Vou começar pela parte que me interessa menos. O PCP mantém-se. O Bloco de Esquerda sobe um bocadinho. No seu conjunto, os comunistas ocupam quase o mesmo espaço que ocupavam.
O PS terá mais votos do que aqueles que obteve nas últimas legislativas. Mas não terá maioria absoluta. Ficar-se-á pelos 42%.
O PSD terá menos votos mas não tão poucos quanto algumas sondagens prevêm. Terá talvez 35%. O CDS/PP subirá. O CDS/PP atingirá o seu objectivo: 10%.
Fica assim criado este cenário caricato: o PS será o partido mais votado, mas uma coligação PSD-CDS terá mais votos. Esta coligação terá aproximadamente o mesmo número de deputados do que o PS: ou um deputado a menos, ou um deputado a mais, ou exactamente o mesmo número. E, pior, mesmo com mais um deputado que o PS, a coligação PSD-CDS não terá maioria absoluta, como é o caso presentemente.
Resulta daqui o maior imbróglio com que Jorge Sampaio poderia ser confrontado. São várias as facetas do problema, sendo que as duas primeiras são mais ou menos triviais e as duas últimas são verdadeiramente o grande imbróglio:
a) Ter de decidir entre PS ou PSD-CDS quando a diferença em termos de número de votos e de número de deputados é mínima.
b) Ter de nomear um Primeiro Ministro que não disporá de uma maioria absoluta no Parlamento.
c) Ter de eventualmente renomear Pedro Santana Lopes, o que será uma grande derrota para si, ou nomear Sócrates mesmo que este tenha menor apoio parlamentar do que PSL, o que constituirá uma decisão ainda mais discutível do que a da dissolução do Parlamento sem demissão do Governo, pois esta foi levada a cabo em nome da estabilidade.
d) Querer forçar o PS a fazer um acordo com o BE ou o PCP.
Vamos analisar esta último problema (d). O Padreca Louçã disse já que não fará acordo com o PS. Se o fizer para viabilizar a nomeação de Sócrates, Louçã terá de voltar atrás com a sua palavra. Prevejo que o Padreca volte atrás. Se não o fizer, Sampaio impele o PS para um acordo “histórico” com o PCP: pela primeira vez uma coligação PS-PCP poderá acontecer, o PCP aceitará e regozijar-se-á.
Voltando ao problema c), a renomeação de PSL parece-me menos improvável do que a nomeação de Sócrates no caso do PS ter menos mandatos parlamentares do que a coligação de direita e for incapaz de se coligar com outro partido. Se isto acontecer, Sampaio virá com o seguinte discurso: a demissão do Governo foi útil pois serviu para os portugueses terem a oportunidade de mudar de Governo caso o pretendessem. Não pretenderam, é então constitucionalmente normalíssimo renomear o PM demitido. Se PSL for renomeado, será a destruição política absoluta de Sampaio. E será a primeira vez que um PM terá ascendente sobre um PR. Mas por outro lado, se Sampaio nomear Sócrates tendo este menor apoio parlamentar do que PSL (suportado este pela coligação PSD-CDS), então isso será certamente a decisão mais polémica de Sampaio, que o colocará ao nível de um General Eanes. Em qualquer dos casos, Sampaio será derrotado e terá de suportar uma ira de PSL ainda maior do que aquela que este actualmente já sente.
Sintetizando toda esta análise, a coligação de direita poderá vir a estar de volta: Sampaio trouxe instabilidade desnecessária; o PS poderá chegar ao Governo com menor apoio parlamentar do que a actual coligação de direita: Sampaio trouxe instabilidade desnecessária; o PCP poderá chegar ao Governo: Sampaio trouxe a loucura que não só é absolutamente desnecessária como impensável no mundo civilizado.
Se Sampaio acreditar em Deus e souber rezar, pedirá muito, muito para que o PS tenha uma maioria absoluta. Mas não por causa do PS...
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