(Nota: este post foi publicado a 17 Jun 2003 no blog http://soultosqueeze.diary-x.com/. Este era o meu blog individual que eu mantinha precisamente até ao dia em que fui para Amesterdão. De regresso fui convidado para o dias que voam e ainda bem! : ))) )
Insistir sempre muito, não dizer não, não ouvir não, ficar perplexo com não, exigir informações para além do que é sensato esperar de alguém, discutir e criticar subordinados que não decidem nem são responsáveis e ser excessivamente simpático com um director desconhecido, ser excessivamente simpático com as pessoas importantes, ser excessivamente simpático quando se aceitou um simples favor (pois aceitar um simples favor causa sempre uma sensação de fraqueza que é minorada com a simpatia excessiva), ser excessivamente bem educado (porque a boa educação supõe-se associada à riqueza e os verdadeiros hábitos de riqueza por de facto não existirem são arremedados pela boa educação excessiva).
Se se possui carro com comando à distância: ligar o carro a quinze metros de distância no preciso momento em que alguém passa por ele.
Se se possui namorada: deixá-la andar à frente a uma distância de 10 metros e aproximar-se rapidamente sempre que alguém lhe sorri.
Se se possui namorado: levá-lo a passear ao local de trabalho exibindo-o a toda a gente. Fazê-lo num dia em que haja mais tarefas a cumprir de forma a poder encontrar mais público.
Se se é homem: aparentar grande riqueza, grande experiência e grande conhecimento. Se outro homem gratuitamente se mostra interessado em conversar então desprezar este. A superioridade não se exprime através da exposição pública da eloquência e do conhecimento mas sim através da negação da comunicação: o homem português sente que tem poder quando pode desprezar um outro homem.
Se se é mulher: aparentar grande riqueza, proveniência de família importante há já muitos anos, exibir sensualidade intensamente. Se um homem se mostra interessado então desprezar este com a atitude de que a sensualidade não foi exposta conscientemente nem com propósito nenhum. A superioridade não se exprime através da aceitação do desejo dos outros mas sim através da frustração: a mulher portuguesa sente que tem poder quando pode frustrar um homem.
Se se é jovem: aparentar riqueza e não beleza, afectar proveniência de família importante e regrada ao mesmo tempo que se demonstra escancaradamente total desrespeito por quaisquer regras.
Ser português: abusar o mais possível dos outros e ainda mais do Estado, tolerar pequenos abusos dos outros. Não observar quaisquer regras, sobretudo se estiverem escritas. Confirmar oralmente tudo o que estiver escrito, sobretudo regras simples escritas em português simples. Não conhecer os próprios direitos e defendê-los só a posteriori.
Dizer mal de tudo o que é português, lembrando que no exterior é que tudo é bom. Ser optimista sem motivo, não fazer alterações, não fazer alterações sobretudo quando uma situação se modifica para pior.
Não sentir esperança não por falta de optimismo (embora sempre dizer mal e sempre lamentar tudo, sempre muito optimismo a propósito de tudo) mas sim porque cada momento presente é que interessa.
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