O cinzento estava farto de ser cinzento. Na realidade, o cinzento não se importava de ser outra cor qualquer. Preferia até ser branco ou mesmo preto. Mas por mais que tentasse, não conseguia deixar de ser cinzento. Uma cor aborrecida e inexpressiva.
(O combóio não parou naquela estação. Ela não sabe porquê! Era suposto... estava previsto. Mas simplesmente não parou. E ele não veio...)
A cor das coisas é importante, pensa o cinzento, que se esforçou por pensar em coisas grandiosas que fossem cinzentas. Mas nada lhe ocorria. Do seu ponto de vista, não conseguia pensar em algo de que ele se pudesse orgulhar por ser cinzento. Edifícios ou monumentos ou máquinas. Não. Isso não lhe interessava.
Até que o cinzento se apercebeu onde estava hoje. No coração dela... na sua alma. Toda ela era cinzenta... se sentia cinzenta. E aí o cinzento percebeu que fazia parte de algo grandioso. Percebeu o seu lugar no mundo. No mundo da emoção. E compreendeu que milhões de pessoas o partilhavam naquele momento. Percebeu que o mundo estava cada vez mais com ele. Que o adoptava, sem saber. E, comovido, agradeceu ao combóio, que não parou... e que também era cinzento...
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