Amodorrada, estranhei a voz aguda que me respondeu à indicação de destino. Era uma mulher taxista. Espreitei melhor e percebi o meu engano: masculinizada, energética e muito semelhante ao estereotipo de taxista homem. Mas deixei-a falar.
" Estou na praça há uns onze anos. Se isto é difícil para homens, imagine para uma mulher. Nunca trabalho de noite claro. Mesmo de dia defendo-me. Pergunto sempre o destino e o local de referência. Por exemplo, nunca deixo os clientes serem vagos quando o dizem. É a paragem de táxis da Buraca, não é uma ruela escondida no bairro de barracas. Por exemplo se a senhora entrasse e me dissesse Monsanto eu não ia, por acaso consigo até ia que não tenho medo da senhora, mas está a ver como faço as coisas. Outro dia não levei uns miúdos ciganos ao Bairro da Boavista. Eles perguntaram-me porquê e eu sem pensar, disse que não gostava desse bairro. Está visto, o meu colega que os levou disse-me: Fizeste bem, fugiram sem pagar. Percebe a senhora?
E além do risco o cansaço. Chego extenuada e depois tenho que fazer todo o trabalho em casa. Porque nós nem em casa descansamos."
Registei e anotei. Raramente apanho mulheres ao volante dum táxi. Mas esta é a mulher taxista do destino. Sem sombra de dúvida.
4 comentários:
Querida T, ser mulher taxista parece ser muito duro. Houve um tempo, quando gostava de conduzir, em que pensava que podia ser divertido (proporcionando um bom conhecimento da vida). Mas com o trânsito de hoje e os riscos de segurança, já mudei de opinião. Acho curiosos os truques (ou critérios de selecção de clientela) que ela usa. É um saber de experiência feito.
Sim. Doze anos de experiência:) Eu gosto sempre de ouvir estas histórias de vida.
Cá para mim, os inspectores do GMail já te conhecem os hábitos! :)
Hoje vou de autocarro! Vamos a ver se sou espiada:)
Enviar um comentário