29 de janeiro de 2011
Deolinda no Coliseu
Uma casa cheia de gente de todas as idades. Longe vão os tempos em que a área da plateia, livre de cadeiras, acolhia espectadores de pé a dançar ao som da música e – pasme-se – alguns de cigarro aceso… Os tempos são outros e salas repletas trazem aos músicos um merecido conforto. Concerto essencialmente composto de temas conhecidos pelos trabalhos editados em cd, é sempre uma festa ver este grupo ao vivo, mesmo sabendo que existem discordâncias por parte de alguns amigos com quem se fala sobre o assunto: encontrando-se o fado a aguardar a distinta menção de património mundial, não pode o mesmo ser impedido de seguir outros rumos ou de sofrer diversas influências, afinal não existe consenso quanto às suas raízes. Pensa-se que nada deve estagnar, merecendo revestir-se de novas cores, de novas sonoridades, de novos ritmos, de diferentes posturas em palco… O cenário é também um encanto para os olhos, que o «digam» as imagens criativas de João Fazenda: cordas de guitarra cujas notas são símbolos tão nossos, um gira-discos antigo, um Santo António a jogar à bola…
… E como protestar através das palavras cantadas já não é o que era – em nome da tal mudança a marcar o presente século – quase no final, o espantoso tema ainda não gravado «Parva que sou», do qual fica o texto a perdurar, qual preocupante alerta «que mundo tão parvo/ onde para ser escravo/ é preciso estudar»… Seguiu-se à sua apresentação um prolongado aplauso de pé por parte da jovem assistência: para determinada faixa etária, mais do que para gerações mais antigas, revestem-se as palavras de particular sentido.
Parva que sou
28 de janeiro de 2011
Coisas simples de Janeiro - I
No início do dia de trabalho, olhar o céu e ver dois arco-íris, coisa só observada em maior aparato a Sul do Equador... De saída, a surpresa de uma ruidosa queda de granizo. Já em casa, um relance ao almanaque que uma revista, em tentativa de evocar tempos idos, decidiu editar. Sobre o mês em curso, o provérbio «Janeiro quente traz o diabo no ventre», simples consolo verbal quando o frio já começa a cansar... E como as associações surgem a grande velocidade, chega ainda à memória um local poeticamente baptizado como «Travessa do luar de Janeiro».
27 de janeiro de 2011
jeune afrique
na passagem do final dos anos 60 para os 70's, existia uma revista que funcionava como a fonte de informação pública de muito do que acontecia em áfrica e, especialmente para os portugueses, do que se passava na guerra colonial.
entre muitas revistas lidas na sala do fundo na bertrand e outras onde calhava antes que a pide as apreendesse, muito do que sabia sobre áfrica naqueles tempos das guerras de libertação o soube através da jeune afrique.
os recentes acontecimentos no norte de áfrica, especialmente na tunísia (por sinal país de naturalidade do fundador da jeune afrique) e no egipto, fizeram-me lembrar aquela revista e a esperança que ao tempo se depositava na áfrica como renovadora de uma nova consciência mundial.
os tempos ensinaram-nos que a maior parte das vezes as esperanças são coisas a evitar, e no caso de áfrica mais ainda.
mas esta crescente revolta, feita a partir de reivindicações sociais básicas como o direito ao trabalho e à liberdade, fazem renascer alguma expectativa sobre um movimento renovador fora do eixo beato e fundamentalista que puxa ainda mais para trás cada um daqueles países.
não faço a mínima ideia como hoje se escreve na jeune afrique, mas fiquei com saudades da importância que ela teve para mim
Romance...ou talvez não!
Gosto desta fotonovela com a senhora cem por cento arrebicada e "velha" perdão idosa.
Revista Plateia, 1966
Nota: Engraçada a presença de Mena Vidal, muito novinha ainda.
26 de janeiro de 2011
25 de janeiro de 2011
A milhafre
A minha manteiga favorita,Milhafre, União das Cooperativas de Lacticínios Terceirense, Açores, Portugal.
Anuário de Turismo,1961
Anuário de Turismo,1961
Antes que o frio provoque estragos...
Antes que o frio destrua o pouco que resta, uma correria à horta… As laranjas são excelentes para sumo sem aditivos nem excessos de açúcar, os limões – mesmo sem grande aspecto – decerto melhores do que os das grandes superfícies comerciais, sujeitos a operações de estética, os coentros têm um aroma único, sendo tão apreciados cá pela moirama (apesar das origens nortenhas…), as nabiças e o alho francês destinados a sopas cem por cento biológicas, a saber verdadeiramente a legumes, as alfaces garantidamente crocantes… É que a palavra crise aguça o engenho e nada como aproveitar ao máximo os recursos trazidos pela natureza, com especial agradecimento ao zelador, já que os tempos não libertam muito para cuidados agrícolas, talvez um dia…
24 de janeiro de 2011
Air France
A Air France promovia assim a sua imagem. com alguns dos grandes nomes do cinema mundial. Identificais?
Clicar para ampliar.
23 de janeiro de 2011
Um par
E identificais este par inesperado e "romântico" de 1963?
Irene Cruz e António Calvário a contracenarem numa revista.
Irene Cruz e António Calvário a contracenarem numa revista.
22 de janeiro de 2011
21 de janeiro de 2011
Ver e Crer
a propósito das próximas eleições
alguém na rádio dizia há dias que estas eleições lhe faziam lembram a digressão de uma banda em final de carreira.
antes fosse.
para mim é mais uma banda de covers ranhosos em digressão pelos centros de dia para matinés dançantes.
o meu sentido de voto é conhecido: todos aqui sabem que votarei contra o cavaco
seja por quem for, desde que seja contra o cavaco.
há cinco anos lancei aqui uma campanha pela eleição do paulinho, o roupeiro do sporting, justificada pelo facto de ele ter todas as qualidades que imputam ao cavaco: é honesto, é bom no seu trabalho, subiu na vida a pulso, como se costuma dizer. se essas eram razões para se poder ser presidente, o paulinho estava em muito melhores condições.
mas se apenas com uma hecatombe um presidente não será reeleito, no caso do cavaco torna-se ainda mais difícil porque ele tem uma espécie de imunidade que ultrapassa o comum discernimento.
o que mais odeio no cavaco (sim, odeio mesmo essa parte) é o facto de ele ser o político em actividade há mais tempo em portugal e ter sempre aquela atitude de não ser um político nem ter nada a ver com eles.
alguém que foi ministro dois anos, primeiro ministro 10 anos e é apenas presidente há 5 anos porque foi derrotado da primeira vez que queria ser presidente e tem a lata de dizer que está acima dos políticos e dos partidos, só pode ser mesmo alguém sem o mínimo de respeito por aqueles que lhe dão de comer.
o homem há quase 30 anos que vive da política e do que ela lhe deu
faz lembrar aquele que cospe na mão que lhe entrega o prato da comida.
alguém que tem uma vida tão transparente como uma casa que não se lembra onde fez a escritura (nem como fez as obras sem licença), que não sabe quem são os seus vizinhos (numa espécie de condomínio do bpn), ou que só soube como as acções da sln através dos jornais e mesmo assim tem a suprema lata de afirmar que o comum dos mortais tem que nascer duas vezes para ser tão honesto como ele, faz-me sentir feliz por só ter nascido uma vez e muito contente por não ter o tipo de honestidade dele.
ou alguém que chamou (literalmente) malucos a outros candidatos, mas acha que ele é que é insultado quando duvidam da clareza dos seus negócios..
eu sei que o cavaco vai ser eleito.
não tenho a menor dúvida que será até por uma diferença bem maior que o mísero 1% das últimas eleições.
mas ainda assim irei votar contra ele.
não sei por quem, que isto de bandas de covers nunca me agradou.
mas votarei em alguém.
quanto ao resto, e porque os poderes dos presidentes são uma coisa próxima da nulidade, é-me indiferente porque ele, de facto, promulgou cerca de 99% dos diplomas do governo (antes essa média tivesse sido substancialmente menor...)
se ainda assim vale a pena ter um presidente?
claro que sim.
ao menos o presidente pode ser retirado com um voto... um rei só com um tiro na cabeça
20 de janeiro de 2011
19 de janeiro de 2011
Paradigmas...
(imagem: blogdocrato)
«Um racionalismo que ignora os seres, a subjectividade, a afectividade, a vida é irracional.»
Edgar Morin, Os sete saberes para a educação do futuro
Contava-me o meu pai sobre falhas nas declinações em latim… Pedia o professor a um solícito jovem «vai buscar a Mademoiselle Margaret Bross» - nome com que o austero mestre mimoseava a menina dos cinco olhos a fim de sancionar o lapso de juvenil erudição...
Ainda marcada por reguadas na escola primária quando remoía na tabuada, a imagem não surge assim tão distante no tempo.
O trauma das sevícias com inchaços e por vezes nódoas negras na palma da mão levou os teóricos (e muitos práticos) à tendência oposta, a de fazer crer durante algum tempo que tudo era lúdico… No estágio, os catarpácios chegavam a criticar a ancestral utilização do estrado em sala de aulas a fim de conferir ao mestre artificial estatura de destaque...
No apetecível papel de advogada do diabo, não se pende para qualquer das tendências sumariamente expostas.
Do outro lado da barricada e já sem estrado, muitos dissabores de início de carreira foram úteis à aprendizagem. Hoje é preciso dar muito para se conseguir o tal lugar ao sol que é como quem diz, a conquista de um confortável ambiente de autoridade. Só conseguindo cativar se chega ao que se situa a anos-luz do autoritarismo (oh, captain, my captain!).
Evocando um antigo professor de Geografia que – caso alguém se assoasse durante a apresentação de matéria – deitava faíscas com o olhar, respira-se de alívio por ter a primaveril febre dos fenos chegado unicamente na idade adulta.
E como a autoridade se conquista com muita afabilidade, por vezes chegam comentários no passado impensáveis. Surge a ideia ao ter ouvido, no final de uma aula do curso profissional, a explicação do conceito «efeito velcro» junto ao comentário de afinal ser a 'pfssora uma beca inculta'. Caso o desconheçam, não irei desenvolvê-lo por aqui, dado o mesmo se encontrar à altura de uma qualquer tirada ao jeito dos Monty Python e o dia se ter revestido de solenes acontecimentos junto da tutela… É que por muito que se tente pensar nas mudanças trazidas por este século e no diário de Sebastião da Gama ao referir que todos - mestre e discípulos - aprendemos uns com os outros, ainda há marcas geracionais que nos não largam… Mesmo quando após explanação do conceito (o tal do velcro) junto dos mais próximos , o nosso ar de espanto é surpreendido por colectivas gargalhadas…
18 de janeiro de 2011
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