi Deus."
Livro da Primeira Classe

"O sol não tardou a erguer-se também para tornar mais lindo aquele dia 28 de Maio -dia de festa da Mocidade Portuguesa.
Toca a sentido. Logo a seguir ouve-se o toque de continência. Os rapazes, direitos e firmes como estátuas, estendem o braço.
Está a ser içada a bandeira nacional."
Livro da Segunda Classe
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