Morreu Rosa Parks. Com mais de 90 anos morreu, na passada semana, a mulher que ousou, em nome da sua dignidade, recusar ceder o lugar a um homem apenas porque era branco (21 de Dezembro de 1956, Montgomery. Estados Unidos da América).
A atitude desta mulher despoletou um largo movimento de defesa dos direitos cívicos dos negros americanos. Não vou contar a história, por sobejamente conhecida.
O que me interessa é, a propósito da sua atitude, questionar as razões pelas quais os seres humanos têm comportamentos tão diferentes perante os mesmos valores. O que é interessante é tentar saber porque razão há quem arrisque a sua vida em nome de valores como a dignidade quando a maioria não ousa arriscar o almoço ou o emprego em nome de coisa nenhuma.
Oiço os diálogos dos dias de hoje há minha volta e tento colá-los no interior daquele autocarro cheio de gente. Vejo um homem branco entrar no autocarro e exigir a uma jovem negra que se levante para lhe ceder o lugar. Provavelmente a maioria negra presente no autocarro pensou que a jovem se levantaria. Para não arranjar problemas, para que os familiares não fossem perseguidos, para que o KKK não lhe incendiasse a casa, para não ser agredida. Em última análise, para não morrer prematuramente.
Oiço as vozes comuns de hoje (de sempre), que perante injustiças, iniquidades, exploração desenfreada, não se erguem para dizer basta. Mesmo com a lei do seu lado, basta que exista uma pequena benesse a perder para que usem a sua inteligência emocional, contem até três e… já passou. Segue-se o discurso auto justificativo: que ganhava eu com outra atitude? Não mudaria nada se me erguesse e quem seria prejudicado era eu. Legitimada moralmente por esta lógica a vidinha continua.
Afinal, porque razão sendo todos humanos apenas alguns, poucos, assumem a sua humanidade de frente? Porque será que alguns são capazes de arriscar a vida e outros nem o almoço arriscam?
Oiço novamente as vozes do quotidiano: que ganhava eu com isso? Respeito?! E a prestação do carro paga-se com isso? Que ganhou Rosa Parks com a sua atitude? Pessoalmente, nada. Mas hoje, apesar de tudo, mesmo no sul dos Estados Unidos já ninguém ousa mandar sair do seu lugar outra pessoa porque tem uma cor de pele diferente. A diferença entre Rosa e a maioria das pessoas que comigo se cruzam nas ruas é a diferença entre o Género Humano e o Manuel Germano. Só a fonética é parecida.
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