inicia-se hoje um ciclo de debates na universidade de lisboa para discutir, entre outras coisa, a articulação entre a universidade e as profissões.
a propósito disso, o público escrevia sobre um estudo que se anda a realizar sobre a reformulação do ensino da medicina dentária em portugal.
um dos problemas que o nosso ensino superior tem é a falta de rapidez de decisão quanto à resposta a dar às necessidades do mercado de trabalho.
não estou a falar da investigação científica.
estou a falar da pura e simples criação de cursos e respectivo acabar de alguns por não necessários.
existe uma necessidade no mercado. e o tempo que a universidade demora a responder a isso, é o tempo que demora, muitas vezes, a essa necessidade já ter acabado.
outras vezes acontecem casos estranhos.
como estranho é o caso da medicina dentária.
(corrijam-me aqui os clinicos de serviço quanto a algumas imprecisões teóricas e/ou técnicas)
até ao final dos anos 70 não existia um curso de medicina dentária em portugal.
existia a especialização em estomatologia e o aproveitamento de alguns especialistas de maxilo-facial para a dentestria.
havia uma manifesta falta de clínicos.
esperava-se meses para uma consulta. os médicos desta especialidade eram uma espécie de pequenos budas.
em resultado disso foram aparecendo umas centenas de técnicos laboratoriais de prótese (ao tempo chamados mecânicos) que iam exercendo essa actividade e foram legalizados por essa altura como odontologistas.
foi decidido em simultâneo com essa legalização, criar duas faculdades de medicina dentária: lisboa e porto.
até aqui tudo bem. seria o normal e legítimo.
o problema aperece depois.
como sempre.
como lisboa e porto tinham faculdade, coimbra não podia ficar atrás.
se existiam faculdades públicas com numero clausulus apertado. tinha que haver privadas.
e, em pouco tempo, o que era uma saída profissional de pouco mais de uma centena de clínicos por ano, passou para muitas centenas com a ebertura dos institutos de lisboa e porto a somar às 3 faculdades existentes e com a de lisboa a triplicar a sua capacidade.
resultado:
em pouco tempo o que era um problema por falta de clínicos passou a ser um problema com clínicos a mais porque estes só podem exercer esta profissão e mais nenhuma na área da saúde.
de como os lobbies e a falta de planeamento a longo prazo transformam um problema noutro problema.
o exemplo da medicina dentária podia ser usado como copy&paste para uma séria interminável de universidades que se criam como cogumelos e cursos de geração expontâneo (tipo.. comunicação social...)
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