Sento-me à toa, num banco livre, sem olhar ao parceiro do lado. Ouço-o, mas não o vejo e penso, outro ao telemóvel. Discursa ininterruptamente, sinto uma certa piedade pelo interlocutor. " A crise, a troika, o Passos, os sindicatos a crise, eles escreveram na parede sobre a dívida, etc e tal".
Não estranho, toda a gente fala nisto, mas admira-me a ausência de pausas. Miro-o de soslaio e agora comenta a excentricidade dos penteados africanos, usados pelos jovens que atravessam a correr para a Nova. De telemóvel nada. O senhor nem precisa.
À volta tudo finge não reparar, contidos sorrisos e talvez compreensão. Talvez não, ela é visível.
Sai a correr do autocarro, tropeçando nas pessoas, continuando sempre a falar sem parar. Da janela vejo-o a flutuar quase pela rua fora.
Lembrei-me então da história do senhor Sommer. Talvez seja levado pelo vento.
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