29 de abril de 2005
O meu querido sobrinho Miguel e os Bypass
Os portugueses Bypass têm já uns quantos anos de existência, tendo efectuado vários concertos por todo o país, mas só agora se estreiam em matéria de edições discográficas com o EP intitulado simplesmente "Bypass".
Há alguns anos atrás, o termo pós-rock começou a generalizar-se e a servir de muleta para jornalistas preguiçosos catalogarem formações ou artistas que partiam do rock para se aventurarem pelos terrenos da electrónica, dub, jazz, ambientalismo, minimalismo entre outros géneros, juntando partículas daqui e dali, visando obter uma linguagem musical mais rica e abrangente. Em rigor, pós-rock é uma expressão vazia de sentido ou seja, não quer dizer absolutamente nada, é apenas mais uma maneira de a imprensa musical colocar no mesmo saco (em alguns casos despropositadamente) um determinado tipo de colectivos, gerando assim um novo fenómeno, o que sempre ajuda a vender papel e as lojas de discos agradecem, pois os rótulos dão sempre jeito para vender discos. No fundo, o que é que grupos como os Mogwai, Tortoise, Godspeed You Black Emperor ou Salaryman têm em comum para alem do facto da maior parte destes músicos terem uma formação rock que não conseguem disfarçar? Acima de tudo, a estes músicos interessa a música pela música e preservam o ideal de desenvolverem a sua liberdade criativa na abordagem ao espectro sonoro, indiferentes a catalogações.
Desde cedo os Bypass começaram a chamar as atenções de algum público mais atento às movimentações do underground nacional e claro, perante a estranheza da música da banda, rapidamente foram "empurrados" para o caldeirão do pós-rock. E se é verdade que daí não vem nenhum mal ao mundo, também é verdade que é redutor analisar a complexidade e o fascínio desta música sobre essa perspectiva. Rótulos à parte, os Bypass confirmam com este registo que são um dos grupos mais interessantes do actual panorama musical português. Os cinco temas que aparecem neste EP são uma boa introdução ao universo peculiar dos Bypass: estruturas intrincadas que evoluem sempre de forma dinâmica, onde explosões de electricidade alternam com momentos mais contemplativos e "espaciais". A banda revela imaginação nos arranjos (utilizando instrumentos como a harmónica, melódica ou percussão diversa que adornam eficazmente o esqueleto das composições, apesar do habitual protagonismo das guitarras) e uma inteligente utilização do estúdio como ferramenta essencial para um apurado sentido estético. Cada um dos quatro elementos toca vários instrumentos, revelando uma certa versatilidade e gosto pela experimentação. A voz de Miguel Menezes intensifica o ambiente tenso e melancólico, repleto de crescendos emocionais, desta música aventureira que evita os clichés do rock, suga-lhe a energia e parte para o desconhecido."
Nuno M. Castêdo
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário