20 de outubro de 2010
Dois (ou mais) dedos de conversa com a operadora de caixa...
(imagem: theage.com.au)
A operadora de caixa pega num amontoado de sacos para me arrumar as compras. Informo-a de que trago comigo uma grande bolsa reutilizável, atitude pouco comum no supermercado em questão, como tenho vindo a verificar.
Informação transmitida, responde-me animadamente (sem parar o seu eficiente trabalho), demonstrando contentamento por partilharmos um conceito: o de não entupirmos a casa e os contentores com os indesejáveis plásticos, mesmo quando designados como degradáveis. Desabafa que muitos clientes a criticam por tentar economizar, favorecendo o grande empresário responsável pelo local, reprimenda exercida quando tenta ajudar, arrumando os géneros de modo a aproveitar o espaço “ao milímetro”. De olhar sincero, garante-me que não é «a voz do dono», ou seja, nunca foi instruída pela entidade patronal para assim proceder… Acrescenta que, na pequena sala onde toma as refeições com os colegas, as paredes da divisão se encontram povoadas de cartazes a apelar à contribuição para melhoria do ambiente legendados com dados preocupantes associados a não menos sérias consequências... Acredito nesta simpática jovem e fico a pensar que ainda há muito a fazer. O espaço florestal da minha infância onde corria com amigos, colhia folhas de um loureiro gigante a pedido das cozinheiras domésticas e, mais tarde, passeava na cadeirinha o meu irmão mais novo, antes de se encontrar invadido por urbanizações selvagens foi, nos últimos anos, depósito de entulho de obras, de máquinas de lavar roupa, frigoríficos, fogões que conheceram melhores dias e tudo o mais que a imaginação mais criativa não conseguirá abarcar...
Há alguns anos, em saída quinzenal para gozo de férias, à porta do prédio onde então habitava (pasme-se que quase a impedir a saída), alguém tinha deixado uma gigantesca arca frigorífica sobre o passeio. Ao regressar dos verdes nortenhos, lá permanecia o mono (não confundível com qualquer escultura pós-moderna de linhas minimalistas)... Apreensiva, recordo ter avisado os respectivos serviços de remoção sem que, do outro lado da linha telefónica, me tivessem submetido a um interrogatório completo acerca dos meus dados pessoais, número de BI incluído … Fazem-nos falta muitos Fernandos Pessa- pensei na altura...
Post Scriptum: A minha amiga M foi pela primeira vez a Goa com o filho para que criança e avô se conhecessem. De regresso, confidenciou-me ser, no local, um saco de plástico considerado preciosidade - as compras nos mercados de rua vêm envoltas em folhas de jornal. O exemplo leva a pensar que objectividade e extremismo não são, a título pessoal, sinónimos.
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3 comentários:
Apesar de todas as semanas ir ao hiper, quando chego a casa consigo sempre ficar boquiaberta com a quantidade de lixo que trago de lá... sacos, caixas, embalagens, etc... muitas coisa desnecessária e que só afecta o ambiente!
Tenho referido em muitas conversas que só desde que há separação de lixos no meu bairro é que me apercebi (verdadeiramente?) da enorme quantidade de papel/cartão, e sobretudo de plásticos, que constituem os nossos desperdícios diários. Impressionante.
CMD
Pegando nos vossos comentários e em opiniões de pessoas vindas de outras latitudes, recordo o meu professor de Teoria Social. Há 2 anos, este argentino a leccionar na Califórnia e que vem periodicamente a Lisboa como docente, dizia-nos no intervalo de um seminário durante o café: «impressiona-me o facto de,nos bares desta instituição, só venderem garrafas de água mineral em embalagem plástica. As escolas deveriam ser as primeiras a dar o exemplo...». Dei comigo a falar com os meus botões, pensando que nunca tal ideia me tinha chegado antes ao pensamento...
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