Nos últimos dias, concerteza por ter sido aniversário, li em alguns jornais e blogs, alusões a essa data.
Lembro-me perfeitamente do dia em que o Sá Carneiro morreu.
Nessa altura eu era ainda um miúdo, aí com 15 ou 16 anos, e tentava ligar pouco à política e muito aos copos. Se tinha preferências, estariam claramente mais à esquerda, mas considerava-me um independente, digamos. Tempos antes, e por curto período (felizmente), tinhamos tentamos formar qualquer coisa tipo “núcleo jovem do MRPP lá do sítio”... Meu Deus!
Ao contrário, a minha casa e família era um reduto de PêPêDês militantes, com aquela leve sensação de heróica resistência num Alentejo hostil. O aparecimento da AD tinha feito subir os ânimos, de modo que o fervor, por essas alturas, era quase religioso. Sá Carneiro era Deus na terra.
Nessa altura tinha uma cadela, a Violeta. Era uma rafeira, cruzada, pequenotinha, preta e banca... nada de especial, de facto, mas era a nossa Violeta. Nesse Inverno tinha ficado doente, com icterícia e, após muitas idas aos veterinários, a coisa parecia mesmo mal encaminhada. O diagnóstico era Leptospirose, coisa que só vim a saber o que era muitos anos mais tarde.
Numa noite de Dezembro, depois de jantar, olhou para nós com um olhar triste, ganiu e morreu calmamente. O meu pai andava na campanha, pelo que chamámos um amigo para irmos enterrar a cadela.
Quando já tinhamos descido as escadas, eu com a Violeta nos braços, começam a abrir-se as portas dos prédios e, em grande alvoroço, desatam a sair os vizinhos, transtornados, aos berros, : “Morreu!... Morreu!...”
Por momentos fiquei aparvalhado, sem me conseguir mexer, sem perceber a razão para toda aquela comoção. E não conseguia deixar de pensar: “Mas como é que eles sabem?...”
Pois é, nesse dia morreu a nossa cadela, a Violeta.
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