7 de janeiro de 2004

A música da alma

Ontem à noite (e na noite anterior) Sequeira Costa tocou Beethoven na Gulbenkian. Esta noite está a tocar no Porto, amanhã em Coimbra. Foi aluno de Vianna da Motta que, por sua vez, foi discípulo de Lizst. Fará, pelas minhas contas, 75 anos este ano. Durante hora e meia fez de um Steinway o que quis, com um ar de tranquilidade imperturbável, saltando de fortissimo para piano com a leveza e casualidade de um pestanejar, saindo instantaneamente de um turbilhão de som para o silêncio absoluto, rodando entre o lirismo mais completo e a violência mais intensa. Beethoven é, na verdade um compositor para pianistas muito duros. Sequeira Costa, com o imenso saber de mais de cinquenta anos de piano, fez parecer fácil o que é inacreditavelmente difícil – o meu filho disse-me no fim Pai, havia partes que tu és capaz de tocar! Pois.

Sequeira Costa está presentemente a gravar a integral das sonatas de Beethoven em Londres. Estejamos atentos. Os seres superiores devem ser apreciados em vida.

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